Quando o cooperativismo começa na escola

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Por Cassiane Rodrigues e Juliana Bencke

Com quadro social, conselho de administração e estatuto, a organização e o foco do trabalho seguem os mesmos moldes de uma cooperativa tradicional. A diferença? Ela é formada exclusivamente por estudantes. São eles os responsáveis pelo desenvolvimento de um produto ou serviço, as atividades de gestão e as decisões sobre o negócio.

O trabalho que aproxima adolescentes do cooperativismo, estimula liderança e empreendedorismo é uma iniciativa da Cooperativa Sicredi, por meio do Programa Cooperativas Escolares, da Fundação Sicredi, em parceria com a 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE) e secretarias municipais de Educação.

No Vale do Rio Pardo, desde que o programa começou, em 2016, já são 18 cooperativas fundadas e outras 10 em processo de formação. Em Venâncio Aires, há uma cooperativa na Escola Estadual de Ensino Médio Sebastião Jubal Junqueira e outras quatro em processo, nas escolas estaduais de Ensino Fundamental Professora Helena Bohn, São Luiz e Léo João Frölich, e na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Alfredo Scherer.

“De forma prática, o programa fomenta o cooperativismo, a liderança, a empatia e o espírito coletivo nas escolas. Conseguimos perceber muito as ações, o brilho no olho e o quanto esses alunos se desenvolvem, especialmente nas questões de liderança e comunicação”, observa a assessora de Cooperativismo e Sustentabilidade da Sicredi VRP, Gláucia Cabral Moraes.

O trabalho das cooperativas escolares é realizado no contraturno da aula e conta com um professor orientador da própria escola, que acompanha os alunos em cada fase do programa. Como em um jogo, são realizadas missões, que direcionam a etapas importantes da formação de uma cooperativa, como a fundação, em uma assembleia, a criação do nome, identificação de um problema e, a partir disso, definição do produto e a confecção dele.

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Gláucia Moraes, assessora de Cooperativismo e Sustentabilidade da Sicredi

“Na primeira fase, antes mesmo da fundação, eles vão entender o que é uma cooperativa, saber sobre a história, os diferentes ramos de atuação. As habilidades de cada estudante – seus ‘superpoderes’ – também são trabalhadas, no momento de definição dos cargos. E eles também têm como tarefa escrever o estatuto, que é a ‘bússola’ da cooperativa”, exemplifica Gláucia.

O produto ou serviço de cada cooperativa escolar varia conforme a realidade e as demandas identificadas pelos estudantes. Entre eles estão papel reciclado, itens de decoração com materiais reutilizados, bolachas com ‘receitas da vovó’, teatro e pintura de rosto.

“As cooperativas escolares fomentam a cooperação, liderança, empatia. Os estudantes atuam como protagonistas e há um grande desenvolvimento das habilidades de comunicação e liderança.”

Gláucia Cabral Moraes – Assessora de Cooperativismo e Sustentabilidade da Sicredi

Cultvida!: a primeira cooperativa escolar da rede municipal

A Cooperativa Escolar da Emef Alfredo Scherer iniciou as atividades no mês de março deste ano, no turno da tarde, para estudantes do 6º ao 9º ano. São 20 participantes, orientados pela professora Fernanda Saldanha. “Mas o grupo está aumentando, com a procura dos estudantes, que acompanham as ações realizadas pelos colegas e ficam motivados em participar também”, explica.

Com a parceria do Sicredi, Secretaria Municipal de Educação, equipe diretiva e professores da escola, a cooperativa está em fase inicial de implantação.

Na quarta-feira, 3, os integrantes participaram de uma oficina com o designer gráfico Rafael Barletta, na sede do Sicredi Vale do Rio Pardo, em Santa Cruz do Sul e, depois de muitas ideias, escolheram o nome da cooperativa – Cultvida! – e o slogan ‘Além do conhecimento’. É a primeira cooperativa escolar que abrange a região do Sicredi Vale do Rio Pardo com nome de somente uma palavra e com slogan.

Nos encontros, os alunos desenvolvem diversas habilidades, como comunicação, criatividade, pensamento lógico, organização, entre outras, e vivenciam os princípios do cooperativismo. “A Cooperativa faz com que os estudantes compreendam que cooperar é mais significativo do que competir, que mais pessoas empenhadas por um mesmo objetivo tem um potencial de transformação maior, que o futuro precisa ser construído agora e eles/elas são fundamentais para essa construção”, afirma a professora Fernanda.

Mar de Sonhos: aprendizados e avanços na Escola Jubal

A primeira cooperativa escolar criada em Venâncio Aires foi pela Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Sebastião Jubal Junqueira, de Vila Deodoro. A fundação ocorreu no dia 9 de dezembro de 2022, por incentivo da ex-aluna da escola, Juliana Bencke, que é colaboradora da Cooperativa Sicredi. O trabalho é coordenado pela professora Pâmela Martins. “É desafiador, mas é incrível, muito gratificante. A adesão inicial foi boa, fundamos a cooperativa com 41 sócios, os alunos um tanto inseguros, sem saber muito bem o que faríamos, mas empolgados”, conta.

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Cooperados da Mar de Sonhos viajaram para Nova Petrópolis, para conhecer a Rota do Cooperativismo (Foto: Divulgação)

Atualmente, a cooperativa da Jubal, chamada Mar de Sonhos, está com 53 cooperados, estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Pâmela cita que já foram realizadas diversas ações como o brechó CoopeShop, que reverteu no ano passado o lucro para comprar material escolar para uma escola atingida pela enchente; e o InovaCoopEs, que foi um desafio de Inovação e Tecnologia promovido pelo Sicredi, na qual foram vencedores com o projeto Nemus. Também por esse projeto, foi possível participar da Semana do Empreendedor, Movaci e Feira de Ciências da Unisc.

“Nas atividades somos norteados pelo jogo Cooperlândia, um tabuleiro que dita, em partes, as atividades da cooperativa através de missões. Conforme vamos tomando posse do que se trata, vamos desenvolvendo missões que não estão propostas no jogo, realizamos as tarefas no nosso ritmo. O objetivo é o caminho e não o destino, o aprendizado que vai se consolidando”, diz.

A vice-presidente, Maiquele Schoeninger, ressalta que a experiência é válida por poder agregar conhecimentos que fora da cooperativa são mais difíceis de alcançar. “A transformação que acontece em nós, estudantes, é muito grande, desde liderança, postura para falar em público e um olhar de maior empatia para a comunidade e a forma que amadurecemos. Acredito que esse combo seja a motivação dos alunos para participar da cooperativa escolar”, afirma. “A motivação do grupo é por saberem que estão agindo em prol da comunidade local e da escola, fazendo a sua parte para colaborar”, ressalta o presidente da Mar de Sonhos, Guilherme Ruppenthal.

“Ter uma Cooperativa Escolar é maravilhoso, pois fomenta a integração, o desenvolvimento crítico, social e financeiro de modo leve, criativo e engajado. Além de ampliar conhecimentos, também desenvolve habilidades expressivas, autonomia e protagonismo.”

EARA LUISA LUFT HENCKES – Diretora da Escola Sebastião Jubal Junqueira

    

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