Recentemente, ocorreram casos de violência e chacinas em escolas do Brasil, além de tantos outros casos de porte de objeto cortante por parte dos alunos e apologia ao nazismo. Para orientar famílias, educandários, professores e alunos, a reportagem da Folha do Mate conversou com especialistas a respeito do tema.
Para a Psicóloga e especialista em Terapias Cognitivas Comportamentais e em Intervenções em Saúde Coletiva, Roberta Moreira Hintz, é compreensível sentir medo em relação aos ataques ocorridos. “Porém, se render ao desespero não resolve o problema. O pânico é desagregador”, pontuou. A profissional salientou que é importante que os pais busquem informações e orientações oficiais, assim como medidas de segurança e prevenção que estão sendo tomadas. “Não acredite e compartilhe mensagens e vídeos ameaçadores, sem verificar a autenticidade. Na dúvida, encaminhe aos órgãos competentes”, enfatizou.
Ela ressaltou que é preciso pensar na saúde mental das crianças e adolescentes, de forma a não apavorar com excesso de informação ou pânico sobre o risco de ataques. A profissional considera que o diálogo precisa estar ajustado com a maturidade e idade dos filhos. “Como as notícias já circulam nas mídias e redes sociais, não adianta esconder, mas é preciso contextualizar, orientar e acolher. É preciso escutar os filhos e expor as soluções que já estão sendo tomadas e as medidas de prevenção”, disse.
Roberta sugere que, em vez de falar de violência, a família fale de valores. “Violência gera violência, e é preciso romper este ciclo. Vamos falar de valores, de empatia, amor, respeito, solidariedade, onde cada ser é único e deve ser respeitado nas suas particularidades”, afirmou. Além disso, ela salientou que os responsáveis precisam estar atentos as mudanças bruscas de comportamento na vida dos filhos. “Se os filhos têm acesso ao uso de tecnologia, redes sociais e jogos online é responsabilidade dos pais saber o que os filhos estão acessando. Há muita informação inapropriada para crianças e adolescentes. É a liberdade vigiada e esta situação deve ser esclarecida aos filhos”, observou.
De acordo com a profissional, que tem uma filha pré-adolescente de 11 anos, a relação de ambas é baseada no respeito e no diálogo. “Procuro participar da vida escolar dela, faço parte da Associação de Pais e Mestres (APM) e do Conselho de pais da escola que ela frequenta, conheço os amigos e os pais dos amigos dela”, comentou. Roberta ainda declarou que a filha possui acesso às mídias sociais, mas sob monitoramento. “É um desafio diário educar nos tempos de hoje, é agir com o coração e a razão”, acrescentou.
“Não se pode esquecer que limite é ato de amor”
ROBERTA MOREIRA HINTZ
Psicóloga
Escola e família
Para a professora e orientadora, Alice Theis, a escola e a família andam juntas no processo de educação e conscientização dos alunos e filhos, mas a fiscalização é dever dos responsáveis.
Ela explica que há dois tipos de violência. A interna, que é dividida em duas partes: a aleatória, com fatos esporádicos e que ultimamente tem se tornado frequentes e a violência sistemática não aleatória, que é o bullying. E a violência externa, que segundo a orientadora educacional, tem causas ruins que são muito poderosas e são voltadas ao discurso de ódio, intolerância e politização.
A profissional enfatiza no bullying, ressaltando que a família e a escola não podem minimizar os acontecimentos. “Deve-se ter uma ação imediata para quem pratica e para quem sofre fica um sentimento profundo que não é verbalizado e externalizado, podendo se tornar uma mágoa ou ódio que um dia vai explodir”, observa. Ela salienta que a ‘explosão’ de ações da criança ou adolescente que sofre o bullying é começar a fazer violência grave, a exemplo dos últimos acontecimentos do país. “O bullying é um problema da família, da escola e da sociedade”, afirma.
Ela ainda observa outras atitudes que podem ser agravadas, como a agressividade gerada por algum sofrimento do aluno, impunidade e desrespeito às diferenças. “Agressividade sempre é uma resposta a um estado de insatisfação. Criança ou adolescente feliz e equilibrado raramente é agressiva”, comenta. A orientadora ressaltou que as crianças e adolescentes precisam receber um olhar carinhoso para externarem o que está acontecendo. “Pais precisam dar amor, mas não pode ser o amor permissivo. Ele (amor permissivo) é catastrófico. Amor verdadeiro se faz arregaçando as mangas e educando”, salienta.
Como medidas efetivas para as escolas, Alice orienta a execução de projetos que abordem o respeito às diferenças, diversidade, enfatizar valores, boas práticas e empatia.
“A verdadeira segurança não vem de grades ou de armas, vem do porto seguro da criança, que é a família”
ALICE THEIS
Professora
“As redes sociais são problema”
“Professores e famílias varrem os problemas para baixo do tapete e ele se torna gigante. Redes sociais são benéficas, uma ferramenta extraordinária. Mas há um outro lado. Quando criaram a dinamite, foi para abrir estradas. Pouquíssimo tempo depois, foram usadas para explodir pessoas”, contextualizou. A orientadora garante que o uso da internet pode ser bem aproveitado dentro da sala de aula e também pode ter seus benefícios fora do contexto escolar, porém com limites.
“Uma situação doente que está acontecendo é os pais darem celular, ‘tablet’ e videogame sem ter o controle da quantidade de horas que o filho fica na rede”, observou a professora. Ela ressaltou que os adultos têm o dever moral e ético de acompanhar o que os filhos estão fazendo quando utilizam o celular ou outro meio eletrônico. “Adulto precisa dar limite. Nas escolas, as crianças clamam por atitudes limites, mas não dizem claramente, se expressam ‘batendo o pé’ e fazendo birra”, disse.
