“Queremos saber qual a intenção do poder público com Mariante”, cobram moradores e comerciantes de Vila Mariante

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Praticamente dois meses após a histórica enchente do rio Taquari, que inundou e causou devastação em Vila Mariante e em Vila Estância Nova, localidades no interior de Venâncio Aires, moradores e comerciantes do 2º Distrito retornam às regiões e cobram ações imediatas da Prefeitura de Venâncio Aires. Entre as principais reclamações está a incerteza com relação à reconstrução de prédios públicos – especialmente escola e posto de saúde -, comerciais e residências, além da limpeza dos entulhos e da situação das estradas.

A movimentação em Vila Mariante já começou a aumentar, mesmo com dificuldades relacionadas à infraestrutura, entulhos nas ruas e vias em péssimo estado. A moradora e comerciante Júlia Schneider, de 23 anos, não teve danos estruturais na sua residência ou no prédio comercial e destaca que a comunidade não pede um investimento milionário, mas que o suporte a quem quer permanecer não seja interrompido. “Ainda não tivemos respostas concretas. Ninguém diz se pode ou não construir, mas entendemos que a situação não é apenas ambiental e também envolve a segurança dos moradores”, afirma.

Assim como Júlia, Jéssica Viana, de 32 anos, também moradora e comerciante da localidade, diz que o principal problema é saber qual será a intenção com Vila Mariante. “Até agora, já escutamos que não haveria novos investimentos em razão dos riscos, mas acho que estrutura básica todos têm direito. Queremos saber se a Prefeitura vai nos amparar nesse momento em que tanto precisamos”, argumenta.

Jéssica frisa que não é a intenção dos comerciantes ou moradores realizar grandes investimentos ou “viver para sempre” em Vila Mariante, mas no momento, ainda é a única possibilidade para boa parte deles. “Sei do risco e até planejamos, no futuro, construir em um local mais seguro. Mas isso não é de imediato, precisa de tempo e planejamento”, enfatiza a moradora. Júlia acredita que, caso não seja possível reconstruir, muitos moradores buscarão na Justiça a possibilidade. “Quem é daqui, eu acredito que vai continuar aqui”, menciona.

Dúvidas

Para Natália Sovverby Correa Brum, de 35 anos, que mora em Vila Mariante desde os 9 anos e voltou para a localidade há 15 dias, após um período de limpeza, são necessárias ações imediatas para atender a comunidade. Ruas em melhores condições, recolhimento dos entulhos e assistência de saúde, são as demandas mais urgentes. “Não queremos nada fora do alcance da Prefeitura, apenas esse suporte”, comenta. Segundo ela, há pouco retorno do Município. “É um empurra-empurra e isso causa desânimo, porque estamos aqui e precisamos de apoio”, completa.

Retorno

Aos poucos, os moradores estão voltando. Segundo o grupo, o medo de uma nova cheia e o susto após ver a destruição, também criado pelas declarações do poder público, fez muitas pessoas saírem do local. “Mas agora, estão voltando. Os comércios estão reabrindo e acho que, aos poucos, Vila Mariante vai voltar a um novo normal e, quem sabe, com potencial de retornar ao que era antes. Para isso, precisamos de investimentos e de uma condição mínima de infraestrutura”, diz Jéssica. Ela afirma que cerca da metade dos comércios reabriu, enquanto que entre 20% e 30% dos moradores retornaram. “O pessoal está voltando, se empolgando um pouquinho mais com a possibilidade retomada”, comemora.

“Precisamos não só de atitude, mas de uma palavra para acalentar. Não queremos escutar que Mariante vai terminar. Mesmo que talvez não seja possível investir tanto, queremos ouvir que um mínimo será investido. Porque somos daqui e gostamos muito de viver em Mariante.”

JÚLIA SCHNEIDER

Moradora e comerciante

Promotor destaca que ainda não há definição a longo prazo

Em entrevista ao programa Folha 105 – 1ª Edição, da Rádio Terra FM 105.1, na quarta-feira, 26, o promotor regional de Justiça do Meio Ambiente da Bacia Hidrográfica dos rios Taquari e Antas, Sérgio Diefenbach, afirmou que ainda há um cenário de incertezas com relação à reconstrução nas áreas atingidas pela cheia de maio. “É um momento diferente de todos que já vivemos, com destruição e mortes. Por isso, solicitamos que o poder público municipal estude a área e estabeleça uma mancha, onde não se deve estimular ou apoiar a reconstrução, especialmente de residências”, explicou.

Segundo ele, existem questões jurídicas, como o direito ao terreno e reconstrução em locais onde não houve a destruição completa. Mas que, no caso de residências inabitáveis, “obter a autorização para a reconstrução no mesmo espaço ou até mesmo buscar algum estímulo do poder público, é algo que nós ainda não podemos avalizar e nem apoiar”.

Na segunda-feira, 24, o promotor visitou Vila Mariante para ouvir demandas dos moradores. Conforme ele, os principais questionamentos ainda não têm respostas definitivas e é necessário considerar uma responsabilidade contábil do poder público para investir em áreas que podem ser novamente destruídas. “É importante dizer que o Ministério Público não pretende ter, nem tem, palavra final sobre isso. Nós também estamos encontrando o melhor ponto de equilíbrio e isso deve ser debatido com a comunidade e o poder público”, declarou.

O promotor disse para os moradores que é necessário manter a legalidade, preservação do meio ambiente e das pessoas e a segurança dos planejamentos urbanos. “São pessoas e histórias, e elas devem ser ouvidas e respeitadas. Não que sejam responsáveis pelas decisões, mas devem ser ouvidas. A organização comunitária é essencial, a sugestão é de ter calma e apoio profissional”, concluiu.

“É prematuro batermos o martelo para um lado ou para o outro lado. Talvez algumas questões tenham que parar até no Poder Judiciário para verificar a viabilidade e legalidade de uma reconstrução em alguns espaços. Sugiro cautela aos moradores.”

SÉRGIO DIEFENBACH

Promotor regional do Meio Ambiente

Prefeitura

• Apesar de ter conhecimento das dificuldades enfrentadas e admitir que as pessoas atingidas pelas enchentes precisam de respostas para seguir suas trajetórias, a Prefeitura de Venâncio Aires ainda busca informações sobre que tipo de investimentos poderá fazer em Vila Mariante. Recentemente, quando esteve na Capital do Chimarrão, o governador do Estado, Eduardo Leite, antecipou que não poderia liberar recursos para a reconstrução de escola e unidade de saúde em áreas que sofrem com os riscos de inundação. O Executivo também busca orientações no âmbito do Governo Federal, mas garante que todo o suporte possível será dado às comunidades.



Leonardo Pereira

Leonardo Pereira

Natural de Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, jornalista formado na Universidade de Santa Cruz do Sul e repórter do jornal Folha do Mate desde 2022.

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