Trabalho com formigas na Emei Arco-Íris (Fotos: Júnior Posselt/Folha do Mate)
Trabalho com formigas na Emei Arco-Íris (Fotos: Júnior Posselt/Folha do Mate)

Com brincadeiras, descobertas e olhares curiosos, as práticas pedagógicas estão presentes em todas as turmas das escolas municipais de educação infantil (Emeis), de Venâncio Aires. Em espaços onde o tempo de aprender de cada um é respeitado, os pequenos investigam, protagonizam e constroem os saberes a partir das vivências.

Foi assim, observando uma simples lagartixa, que estava no pátio da escola, que a turma do Pré B1 da Emei Arco-Íris está desenvolvendo um projeto sobre a importância desse bichinho e explorando suas curiosidades e características. O trabalho é desenvolvido pela professora Ana Caroline de Souza, com o auxílio da professora Maira Bartira Kaufmann, no período da tarde. Por causa do interesse, os pais de uma aluna encontraram ovos de lagartixa e levaram para a escola.

Através de um pote de vidro transparente, eles acompanham o processo de ‘nascimento’ e dão nomes para cada um que nasce. “Depois disso, eles mesmos se encarregam de levar as lagartixas para a natureza, dando continuidade ao ciclo de vida”, explica. No ‘Incrível mundo das lagartixas’ os alunos pesquisaram a origem, habitat e o estilo de vida desses animais. Há aqueles que observam de longe, com olhares curiosos, enquanto outros caem na gargalhada e adoram fazer carinho nas lagartixas.

Os ‘porquês’ acabam norteando a vida das crianças. No começo do ano, especificamente no segundo dia de aula, junto com a professora Fernanda Brandt Martins, os alunos do Pré B2 da Emei foram brincar no pátio. Goiabas suculentas e amarelas chamaram a atenção das crianças e foram degustá-las. Para a surpresa de um dos alunos, ao abrir a goiaba, encontrou um bichinho que logo despertou interesse em todos. “Aquela cena gerou muita curiosidade nos alunos e um espanto: o que era aquilo?”, lembra a professora. E, para pesquisar sobre a larva, nasceu o projeto ‘O bichinho da goiaba’.

As primeiras pesquisas com os alunos foram feitas no sentido de compreender o que é a larva que, com frequência, é encontrada dentro da goiaba, qual o ciclo de vida e, principalmente, se podemos comê-las. “Ela tem muitos nutrientes”, garante a aluna Maria Clara Rabuske. O trabalho se estendeu com a presença de um biólogo, que apresentou orientações na escola. Um pé de goiaba também foi plantado em um vaso e fica na sala de aula. Nos dias de sol, os estudantes são responsáveis por levar ele até o sol e colocar água.
Ainda no sentido de explorar os tesouros do jardim da escola, nem as formigas escaparam.

outra atividade prática, os alunos do Nível III-1 descobriram esses bichinhos e indagações surgiram. A professora Juliana Brandão Lizardi começou a pesquisa científica levantando informações sobre a comida preferida do bichinho, o que faz e importância para o meio ambiente. Atividades práticas ocorrem dentro e fora da sala de aula.

Buscando envolver os pais nessa pesquisa, um boneco em formato de formiga é colocado em uma sacola, junto com o livro ‘A formiga aventureira’, e encaminhado com o aluno, para casa. No kit, ainda vai o ‘Diário de bordo’, onde os pais registram a experiência do filho com a atividade.

Alunos fazem carinho em uma lagartixa, após trabalho desenvolvido em sala de aula
Projetos pedagógicos visam desenvolvimento de habilidades de leitura e interpretação aos alunos

Foco nas ações do dia a dia

Desde cedo, é importante que a criança compreenda o espaço no qual está inserida. Junto com o olhar ao meio ambiente, como ocorre na Emei Arco-Íris, trazer o foco para a própria criança e sobre o que pode ou não fazer, é essencial. Esse eixo do autoconhecimento é destaque na Emei Infância Feliz. A turma do Nível II está trabalhando a diversidade étnica. Foram identificadas as origens dos sobrenomes dos alunos. Assim, aprendem sobre as culturas negra, indígena, italiana e alemã.

“Buscamos vivenciar brincadeiras e danças típicas de cada uma delas, para desenvolvê-los num todo e aprenderem desde cedo a respeitar as diversas etnias”, explica a professora Gabrieli Reis. A profissional explica que o objetivo da atividade é mostrar que cada um tem suas diferenças. “Somos cultura, se não trabalharmos isso, os valores acabam se perdendo e então o que será do futuro?”, questiona.

Além da confecção de itens elaborados pelos próprios alunos, como petecas, máscaras e outros que remetem a cada cultura estudada, a aprendizagem foi levada para outro nível, onde os alunos ainda conheceram coreografias relacionadas a essas etnias. Um exemplo é a música ‘Fliegerlied’, de origem alemã. A vice-diretora Vanessa Dorneles observa que essas práticas impulsionam o conhecimento, já que partem da realidade das crianças e desenvolvem diversas habilidades importantes para o desenvolvimento.

