Foi enquanto lia ‘A Terra Inabitável’, livro do jornalista estadunidense David Wallace-Wells, que, em 2019, o professor do curso de Direito na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), João Pedro Schmidt, teve a ideia de escrever uma obra de sua autoria. Lançada no fim do mês passado, ‘Mudanças climáticas: por que o mais grave problema da humanidade não se tornou o problema político nº 1?’ promove uma discussão sobre o papel das lideranças políticas no combate às mudanças climáticas.
“Foi em um momento em que eu estava estudando mais sobre a questão do clima, mas não tinha uma leitura sistemática. Esse livro me apresentou um cenário muito grave, e eu me questionava se não estava sendo muito pessimista ou se estava perdendo coisas que não estava acompanhando. Então, comecei a procurar mais sobre o tema, ler autoridades do assunto, como o professor Carlos Nobre, que é a principal referência nacional, e percebi que o livro realmente não estava exagerando”, lembra.
No entanto, à medida que sua pesquisa avançava, mais Schmidt se dava conta de que o problema tem relação direta com as políticas públicas. Doutor em Ciência Política, o professor percebeu que o tema era praticamente ignorado pelos especialistas da área. “Então eu pensei: ‘mas se esse assunto é tão grave, por que estamos discutindo tão pouco?’”, conta. Daí a ideia de jogar luz à discussão climática, mas com o viés político.
Como explica Schmidt, os alertas climáticos ganharam força a partir da década de 1970, ou seja, há cerca de 50 anos, quando o planeta passou por um grande crescimento, com cada vez mais consumo. Entretanto, a emissão de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono, gás metano e óxido nitroso, já vem chamando a atenção de especialistas desde o século XIX, com a Revolução Industrial, na Inglaterra. Ainda neste contexto, a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1992, promoveu a Rio 92, uma importante conferência sobre meio ambiente que reuniu autoridades mundiais no Rio de Janeiro. Porém, de acordo com o professor, nenhum alerta foi suficiente para promover as alterações necessárias.
A razão para isso, continua João Pedro Schmidt, tem a ver necessariamente com políticas públicas adotadas e com uma pressão do setor petrolífero: “O assunto começou a ser discutido com força há 30 anos, mas a sociedade não tem clareza sobre isso, porque os governos não foram capazes de fazer a sua parte. Também houve um boicote organizado, especialmente por empresas do setor petrolífero, para evitar que sociedade se conscientizasse isso.”
“Se você quiser enfrentar o aquecimento global, tem que pensar sistemicamente em como reduzir as emissões.”
JOÃO PEDRO SCHMIDT
Professor da Unisc e autor do livro ‘Mudanças climáticas: por que o mais grave problema da Humanidade não se tornou o problema político nº 1?’
Soluções
Não há caminho fácil, segundo Schmidt. Para ele, a solução passa pela mão dos próprios políticos. “Há soluções políticas ou não há solução. O que produziu a crise foram políticas públicas e são elas que podem nos salvar”, afirma. No entanto, o autor é enfático ao afirmar que as respostas precisam ser globais, uma vez que os reflexos atingem todo o planeta.
Ainda assim, o professor defende que não há mais espaço para lideranças se isentarem da responsabilidade, mesmo as locais, como prefeitos e vereadores. “O que está no alcance de lideranças políticas locais é ajudar a comunidade, as empresas, as escolas e as igrejas a entenderem a gravidade do problema. As pessoas precisam ter noção que o nosso de vida consumista precisa ser superado.”
Entre as mudanças, João Pedro Schmidt cita a substituição do petróleo por fonte de energia limpa, as alternativas às embalagens descartáveis e o fim do desmatamento de áreas verdes. “Nós temos que preservar o que condiz com a agenda climática, como energia limpa. A ecologia não é mais uma opção entre outras, ela é a única opção”, afirma.
Enchentes
- Para João Pedro Schmidt, o lançamento de ‘Mudanças climáticas: por que o mais grave problema da Humanidade não se tornou o problema político nº 1?’ no contexto das grandes enchentes no Rio Grande do Sul foi uma coincidência.
- Aliás, o seu propósito, segundo o autor, nem é propor uma solução às enchentes por si só, mas, sim, analisar falar sobre o contexto global. “As enchentes são uma pequena evidência. Pequena porque no planeta hoje nós temos enchentes, furacões, queimadas, degelos. São muitos fatos que evidenciam o aquecimento global.”