Depois de passar 79 dias internado no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), sendo 67 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), Daniel Fagundes da Silva, 34 anos, comemorou nesta quarta-feira, 22, com a família e os amigos, a alta hospitalar e o retorno para casa. No início de maio, o morador de Vila Santo Antônio, no interior de Mato Leitão, foi internado com quadro suspeito de Covid-19. No dia 8 do mesmo mês, quando ele recebeu o resultado positivo para coronavírus, foi transferido do setor de isolamento da Covid-19 para a UTI do HSSM.
Mesmo depois ter se recuperado da doença, Daniel precisou ficar mais tempo internado porque durante o tratamento teve outras complicações de saúde. Segundo a família, nesse período ele precisou tratar uma bactéria hospitalar e um fungo, além de ter passado por uma cirurgia para remover a vesícula que estava inflamada. Durante todo o processo de recuperação, família e amigos se mobilizaram para formar um grande grupo de oração e, assim, interceder de alguma forma na recuperação de Daniel.
“Esse momento [alta] mostra que ele é forte, é guerreiro e que Deus está com ele.”
LENI FROHBOSE TONEZER – Mãe
Homenagem
Muitas dessas pessoas se reuniram nesta quarta, tomando todos os cuidados necessários, para homenagear o jovem, quando ele saiu do hospital. Na recepção do HSSM, a família e os amigos o esperaram com balões e aplausos. Já na entrada de Vila Santo Antônio, na saída da RSC-453, o jovem foi surpreendido com uma carreata. Balões e fogos de artifício marcaram a chegada do jovem em casa.
No local, o grupo se reuniu para cantar parabéns pelo recomeço na vida de Daniel. O sentimento de gratidão era compartilhado por todos que acompanharam o período da recuperação do jovem e que agora podiam comemorar a vitória, após mais de dois meses de luta. Para Daniel, o momento também foi de felicidade.
Muito emocionada a mãe de Daniel, Leni Frohbose Tonezer, disse, enquanto esperava a saída do filho do hospital, que o momento era de muita felicidade. “Estou nas nuvens. Só vou lembrar desse dia. Os dias difíceis vão ficar no passado. Ele é um guri muito especial e essa é mais uma vitória, a maior delas, na vida dele”, destaca. Leni também ressalta que o dia mais difícil durante o período de tratamento foi quando Daniel estava prestes a ter alta e precisou fazer a cirurgia para remover a vesícula.
Veja o vídeo:
“Uma vitória para ele e para todos nós do hospital”
Para o diretor técnico do Hospital São Sebastião Mártir, Guilherme Fürst Neto, a alta de Daniel é emblemática. “Justamente no dia do aniversário de 85 anos do hospital [comemorado ontem], ter esta alta é um grande presente. Ela tem um significado importante porque demonstra a real importância do hospital e das pessoas que trabalham na instituição. É uma vitória para ele e para todos nós do hospital”, comemora o médico.
Daniel foi o paciente com Covid que teve o maior tempo de internação no HSSM. A médica intensivista Jacqueline Fromming, que acompanhou Daniel nos 67 dias na UTI, explica que o fato de ele ter um rim transplantado e tomar medicamentos imunossupressores – para diminuir as defesas do organismo e impedir a rejeição do enxerto – tornou o caso muito complexo.
“Foi um tratamento muito difícil, porque havia uma resposta diminuída em função dos imunossupressores. Ao mesmo tempo, não queríamos que ele perdesse o rim e tivesse que fazer hemodiálise. Tivemos que modular todo o tratamento”, explica a médica, que, pela convivência prolongada, criou um vínculo com o paciente. “Ele me cobrava quando eu não estava na UTI, nos fins de semana.”
Segundo ela, além do manejo diferente, o caso de Daniel marcou a equipe por ser alguém jovem e pelo longo período na UTI. “Por conta dessa internação prolongada, o paciente fica sujeito a outras infecções, e este caso ainda teve outras peculiaridades, como a necessidade de uma cirurgia de vesícula enquanto ele estava na UTI. O Daniel é um vitorioso”, define. “Sempre repetia para ele: aqui é proibido desistir.”
Outro aspecto observado pela médica é que, como ele passou muito tempo sedado e imóvel, isso levou à perda de massa muscular. “Ele precisava ganhar massa muscular e força para poder respirar sozinho, novamente. Esse processo só foi possível com o auxílio de toda a equipe multidisciplinar, com fisioterapeuta, nutricionista, enfermeiros, técnicos em Enfermagem. É todo um trabalho em conjunto.”
“Ficamos muito felizes e satisfeitos nas altas de todos os pacientes. Acredito que a grande lição que temos do caso do Daniel é que é difícil, sim, é complicado, estamos lidando com uma doença nova, mas tem que se viver um dia de cada vez. Como eu sempre dizia para o Daniel: ‘aqui é proibido desistir’.”
JACQUELINE FROEMMING – Médica intensivista
Empenho
O diretor técnico do HSSM também ressalta que a alta do paciente demonstra a grandeza, a responsabilidade e o comprometimento de toda a equipe de profissionais e médicos, “mesmo com as sérias dificuldades financeiras do hospital, horas extras cortadas e salários atrasados”.
“Apesar de todas essas dificuldades vivenciadas pelos profissionais, todos cuidaram do Daniel e de todos os outros pacientes com toda a dedicação. A equipe está empenhada na recuperação dos pacientes. Isso nos deixa orgulhosos e mostra que temos que nos esforçar para manter o hospital ativo.”
“Apesar de todas essas dificuldades vivenciadas pelos profissionais, todos cuidaram do Daniel e de todos os outros pacientes com toda a dedicação. A equipe está empenhada na recuperação dos pacientes. Isso deixa a cidade orgulhosa e mostra que temos que nos esforçar para manter o hospital ativo.”
GUILHERME FÜRST NETO – Diretor técnico do HSSM
*Texto atualizado às 14h51min do dia 23 de julho para acréscimo de informações.
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