Quem for até a Unidade Básica de Saúde (UBS) de Centro Linha Brasil à procura de atendimento médico vai ser recebido por uma médica com um sotaque um pouco diferente, ‘puxado’ para o espanhol. Prestativa e sem dispensar o contato com o paciente, Dayana Navarro Ramirez, 40 anos, está na localidade desde setembro de 2023.
Formada desde 2007 em Medicina, pela Universidade da Havana, de Cuba, ela é natural de Pinar del Río, município cubano. A especialista com mestrado em Medicina da Família explica que chegou a dar aulas em universidades de Cuba para o curso de Enfermagem, quando foi chamada para uma missão na Venezuela, onde permaneceu de 2009 até 2013. No mesmo ano, o governo brasileiro lançou o programa Mias Médicos e Dayana se candidatou. Em setembro de 2013, veio para o Brasil, quando fez cursos de português e, em um segundo momento, se preparou conhecendo a geografia e a cultura do país.
O primeiro mês de trabalho foi no município de Guarapari, no Espírito Santo. Depois foi remanejada para o Sul e trabalhou cinco anos, de 2013 a 2018, em Herval. Em 2020 passou a atuar em Passo do Sobrado e, em 2023, quando recebeu a cidadania brasileira – por estar há 10 anos no país -, surgiu a vaga de trabalho em Venâncio Aires. Atuou nas UBS dos bairros Coronel Brito e Gressler, mas onde se estabeleceu foi na UBS de Centro Linha Brasil.
Acolhimento
Segundo a médica, trabalhar no interior é uma bênção, pois está no objetivo do programa a intenção de levar os profissionais para atendimento aos que mais precisam, em áreas distantes. Com apoio do técnico de enfermagem Clênio Strassburger, ela afirma que o atendimento aos pacientes de Venâncio Aires funciona bem, mesmo com o sotaque espanhol. “A gente se entende. Falo devagar para os pacientes entenderem o meu português e os que falam o alemão geralmente já vêm com um acompanhante que fala o português”, explica.
A intenção da médica é seguir trabalhando na unidade do interior. Porém, precisa contar com a renovação do contrato do programa, que é feito a cada quatro anos. “Agradeço aos pacientes, pois sou bem acolhida. Essa receptividade, estar aqui e ter pacientes por perto, não tem preço”, reconhece. A médica conta que levava seu almoço para esquentar em um micro-ondas na unidade de saúde, no entanto, quando os moradores souberam, se organizaram em uma espécie de rodízio e, agora, ela almoça a cada dia em uma residência.
“Vejo os pacientes da localidade como integrantes da minha família. Sempre me dizem: Deus te mandou para cuidar de nós.”
DAYANA NAVARRO RAMIREZ
Médica cubana
A escolha por Venâncio
- Quando trabalhou em Herval, Dayana conheceu o esposo, Rodrigo Fett, um venâncio-airense. Se casaram em Venâncio Aires, na Igreja Matriz, e têm uma filha de 4 anos, Elisa Helena, que nasceu no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). A família mora na Capital do Chimarrão e a vaga em Venâncio Aires foi muito aguardada por Dayana, que hoje está realizada por conseguir trabalhar no município que escolheu para ficar.
Médica cubana na UBS Battisti
Além de Dayana, outra cubana que atua como médica clínica geral na rede de atenção primária é Elizabeth Moreira Caignet, 33 anos. Natural de Santiago de Cuba, ela atende desde junho de 2023 na Unidade Básica de Saúde (UBS) Battisti. É formada pela Universidade Ciências Médicas de Santiago de Cuba.
Elizabeth explica que, ao ingressar no Mais Médicos e vir para o Brasil, em 2017, atendeu no estado do Espírito Santo e no município de Maçambará (RS). Após, chegou a atuar em uma rede privada em Alegrete e retornou ao programa quando surgiu a vaga para Venâncio Aires. A escolha pelo município se deu por ser próximo de Lajeado, onde o marido trabalha. Hoje, ela mora com a família – tem uma filha de 11 anos – em Venâncio aires.
“É bom trabalhar aqui. Já estou habituada, por também já ter atuado em áreas periféricas. Fui bem recebida pela equipe quando cheguei e vejo que onde atuo é uma área de bastante carência”, destaca. Uma das surpresas de Elizabeth ao chegar em Venâncio Aires foi encontrar outros imigrantes no município. Ela trabalha todos os dias na unidade de saúde e, nas sextas à tarde, estuda para capacitação e especialização, uma das exigências do programa aos médicos inscritos.
Primeira experiência da brasileira formada no Paraguai
No interior de Venâncio Aires, na Unidade Básica de Saúde (UBS) de Vila Arlindo, Indara Silva Catão, 42 anos, é uma das médicas responsáveis por atender a comunidade. Ela é brasileira, natural de Rio Branco, no Acre. No entanto, se formou em Medicina no Paraguai, pela Universidade Privada del Este. Em 2023, se inscreveu no programa mais Médicos, quando surgiu a possibilidade para médicos brasileiros formados no exterior. Indara passou pela revalidação do diploma e foi aprovada para atuar na Capital Nacional do Chimarrão, sendo esta a sua primeira experiência profissional na área.
A vinda da médica é recente. Ocorreu no meio do mês de abril e, neste momento, a família ainda está em fase de adaptação à nova rotina. Antes, moraram – ela e os dois filhos – por sete anos em Foz do Iguaçu. “A experiência tem sido boa aqui, é uma cidade tranquila”, afirma a médica, que também realiza atendimentos em Linha Tangerinas e, por vezes, acompanha a Unidade Móvel de Saúde em outras localidades.
Segundo ela, o atendimento no interior é especial, pois permite a aproximação e acompanhamento de toda família. Além disso, destaca o sistema da saúde municipal, que facilita a verificação do histórico do paciente para continuação ou modificação de medicamentos e tratamentos. A intenção da profissional é permanecer no programa. “É uma oportunidade única e a área da Medicina da Família me chama atenção, gosto muito”, afirma Indara, que também tem formação em Fisioterapia.