Inaugurado em 29 de junho do ano passado, o Centro Dia Inácio José Assmann, no bairro Cidade Alta, pode ainda ser desconhecido para a maioria dos venâncio-airenses, mas para uma parcela dos idosos em situação de vulnerabilidade, já faz muita diferença. É lá que 16 deles atualmente passam uma parte significativa do dia, das 8h30min às 17h30min.
“Encontrei a minha segunda família. Aqui é amizade. A gente joga, pinta, tem a graça de ficar aqui. O paraíso da idade”, descreve R. V., de 74 anos. “Eu me sinto melhor aqui do que na minha própria casa. É uma família para mim”, enaltece D. S. L., de 70 anos. A mesma opinião é compartilhada por L. M. S., de 62 anos, a mais jovem da casa: “Estou aqui há mais de um ano. E eu fico brava porque não tem sábado nem domingo. Eu queria vir para cá todos os dias, até de noite”, afirma, sorridente. A identidade dos atendidos foi preservada.
O Centro Dia, de fato, já formou uma família. A rotina não é de uma casa geriátrica e lembra até um pouco mais uma escola. Todos os dias, uma van passa de casa em casa para buscar os atendidos, que só retornam no fim da tarde. A lista de atividades segue um modelo padrão, mas não fica fechada, garante a assistente social Juliana Abichequer Rheinheimer. Ela atua com outras quatro cuidadoras e uma profissional de serviços gerais, todos os dias.
“Como estamos lidando com adultos e não com crianças, não podemos obrigar ninguém a participar do que foi planejado, então eles ficam livres”, diz. As atividades incluem refeições, como café pela manhã, almoço e lanche da tarde, danças, jogos, atividades físicas, pinturas, horário da soneca, rodas de conversa e acompanhamento psicológico.
Além dos profissionais que estão por lá no dia a dia, a equipe conta com reforços pontuais. As atividades de dança, por exemplo, são coordenadas pela Escola de Balé Pontinha dos Pés. “É um momento importante, em que alguns conseguem se levantar, se mexer um pouco e fazer até alguns exercícios leves de alongamento”, detalha Juliana. Outra parceria importante é com o Serviço Social do Comércio (Sesc), que envia profissionais ao Centro Dia três vezes por semana para interagir com o grupo.
Redução de danos
“Aqui, a gente evita usar o termo ‘melhor idade’ para falar sobre a velhice. Essa ideia tem um viés mais comercial e não tão realista. Quando se lida com crianças e adolescentes, a curva da vida sempre vai gerando mais possibilidades. Já com os idosos, existe uma curva descendente muito clara, é o declínio natural da vida. Então, aqui nós seguimos uma lógica de redução de danos do processo de envelhecimento”, explica a assistente social.
Os desafios diários das cuidadoras são os mais diversos possíveis, indo das manias – fruto dos diferentes contextos sociais em que os idosos estão inseridos – até questões médicas que demandam maior atenção. Há aqueles que precisam passar mais tempo deitados, outros que não conseguem mais fazer as refeições sozinhos, às vezes com dificuldades, inclusive, de mastigar. Tudo precisa ser manejado para que a convivência seja a mais harmoniosa possível e que dali possam sair amizades.
Violação de direitos ou abandono
Como são situações de vulnerabilidade, todos os idosos assistidos são pessoas que passaram por violação de direitos ou abandono. Eles são encaminhados, em geral, pelo Centro de Referência de Assistência Social (Creas) ou pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras), serviços que já acompanham estes grupos familiares e que identificam a necessidade do encaminhamento para o Centro Dia.
Não há ficha de inscrição, mas uma lista de espera por novas vagas. A rotatividade, como conta Juliana Abichequer Rheinheimer, não é tão grande – há idosos que estão no Centro Dia desde a abertura do serviço. Os desligamentos podem acontecer especialmente quando há uma reorganização familiar, que passa a oferecer condições de acolher os mais velhos, ou então por uma solicitação dos familiares.
Nesse caso, a coordenação comunica o desligamento ao serviço que demandou a assistência ao idoso (Cras, Creas, Ministério Público, entre outros). Outro aspecto que também pauta as atividades de quem trabalha no Centro Dia é o contato com as famílias, que nem sempre é muito simples. A equipe tem autonomia para buscar os responsáveis quando entende ser necessário, seja pela identificação de alguma situação pela qual está passando em casa, como negligência ou, até mesmo, para informar mau comportamento na convivência com os demais.
Os benefícios de um lugar como esse, no entanto, não se resumem apenas aos mais velhos. Como se tratam de grupos familiares em vulnerabilidade, ter um idoso que depende de supervisão, em muitos casos, constante, tê-lo em um ambiente como o Centro Dia acaba representando também um alívio na rotina diária. “Esse serviço representa um grande apoio para as famílias, que muitas vezes não têm com quem deixar seus idosos durante o dia. Saber que eles estão em um ambiente seguro e acompanhados por profissionais faz toda a diferença na qualidade de vida de todos”, exalta a secretária de Habitação e Desenvolvimento Social, Camilla Capelão.