O mês de dezembro costuma ser um período em que os olhares se voltam para a prevenção ao HIV, vírus que causa a Aids. A campanha, conhecida como Dezembro Vermelho, teve ação também em Venâncio Aires. No último sábado, dia 2, ocorreu a 5ª edição da Feira de Saúde promovida pela Associação Médica de Venâncio Aires (Amva). Na oportunidade, foram realizados testes rápidos para detecção de sífilis, HIV e hepatite B e C.
Conforme a coordenadora do Centro de Atendimento de Doenças Infecciosas (Cadi) do município, a enfermeira Solange Sehn, foram realizados cerca de 200 testes totais, 50 para cada um dos quatro. O número é consideravelmente menor do que nas primeiras edições, no entanto, como explicou a profissional, entrevistada no programa Terra em Uma Hora, da Terra FM 105.1, na terça-feira, 5, a principal razão é a comunidade ter começado a procurar testes por conta própria diretamente nas Unidades Básicas de Saúde. Em 2023, foram 15 novos casos, quatro a menos do que o registrado no ano passado, de acordo com dados do Setor de Vigilância Epidemiológica de Venâncio Aires.
No entanto, a avaliação não é tão boa. Embora os casos não estejam aumentando tanto, há ainda muito preconceito com as doenças sexualmente transmissíveis. “Em matéria de preconceito, eu vou dizer que evoluiu muito pouco. É difícil. Por que as pessoas não têm vergonha de dizer que têm outras doenças, como hepatite B? Que também uma doença crônica, que aparentemente não tem cura, tem que fazer tratamento a vida toda. Por que o HIV é assim?”, questionou.
Tratamento evoluiu
Se antigamente a medicação para diagnosticados com HIV era chamada de coquetel – por conta da alta quantidade de remédios a serem tomados, hoje em dia o tratamento é muito mais simples, como lembra Solange. “A cada ano as pessoas têm a opção da medicação mais específica, não é mais tanta medicação. Se a pessoa toma a medicação certinha, ela fica indetectável e não vai transmitir”, disse. Atualmente, são apenas dois comprimidos por dia e, de dois a três meses, a carga viral já fica tão baixa que o vírus deixa de ser transmitido e a Aids não desenvolve.
Ainda assim, é importante manter o tratamento. Mesmo com pouco vírus no organismo, se houver interrupção, ele pode voltar a se expandir e gerar uma série de problemas à saúde do infectado.
Além disso, há a PEP, que é a Profilaxia Pós-Exposição sexual, caso tenha uma relação sexual sem uso de preservativo. “A pessoa pode procurar o hospital para receber o primeiro atendimento e tomar o antirretroviral naquele mês”, explica. Em algumas cidades, existe a PrEP sexual, que seria um tratamento preventivo. Segundo a coordenadora, há muita procura em Venâncio e, por isso, é de interesse do Cadi a aquisição destes.
Sífilis tem aumentado
Embora haja cura, Solange Sehn alerta a população para o crescimento da sífilis. Na entrevista, lembra que se a doença for ignorada, pode avançar fases a ponto de se tornar neurossífilis, quando atinge o cérebro e ter consequências graves. Neste ano, já foram 155 novos casos, segundo o Setor de Vigilância Epidemiológica.
“Quanto mais preconceito, mais as pessoas têm receio de vir fazer o tratamento, de ser visto ali. Preconceito mata, preconceito vai te impedir de ter uma vida normal. Às vezes está na pessoa contaminada, ela tem vergonha e acaba não assumindo o tratamento certinho.”
Solange Sehn
Coordenadora do Centro de Atendimento de Doenças Infecciosas