Aulas de dança ajudam na motricidade das crianças na Emei Infância Feliz

Também na Emei, mas com o Pré A, o foco é outro. Como já compreendem um pouco melhor o mundo lá fora, levar noções de limites, autocuidado e o cuidado com o outro foram os objetivos da professora Rafaele Jantsch. Para começar a explorar esse tema, foi elaborado um ‘semáforo do corpo’. Ao lado, uma representação aponta o verde como locais do corpo que podem ser tocados; o amarelo indica atenção; e o vermelho restringe o contato. A iniciativa alerta as crianças e famílias para o diálogo e cuidado com seu corpo, compreendendo os limites do toque.

No projeto ‘Meu corpo, meu mundo’, cada aluno realizou outras atividades. Uma delas foi a exploração dos cinco sentidos – olfato, paladar, tato, audição e visão. As crianças montaram um autorretrato, com massinha de modelar, buscando ilustrar como cada um se vê. Em uma pesquisa em família, pais também compararam fotos de quando cada um era menor e como está atualmente.

“Na exploração do olfato, buscamos que pudessem sentir cheiros e identificar o que era aquilo. O mesmo ocorreu com o paladar, onde provaram gostos diferentes, como salgado, amargo e azedo”, destaca a professora Rafaele.

Projetos pedagógicos visam desenvolvimento de habilidades de leitura e interpretação aos alunos

“Cada projeto busca desenvolver habilidades nas crianças”

Além do acolhimento de cada aluno, as escolas passam um planejamento pedagógico amplo, com foco no desenvolvimento das crianças, envolvendo desde os bebês até os maiores. “A escola não é só um lugar para deixar os filhos. Ela tem uma função educativa, exige estudo, preparo, planejamento, rotina e observação. Cada projeto busca desenvolver habilidades nas crianças”, resume a coordenadora pedagógica da área infantil da Secretaria da Educação, Flávia Kieling.

A cada semana, os professores passam por um planejamento que considera o nível dos alunos, observando os avanços e possíveis alunos que ainda precisam de mais atenção. Além das atividades pontuais, Flávia exemplifica a organização de projetos pedagógicos, como nas Emeis Arco-Íris e Infância Feliz, além de brincadeiras livres, organização do espaço e alimentação adequada, como essenciais na rotina de cada um. “Cada momento dentro da sala de aula é pensado para desenvolver algo. Seja a motricidade, oralidade, vínculo ou até capacidade para resolver possíveis conflitos”, diz.

A coordenadora pedagógica Juliane Weiss Niedermeyer complementa que a educação infantil avançou muito. Antes chamadas de creches, as Emeis tiveram um avanço importante na abordagem e processo de escolarização. Hoje, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é que define as metas de aprendizagem dentro da sala de aula. “Bebês e crianças precisam ser estimulados. Engatinhar, por exemplo, exige uma organização de pensamento e movimento. As Emeis não só cuidam, mas também educam”, analisa.

A diretora da Arco-Íris, Fátima Conceição Nicolay, ressalta que é nas Emeis que as crianças dão seus primeiros passos e desenrolam as primeiras palavras. “Por isso, precisam ter uma atenção constante, já que muitos passam mais tempo aqui do que em casa. Buscamos observar possíveis mudanças de comportamento, avanços e necessidades”, afirma, destacando que o olhar da equipe vai além das práticas pedagógicas, inclui também o cuidado com o lado afetivo e emocional.

Avaliação nas famílias

Por muitas vezes, o trabalho de preparação e das práticas pedagógicas nem sempre é percebido com a mesma proporção pelas famílias. Por isso, a aproximação das escolas com os pais é essencial. “Os projetos são elaborados com propósito despertando a curiosidade das crianças e desenvolvendo diversas habilidades, como a oratória”, conta Dalana Neumann, mãe da aluna Lavínia, do Pré B2 da Emei Aco-Íris. Ela estabelece o trabalho de pré-alfabetização e incentivo à leitura como cruciais para o desenvolvimento das crianças. “Nossa filha é muito empolgada com as descobertas e o cotidiano na escola, e nós, pais, nos sentimos seguros com ela lá.”

Para Simone Cristiane da Rosa, mãe do estudante Matias, de 4 anos, do Pré A da Emei Infância Feliz, a relação entre família e escola deve ser sempre trabalhada e pensada como um conjunto. “Ambos devem direcionar para uma mesma linha, para que o desenvolvimento seja satisfatório”, diz. “Na minha percepção como mãe, o desenvolvimento dele está bastante satisfatório, já escreve seu nome, reconhece muitas letras e cores, associa e relaciona muitas coisas. Isto, sem dúvida, é resultado do trabalho em conjunto entre família e escola”, complementa.

1.770 – é o número de alunos atendidos nas 14 escolas de educação infantil da rede municipal de Venâncio Aires. São 283 monitores e atendentes, 170 professores e 46 agentes escolares que atuam nas instituições.

Divisão das turmas

  • Nível IA: de 0 a 11 meses e 29 dias
  • Nível IB: de 1 ano a 1 ano 11 meses e 29 dias
  • Nível II: de 2 anos a 2 anos 11 meses e 29 dias
  • Nível III: de 3 anos a 3 anos 11 meses e 29 dias
  • Pré-A: de 4 anos a 4 anos 11 meses e 29 dias
  • Pré-B: de 5 anos a 5 anos 11 meses e 29 dias
  • Importante: data de corte é 31 de março
Júnior Posselt

Acompanha de perto o dia a dia da comunidade, com olhar atento ao interior e à educação.

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