Alice orienta que os pais olhem a mochila dos filhos, estabeleçam o tempo na internet, façam o controle de horários e vejam o que os filhos estão fazendo e assistindo. “Em tempos difíceis, ações precisam ser mais duras e rápidas”, observa.
A professora e orientadora educacional disse que se preocupa com a violência externa, mas também se preocupa com o que deveria ser feito pela segurança das crianças, como, por exemplo, o controle do discurso de ódio. “Não podemos banalizar a violência. O anormal não pode ser normalizado”, ressalta.
“As ações precisam começar agora para que tenhamos uma realidade diferente no futuro”, disse Alice ao afirmar que tudo começa e termina na família e nas escolas. Ela também salienta que é necessário que os pais deixem que os filhos se frustrem. Além disso, a profissional salienta que é importante que a família valorize o estudo, a escola e os professores. “O conhecimento das escolas e dos docentes é fundamental para o desenvolvimento das crianças”, finaliza.
Reforço na segurança
Nesta semana, após pais usarem a tribuna da Câmara de Vereadores na segunda-feira, 10, para solicitar mais segurança nos educandários, alguns membros da casa legislativa de Venâncio Aires protocolaram moções e indicações a serem executadas nos educandários da Capital do Chimarrão.
• Moção de apelo n° 0028/2023- da vereadora Sandra Helena Wagner (PSB) endereçada ao prefeito Jarbas da Rosa e ao secretário Municipal de Educação, Emerson Elói Henrique, para que seja alterado o horário de acolhida dos estudantes da rede municipal, visando proporcionar maior segurança aos alunos e mais tranquilidade aos pais e professores.
Na justificativa a vereadora salienta que em algumas escolas, os portões, no turno da manhã, abrem às 7h25min, sendo que início das aulas ocorre às 7h30min. Assim como, no período da tarde, em que as aulas iniciam às 13h, mas os portões dos educandários são abertos apenas 15 minutos antes.
“Muitas crianças chegam bem antes destes horários, pois muitos pais e/ou responsáveis não tendo com quem deixar os filhos e precisando cumprir com seus horários de trabalho, acabam deixando as crianças em frente as escolas a mercê de sofrerem algum tipo de violência, ou até serem vítimas de algum acidente de trânsito”, esclarece a justificativa. A moção foi assinada por todos os vereadores.
• Indicação n° 0048/2023- do vereador Diego Wolschick (PTB) ao Poder Executivo para que seja realizado estudo de viabilidade para implantação do botão de pânico nas escolas municipais e conveniadas, por meio de aplicativo, como meio de incrementar a segurança das instituições.
• Indicação n° 0049/2023- do vereador Diego Wolschick (PTB) endereçada ao Poder Executivo para que seja determinada a obrigatoriedade do fechamento de portões em horário letivo das Escolas Municipais e que também se torne obrigatória a permanência efetiva e fixa de, pelo menos, um segurança em cada unidade escolar pública municipal durante o funcionamento do educandário.
• Indicação n° 0050/2023 – do vereador Gerson Ruppenthal (PDT) ao Poder Executivo para que seja realizado estudo de viabilidade para implantação de um aplicativo de telefones celulares a professores e funcionários de escolas e creches Municipais e conveniadas, de modo que possa incrementar a segurança das instituições.
• Indicação n° 0051/2023 – do vereador Renato Gollmann (PTB) ao Poder Executivo, indica o estudo de viabilidade para ter um responsável na entrada do portão das escolas, em quinze minutos antes do início de cada período iniciar, para maior segurança e tranquilidade.
• Indicação n° 0052/2023 – da vereadora Luciana Regina Scheibler (PDT) endereçada ao Poder Executivo, para que estude a possibilidade de implementar protocolo de segurança nas escolas, com destaque para ações de prevenção contra a violência e combate ao bullying; regulamentação para que os portões de acesso mantenham-se trancados, e treinamento de professores e servidores para situações de emergência.
• Indicação n° 0053/2023 – do vereador André Puthin (MDB) endereçada ao Poder Executivo, indicando a criação de um Programa ‘Escola Segura’, que torna necessário o uso de medidas e equipamento mínimos de segurança nos Estabelecimentos de Ensino no âmbito do município de Venâncio Aires.
Horas extras
O governador Eduardo Leite se reuniu, na quarta-feira, 12, com os secretários da Segurança Pública, Sandro Caron, e da Educação, Raquel Teixeira. Em pauta, a busca por medidas de reforço da proteção às instituições de ensino. A intenção é de garantir a segurança dos estudantes, professores e demais profissionais que atuam em estabelecimentos de ensino. Leite falou em um reforço de 1,7 mil policiais militares no patrulhamento durante os horários escolares.
Para isso, já que a defasagem no efetivo da Brigada Militar ultrapassa os 50% – atualmente a corporação tem cerca de 17 mil policiais militares, quando o ideal seria pouco mais de 37 mil -, o governador disse que irá liberar o trabalho em horas extras.
Assim, além da rotina diária, os policiais militares poderão optar por cumprir mais uma jornada, garantindo um ganho extra.
Outra opção é a utilização dos PMs da reserva. Em Venâncio Aires, a Patrulha Escolar é composta por policiais aposentados e que cumprem jornadas diárias de trabalho, patrulhando exclusivamente na área escolar.