Construído na década de 1950, especificamente para sediar uma agência bancária, o prédio localizado na esquina da Osvaldo Aranha com a Barão do Triunfo, no momento, se encontra inativo. Pelo menos no primeiro piso, já que o andar superior tem dois apartamentos ocupados por seus respectivos proprietários. Desde a saída definitiva do Santander, no dia 8, fica a pergunta no ar: que tipo de negócio será instalado no local que abrigou somente instituições bancárias por quase sete décadas?
Conforme memorial descritivo de 24 de novembro de 1958, do antigo cadastro de imóveis da Prefeitura de Venâncio Aires, o prédio de 868 metros quadrados, distribuídos em dois pisos, mais um mezanino de 113,26 metros quadrados no térreo, foi erguido em terreno de 616 metros quadrados pelo Banco Nacional do Comércio (Banmercio). O projeto foi assinado pela Lux & Kothe Ltda, empresa de Santa Cruz do Sul, que anos antes concluiu as torres da Igreja São Sebastião Mártir, sob denominação Lux, Goldmann & Kothe Ltda.
Hoje, o térreo pertence a um morador de Minas Gerais, que o alugava para o Santander. Essa região do Centro de Venâncio, que inclui a quadra do Museu (Edifício Storck), é a mais valorizada do município. O metro quadrado custa R$ 1.652,89, a partir da atualização da planta de valores imobiliários, em 2014, e das correções aplicadas anualmente – sobre o IGP-M e, depois, o IPCA. E o aluguel pode ultrapassar facilmente os R$ 20 mil, conforme o tamanho do imóvel.
O bancário aposentado Itor da Rosa, que foi radialista e secretário municipal de Turismo, Esporte e Lazer e da Indústria e Comércio, trabalhou no prédio por cerca de 12 anos. À época, abrigava o Banco Sul Brasileiro S/A, que surgiu da fusão do Banmercio com o Banco Industrial e Comercial do Sul S/A (Sulbanco) e o Banco da Província do Rio Grande do Sul S/A (Província), em 1972. Iniciou no ramo aos 16 anos, por volta de 1957, como estafeta do Sulbanco, que tinha agência na esquina da Osvaldo Aranha com a Reynaldo Schmaedecke, atual Biblioteca Pública Caá Yari.
Na década de 1950, além do Banmercio, que teve a primeira agência na rua principal, mas próximo à Igreja São Sebastião Mártir e ao antigo Café Central, e do Sulbanco, havia outras instituições bancárias na cidade. Rosa cita o Banco Agrícola, que mantinha agência no Edifício Storck (hoje Museu de Venâncio Aires), e o Banco Rural, que atendia na esquina da Osvaldo Aranha com a 7 de Setembro, prédio que hoje abriga um escritório de contabilidade.
Puxando pela memória
Quando Itor da Rosa ingressou no Sulbanco como estafeta, aos 16 anos, a convite do gerente João Staub (pai do ex-deputado estadual Luis Fernando Staub), o novo prédio do Banmercio estava sendo concluído. A imponente agência foi inaugurada em 1958. “Era uma das mais chiques. Só no mezanino, trabalhavam mais de 15 pessoas”, recorda.
Ao fim dos anos de 1960, casado com a professora Sara da Rosa, Itor acompanhou parte do processo que resultou na fusão das duas instituições, mais o Banco da Província, no município. Conta que, durante inspeções administrativas e financeiras, que prolongavam os expedientes na agência onde trabalhava, surgiu a oportunidade de ser promovido a caixa. E ali ficou por oito anos.
