Desde o início de julho, os atendimentos pediátricos no Pronto Atendimento (PA) do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) estão sendo feitos somente nos casos de urgência e emergência, vetando atendimentos sem gravidade e todos aqueles por convênios e de forma particular. Mas, uma dúvida que fica para muitos pais é como saber se o que o filho está sentindo se configura como algo urgente e emergente. Quando é o momento de levar as crianças imediatamente para o Pronto Atendimento ou é caso de poder aguardar um pouco mais para conseguir uma consulta no consultório do pediatra ou procurar a Unidade de Pronto Atendimento (UPA)?
Quem explica um pouco mais e dá orientações aos pais é a coordenadora de Enfermagem do HSSM, Gabriela Mendes da Silva Flores. Ela informa que todas as crianças que chegam na recepção do Pronto Atendimento são recebidas, passam por um processo de preenchimento de ficha de atendimento médico e são encaminhadas para a triagem – que faz uso da classificação conforme Protocolo de Manchester. “O protocolo é baseado nas queixas do paciente, exame físico e sinais vitais”, alega a enfermeira, que atua no hospital há cinco anos.
Segundo Gabriela, na triagem, é seguido o protocolo de que toda febre associada a outros sintomas deve receber alerta, principalmente em crianças maiores de três meses com temperatura superior a 38,5º C. Já as menores de três meses, somente por terem febre maior que 38,5º C já merecem atenção especial. “É de suma importância que os pais observem os sintomas apresentados, o tempo de duração e a evolução, observando quadro de melhora ou piora.”
A coordenadora de Enfermagem destaca que, ao perceber que não há sinal de melhora de sintomas, que eles se encaixam nos itens de gravidade (veja o box), ou ainda, quando pais têm dúvidas sobre a avaliação, é indicado que levem a criança para o Pronto Atendimento para que o profissional avalie.
Novo formato
Sobre a mudança no sistema de atendimentos por convênio e particular durante o mês de julho, Gabriela confirma que os pais já vêm compreendendo o novo formato. Ela esclarece que não foi uma escolha do hospital, mas, sim, uma necessidade devido à alta demanda de casos graves neste mês. “Sabemos que os meses de inverno são cruciais e contribuem para um aumento na demanda de procura por atendimento médico devido aos quadros gripais.” Ainda não há informações sobre como serão os atendimentos em agosto. A equipe da Pediatria deverá ter uma reunião para esta definição.
- 16 é o número de enfermeiros que atuam na triagem do Pronto Atendimento do HSSM
Casos considerados de urgência e emergência
Sintomas para atendimentos de urgência e emergência em crianças que apresentam risco de vida, segundo o protocolo de Manchester:
- Parada cardiorrespiratória
- Obstrução de vias aéreas
- Esforço respiratório
- Hemorragia
- Choque
- Alteração do nível de consciência
- Trauma significado
- Criança não reativa
- Crise convulsiva
- Hipertermia maior que 38,5º C acompanhada de sintomas
Atendimentos que podem esperar
Sintomas que não comprometem a integridade da criança, considerado atendimento eletivo e que pode esperar:
- Criança febril
- Alergias que não comprometam a respiração
- Tosse produtiva
- Quadro gripal
- Dor leve
- Inflamação local
- Vômito sem associação de febre alta
Em dois meses, 11 crianças necessitaram de UTI Pediátrica
A coordenadora de Enfermagem do HSSM, Gabriela Mendes da Silva Flores, comenta que, nos últimos meses, a demanda de atendimentos pediátricos graves aumentou significativamente. Neste ano, já foram 19 crianças transferidas para leitos de UTI Pediátrica – 11 somente no período de maio a julho.
“Percebemos um aumento expressivo no número de casos graves, o que requer maiores cuidados e mais dedicação da equipe assistencial”, explica, justificando a suspensão do atendimento pediátrico particular e por convênios, no Pronto Atendimento. Na sexta-feira, 15, eram seis crianças internadas no HSSM.
Transferências para UTI pediátrica
- 2019 – 14 crianças
- 2020 – 13 crianças
- 2021 – 10 crianças
- 2022 – 19 crianças
- *Não contempla as transferências de recém-nascidos para leitos de UTI Neonatal.
Como é o processo nos consultórios particulares
O pediatra Vilson Gauer explica que há diferenças entre a triagem feita no sistema de saúde do hospital e nos atendimentos particulares dos médicos nos consultórios. Isso porque a triagem no hospital é feita por profissionais enfermeiros treinados que seguem protocolos. “A triagem é mais técnica, mas não deixa de ser um momento delicado e crítico, já que é neste momento que o profissional identifica as situações que precisam de ações com mais rapidez.”
Para o pais que ficam na dúvida de quando levar os filhos no consultório ou ir direto para um atendimento de urgência, o pediatra dá dicas. Ele comenta que, em geral, a febre é o principal sintoma que faz as pessoas ficarem preocupadas e buscarem atendimentos de urgência e emergência. No entanto, ele esclarece que a prioridade é nas crianças febris com menos de seis meses. As maiores, com dois ou três anos, por exemplo, quando têm somente a febre como sintoma perceptível, não precisam, na maioria das vezes, de atendimento imediato, podendo esperar por um encaixe no consultório do médico.
“Um critério que os pais podem usar é que se a criança com mais de seis meses estiver com febre, não importando o grau, podendo até ser mais alta, mas ter somente este sintoma, sem nenhum outro fator associado, a criança pode ser medicada pelos próprios responsáveis,” explica Gauer. Após isso, deve-se observar se a febre vai baixar e se a criança parece disposta, brincado e sorrindo. Nesse caso, os pais podem se tranquilizar, e se acharem necessário ainda, podem procurar pelo pediatra em até 24 horas. Entretanto, o médico destaca que se o quadro febril da criança estiver acompanhado de vômito e diarreia, a consulta deve ser com o mínimo possível de brevidade e certa urgência.
Outra orientação de Gauer é que há crianças, principalmente bebês, que não apontam a febre como primeiro sintoma para algo anormal. Há situações em que podem aparecer a falta de ar, dificuldade de respirar, tosse, respiração ofegante, dificuldade de mamar e humor irritadiço e choroso. Nesses casos, a consulta com urgência também é indicada.
Dicas importantes
- A questão de consultar de forma urgente depende do estado geral da criança, conforme aponta o pediatra Vilson Gauer. “Pais devem ficar atentos quando os filhos estão abatidos, quietinhos, se queixando de dores, irritados e chorando muito. São indícios de que algo não está bem.”
- Já quando se trata de quadros de tosse frequente, dor de garganta e doenças de quadro respiratório leve não é preciso ter tamanha urgência. São considerados atendimentos eletivos, que podem aguardar por mais tempo até conseguirem uma consulta com o pediatra.
- “Pode acontecer dos pais não conseguirem fazer uma definição correta, até porque nenhum parâmetro é totalmente decisivo. Na dúvida, a orientação é procurar fazer uma consulta com o pediatra que atende a criança. É a maneira mais fácil de orientar quando não se tem certeza”, esclarece o médico.