Conteúdo atualizado às 17h40min do dia 8 de fevereiro
Na terça-feira, 7, o júri que ocorreu no Fórum de Venâncio Aires deu desfecho ao caso do ex-jogador William Cavalheiro Ribeiro, que agrediu o ex-árbitro Rodrigo Crivellaro em uma partida de futebol no Edmundo Feix. Após mais de seis horas de depoimentos de defesa e acusação e os depoimentos da vítima e do réu, o juiz João Francisco Goulart Borges deu a sentença definitiva: dois anos e oito meses de reclusão em regime inicial semiaberto e mais R$ 18 mil de indenização pela condenação de homicídio tentado simples.
Durante os depoimentos, réu e vítima contaram suas versões dos fatos. Crivellaro, 30 anos, foi o primeiro a falar. “Não lembro de nada. Apaguei e lembro de acordar no hospital”, afirma o ex-árbitro que relatou ao juiz que levou um soco e que o chute sofrido soube por meio de imagens que viu posteriormente. Falou ainda que sofreu uma lesão na sexta vértebra, consequência da agressão, o que lhe obrigou a usar um colar cervical por 60 dias e teve mais 30 dias de fisioterapia para total recuperação. “Sempre fui respeitoso com os jogadores. Minhas atitudes sempre foram através dos cartões”, enfatiza o morador de Santa Maria. Crivellaro ainda chegou a voltar a apitar alguns jogos após sua recuperação, mas abandonou os gramados e agora atua como professor de padel.
O réu, Ribeiro, 32 anos, falou estar muito arrependido e em um dos momentos marcantes do júri, se virou para a plateia, onde estava Crivellaro e pediu desculpas pela agressão. Durante o interrogatório ele confirmou a agressão e que se arrepende do que fez. “Eu realmente agredi ele, foi errado”, disse Ribeiro, e afirmou que nunca teve intenção de causar a morte. Durante o depoimento, o ex-jogador defendeu que fosse julgado por agressão e não tentativa de homicídio. “Se botar as imagens, dá pra ver tudo direitinho”, relatou. Antes do julgamento, Ribeiro estava em liberdade, à espera do júri e desde o acontecido, o ex-jogador que é natural de Pelotas, está suspenso das atividades no futebol profissional, respeitando a pena da justiça esportiva e atualmente trabalha como pintor.
No processo atuaram na acusação o promotor de Justiça Pedro Rui da Fontoura Porto e o assistente de acusação, o advogado Daniel Figueira Tonello. Já na defesa atuaram os advogados Fábio Gonçalves, Gustavo Bretana e Ana Paula Krug. No Conselho de Sentença, sete jurados auxiliaram na decisão, sendo quatro homens e três mulheres.
Defesa vai recorrer
Um dos advogados da defesa, Gustavo Bretana, afirmou que mesmo não concordando, a defesa respeita a decisão dos jurados. Mas, de todo modo, adianta que a defesa irá pedir a interposição de recurso. “No nosso entender, a pena foi aplicada acima do que seria o adequado ao caso, além de não concordarmos com o regime fixado para início de cumprimento da pena.” Bretana evidencia que o papel da defesa foi de trazer todos os detalhes e nuances do caso, com o objetivo principal de diminuir o processo de tentativa de homicídio para uma lesão corporal.
Para o promotor Pedro Rui da Fontoura Porto, o resultado final foi de contento. “Nós, da acusação, sabíamos que o caso era bastante difícil no contexto das condições jurídicas, recorremos e conseguimos que a qualificadora de motivo fútil fosse levada a julgamento.” Porto enfatiza que a condenação por tentativa de homicídio simples ou básica é satisfatória e o regime semiaberto foi a maneira que o juiz teve de tornar a pena mais severa e ter controle sobre o réu. “Vamos avaliar a necessidade de recurso, ainda temos prazo para isso. Foi dada uma resposta a todos do mundo do esporte, que deve ser de entretenimento saudável e este tipo de atitude não deve ter receptividade.”
O juiz explicou à reportagem que o réu ficará em liberdade até a finalização do processo, já que a defesa vai recorrer. O ex-jogador do São Paulo, de Rio Grande, está respeitando condições que lhe foram impostas na soltura da prisão em flagrante logo após o ato, em 2021. Após finalizado o processo, o réu deverá cumprir o regime semiaberto com uma tornozeleira eletrônica, pois, segundo Borges, no Rio Grande do Sul, não há colônia agrícola, industrial ou um estabelecimento similar disponíveis para receber o ex-jogador no período da noite. Durante o dia, o condenado poderá trabalhar, frequentar cursos ou exercer qualquer atividade autorizada. Como Ribeiro é réu primário e não tinha antecedentes criminais, a pena teve uma redução em dois terços.
Relembre todo o caso
- A partida foi realizada no dia 4 de outubro de 2021 pela Divisão de Acesso. Quando o Guarani vencia pelo marcador de 1 a 0, aos 15 minutos do segundo tempo, o árbitro foi agredido pelo atleta com um soco. Quando o árbitro estava caído, o atleta agressor ainda desferiu um pontapé com a perna esquerda que acabou atingindo a nuca do comandante do confronto. O caso teve repercussão nacional.
- Na ocasião, o jogador foi preso em flagrante pelo delegado Vinícius Lourenço de Assunção e encaminhado à Penitenciária Estadual de Venâncio Aires (Peva). Em audiência de custódia realizada no fim da tarde do dia seguinte, a juíza Cristina Junqueira, da Comarca de Venâncio Aires, concedeu liberdade provisória a Ribeiro.
- Depois da agressão no gramado, Crivellaro ficou desacordado e precisou ser levado para o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). Lá, passou por uma bateria de exames e permaneceu em observação. Teve alta somente na tarde do dia seguinte. Após, ainda passou por procedimento cirúrgico na semana que sucedeu a agressão.
- No dia 24 de novembro de 2021, o jogador foi denunciado pelo Ministério Público de Venâncio Aires pelo promotor de Justiça Pedro Rui da Fontoura Porto. O atleta foi denunciado por tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil. A primeira data para o júri foi 25 de novembro de 2022, porém, a defesa pediu transferência devido ao réu ter tido contato com pessoas contaminadas com Covid-19, na época.
- Ribeiro está suspenso do futebol profissional por dois anos e tem outras passagens de agressão no futebol. Ele já agrediu outro árbitro e chegou a investir contra o pai de um jogador adversário. Também agrediu um torcedor do São Paulo, de Rio Grande, que fazia cobranças ao treinador do time. Na Polícia, são três boletins de ocorrência contra Ribeiro, dois deles por lesões corporais e um por vias de fato. Os registros são de 2009, 2015 e 2021.
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