Em 1972, concluída a fusão dos três bancos, e devidamente instalado no suntuoso edifício como funcionário do Sul Brasileiro, Rosa foi promovido a gerente de Negócios, com aval do gerente da época, José Dirceu Sulzbach. Mas, a próxima promoção, à gerência, levou Rosa a atuar fora do município. Escolheu Osório, no Litoral Norte, onde permaneceu até a primeira metade da década de 1980, quando foi transferido para Santa Cruz do Sul, para comandar a maior agência do Sul Brasileiro no interior do estado. Até que, em 1985, abalada por problemas de liquidez, a instituição sofreu intervenção do Banco Central, sendo substituída pelo Banco Meridional do Brasil S/A. Para o venâncio-airense, foi uma surpresa. “Aconteceu de uma hora para outra”. Itor da Rosa ainda gerenciou o Meridional, em Santa Cruz do Sul, por mais um ano, mas logo solicitou sua transferência de volta a Venâncio Aires para, em seguida, se aposentar.
Imóvel, lamento e dúvidas
Jorge Evaristo, que chegou a trabalhar no antigo Sul Brasileiro, veio de Camaquã a Venâncio Aires, para gerenciar o antigo Meridional, entre 1997 e 2000. Aposentado, é proprietário e morador de um dos apartamentos do prédio histórico.
Evaristo lembra que, em 1998, o edifício foi vendido pelo banco a um empresário de Santa Maria. Quando novamente colocou à venda, deu preferência a ele e a outro gerente, que acabaram fechando negócio. “Tivemos, inclusive, que desmembrar o imóvel”, observa. O térreo foi colocado a leilão, sendo arrematado pelo atual proprietário, morador de Minas Gerais, que alugou para o Banco Santander até o dia 8.
Nesta semana, equipe de uma empresa, a serviço do Santander, esteve no local para pintar, retirar o que ainda havia no seu interior e, na sequência, ser vistoriado e entregue ao proprietário. Quanto aos móveis, parte foi doada a funcionários e parte destinada à Secretaria de Cultura e Esportes e ao Almoxarifado da Prefeitura. Ficaram apenas as divisórias.
Itor da Rosa lamentou o fechamento da agência do Santander. Também questionou a falta de mobilização da comunidade, a partir de suas lideranças. Em função da automatização dos serviços bancários, não acredita que outra instituição do ramo ocupe o térreo do prédio histórico. Pelo contrário, alerta para a possibilidade de outros bancos tomarem o mesmo caminho: regionalizar ou terminar com o atendimento presencial no município, especialmente os privados.
Hoje, para serviços que o celular não permite fazer, como sacar valores em dinheiro, o ex-gerente precisa se dirigir aos caixas eletrônicos instalados no Supermercados Imec ou no Crefisul. Se necessitar de atendimento presencial, terá que se deslocar à agência de Santa Cruz do Sul.
Os bancos que ocuparam o prédio histórico
- Banmercio: À exceção do site Wikipédia, na internet é difícil localizar a história do Banco Nacional do Comércio (Banmércio). Seria a segunda instituição bancária comercial criada no Rio Grande do Sul. Iniciou atividades em 1895, sob a denominação Banco do Comércio.
- Sul-Brasileiro: Fundado em 1972, da fusão do Banmercio com o Banco da Província do Rio Grande do Sul (Provincia) e o Banco Industrial e Comercial do Sul (Sulbanco). Conforme o site Arquivo Histórico do Sindbancários, o grupo chegou a possuir 378 agências e 20 mil empregados no Rio Grande do Sul. Em 1985, sofreu intervenção do Banco Central do Brasil por problemas de liquidez e foi substituído pelo Banco Meridional do Brasil.
- Meridional: Em abril de 1985, o Governo Federal anunciou projeto de reerguimento dos bancos Sulbrasileiro/Habitasul. Surgiu, então, o Banco Meridional do Brasil, com o slogan ‘Com a força da União’. Depois de duas tentativas de privatizar a instituição, em 1997 foi vendido por R$ 265,66 milhões ao grupo Bozano-Simonsen.
- Santander: Em 2000, o Banco Santander comprou os bancos Meridional e Bozano-Simonsen pelo valor de R$ 1,5 bilhão. Por um período, passou-se a chamar Banco Santander Meridional S/A, até 2007, quando a marca foi reformulada.