O que a igreja de Linha Marechal Floriano guardou por 93 anos

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Foi no dia 25 de junho de 2022 que a Comunidade Evangélica de Linha Marechal Floriano viveu um momento emocionante e, literalmente, voltou no tempo. Naquele dia, foi aberta uma pedra entalhada na fachada da Igreja Evangélica Luterana, onde estava a data da provável inauguração dela – 1º de maio de 1929.

Durante 93 anos, os moradores tinham apenas pistas de que poderia ter algo guardado e registros disso estão nos livros ata do templo. Mas, como estes documentos também estão incompletos (não há nada antes de 1949), era arriscado afirmar. Fato é que, uma pequena caixa de metal (um pouco mais alta que uma caixa de bombons) repousou dentro da parede por mais de nove décadas, guardando a ata daquele dia, quatro jornais impressos em alemão, fotos, sete moedas e uma pequena caixinha de papelão, onde havia uma folha de caderno dobrada e que acabou se desfazendo na tentativa de manuseá-la.

Sobre essa peça, que infelizmente se perdeu, a suspeita é de que seria um poema lido por Hilda Bencke, na época uma jovem com cerca de 23 anos, e que viria a ser uma das mais longevas da localidade – faleceu em 2008, aos 102 anos. Durante décadas, ela contou esse fato aos familiares. Quanto à ata, datada de 1º de maio de 1929, tem seis páginas e foi escrita totalmente em alemão, assinada por Adolf Kaden, que era professor. O trabalho de tradução está a cargo do professor de Português e Alemão, Altair Bender.

No manuscrito, é possível identificar uma relação de nomes, provavelmente os então membros da comunidade evangélica. Entre os sobrenomes, muitos Peiter, Brandenburg, Arnemann e Bencke, descendentes de Karl Bencke, filho do imigrante Christian Henrich Bencke, que chegou à região em 1860. É por causa dele, aliás, que durante muito tempo Marechal Floriano era conhecida como ‘Grüner Jäger’, que, traduzido do alemão, quer dizer ‘caçador verde’. A referência é porque o imigrante Bencke seria soldado na Europa e costumava usar vestes militares, andando camuflado entre os matos ainda fechados.

Pastor Menzel

Dentro da caixa também há duas fotos de pastores (as vestes identificam bem). Atrás da menor delas, foi possível ler ‘Pastor Paul Menzel’ e a data de 16 de abril de 1923. Trata-se de Karl Herrmann Paul Menzel, que atuou na Comunidade Evangélica de Venâncio Aires entre 1903 e 1925. Pastor Menzel também dá nome à travessa entre a atual igreja do Centro e a Praça Henrique Bender, conhecida como Praça Evangélica.

Jornais em alemão

Na caixa de metal, também foram dobrados quatro jornais, todos publicados em abril de 1929 e editados em alemão. Não há muitas referências sobre eles na internet, apenas algumas informações no Portal Luteranos e no GZH Almanaque.

O maior deles, no formato standard, é o católico Deutsches Volksblatt, fundado em São Leopoldo, em 1871. Foi fechado em 1939, durante a campanha de nacionalização do então presidente Getúlio Vargas, no início da Segunda Guerra Mundial.

Também havia um exemplar do evangélico Neue Deutsche Zeitung, que defendia a integração do colono alemão com a pátria brasileira. Escrito a lápis, na capa, o nome de Hermann Meurer, provavelmente a pessoa que tinha assinatura. O nome de Meurer também está na ata.

A representação regional da imprensa da época também ficou guardada com um exemplar do jornal Kolonie, editado em Santa Cruz do Sul e extinto em 1941, durante a Segunda Guerra. Havia, ainda, uma edição do jornal evangélico Riograndenser Sonntagsblatt, editado pelo sínodo luterano.

Moedas

• Dinheiro da época também estava dentro da igreja. As cédulas se desfizeram, mas estavam intactas duas moedas douradas e cinco prateadas. Uma delas, que valia 300 réis, é comemorativa ao centenário da Independência do Brasil (1822-1922).

Uma nova caixa para o futuro

Em janeiro de 2023, será realizada a assembleia da comunidade, onde haverá eleição da nova diretoria. Segundo o atual presidente, Jairo Bencke, será aproveitada a oportunidade para formar uma nova cápsula do tempo.

Ele adianta que devem ser guardados exemplares do jornal Folha do Mate (das edições que falaram sobre a igreja e sobre a festa de 150 anos da localidade), algumas moedas de Real, a letra do hino composto em 2012 pelo músico Elemar Müller, já falecido, e um poema de autoria de Caroline Simon, princesa da festa dos 150 anos. “Vamos colocar tudo novamente naquele espaço dentro da parede, fechar a pedra e deixar de sugestão para que se abra daqui a 100 anos”, revelou Bencke.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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