A criação da primeira e única Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) em Venâncio Aires completa 16 anos em 2025. Denominada Ronco do Bugio, a área de preservação foi criada em 2009, em Linha Hansel, por iniciativa de Cátia Rosana Hansel, oceanóloga, educadora ambiental especialista em Arteterapia e uma das herdeiras da propriedade rural.
Transformar 23,06 hectares – de 134,5 hectares – em área de preservação ambiental foi um desafio que mobilizou a família de Cátia e diversos profissionais, em um estudo completo do local. O pai, Ruy Augusto, e a mãe, Maria Ivone Hansel, logo apoiaram a ideia. Ele faleceu em junho do ano passado. Ela permanece vivendo próximo a esse legado permanente de conservação do meio ambiente, que tem a missão de proteger uma pequena parte da Mata Atlântida.
A iniciativa de criar a unidade de conservação em Linha Hansel foi de Cátia. Quando cursava Oceanologia em Rio Grande, ficou sabendo de uma política do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), de criar as RPPNs como estratégia para proteger a fauna e a flora brasileiras.
Mesmo os pais argumentando que havia essa consciência de preservação em casa, ela conseguiu não só convencê-los, mas assegurá-los sobre a importância de formalizar a unidade de conservação, de maneira a resguardar o ecossistema daquela região, para sempre. “Tanto que tiveram que fazer o procedimento em nome deles, donos da propriedade. E, muitas vezes, meu pai recebia estudantes da Unisc [Universidade de Santa Cruz do Sul] em aulas práticas e pesquisas. Foi assim que me apoiaram.”
Superada essa etapa, Cátia deu início aos procedimento em meados de 2003. Informou-se sobre a legislação e reuniu documentação necessária. Só que, no período, as regras de criação das RPPNs mudaram e seu processo, que não tinha mapa do georreferenciamento, retornou com essa exigência. A família teve de contratar serviço topográfico. Então, a ambientalista tomou conhecimento de um programa da Fundação SOS Mata Atlântica para subsidiar o levantamento da área. “Submeti um projeto e foi selecionado. Aí, consegui fazer o mapa georreferenciado e fazer o procedimento formal junto ao Ibama.”
Primeira e única RPPN de Venâncio Aires
A portaria de criação da reserva Ronco do Bugio foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 12 de fevereiro de 2009. Para Cátia, o principal motivo de seu projeto ter sido contemplado é o fato de Venâncio Aires ter 90% do seu território dentro da Mata Atlântica. E, o mais interessante, segundo ela, é esse ecossistema integrar uma área de transição para o bioma do Pampa.
Anos depois, a RPPN foi contemplado novamente com recursos federais, para elaboração do plano de manejo, que deu início a uma nova etapa do projeto: o estudo de gestão da unidade de conservação. Em 2013, diversos profissionais, entre os quais biólogos, engenheiro florestal e químico (irmão de Cátia, Fabrício Hansel, que é doutor em Química Analítica e pesquisador da Embrapa Floresta), buscaram, nos 23 hectares de mata, informações sobre a vida animal e vegetal, a caracterização socioambiental do entorno e a qualidade dos arroios. “O trabalho foi executado como base de referência, porque Venâncio Aires não tinha, até o momento, levantamento da fauna e da flora”, explica Cátia Hansel.
Além da Fundação SOS Mata Atlântica, o plano de manejo também contou com apoio da Secretaria de Meio Ambiente de Venâncio Aires e do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema), que aprovou recursos do Fundo Municipal de Meio Ambiente na elaboração do plano de manejo.
Onde roncam os bugios
A Reserva Particular do Patrimônio Natural Ronco do Bugio integra uma ponta da propriedade da família Hansel, em Linha Hansel, onde se encontram os arroios Bem Feita e Taquari Mirim. Também é um fragmento de floresta que abriga o animal que dá nome ao local. “Na região é bem característico os bugios roncarem. E sempre teve isso, desde criança, de ouvir eles”, observa a idealizado da reserva, Cátia Hansel.
A bióloga lembra do pai falando sobre o som do animal quando se referia à propriedade. “Esse nome veio por isso.” Ela observa o fato de a reserva preservar essa espécie ameaçada de extinção, entre tanto outros animais e vegetais identificados na área de preservação.
Dezesseis anos depois de sua criação, a RPPN cumpre sua missão: de zelar pelo ecossistema local, mantendo um fragmento de floresta, que serve de refúgio da vida silvestre e protege a fauna, a flora e parte do arroio Taquari Mirim, que é um dos principais afluentes do rio Taquari.
Espécies animais e vegetais registrados na reserva
- Peixes: 7
- Anfíbios (anuros): 17
- Répteis: 4
- Aves: 112
- Mamíferos: 16
- Animais ameaçados de extinção: bugio ruivo, lontra, gato maracajá e paca
- Levantamento florístico: 74 espécies, de 30 famílias botânicas