Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateProfessora Luciana conta que os alunos questionam muito nas salas de aula sobre as bolsas oferecidas pelas universidades
Professora Luciana conta que os alunos questionam muito nas salas de aula sobre as bolsas oferecidas pelas universidades

Após o término do ensino médio, muitos jovens sentem a pressão de terem que iniciar um curso superior e focar em uma área específica. Mas o que acontece, é que nem todos sabem de fato qual profissão escolher, até porque existe um leque de opções e o mercado de trabalho torna-se cada vez mais exigente e competitivo.

Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateNa opinião de William, que tem 16 anos, ainda é muito cedo para decidir qual graduação fazer
Na opinião de William, que tem 16 anos, ainda é muito cedo para decidir qual graduação fazer

O estudante do terceiro ano do ensino médio da Escola Estadual Monte das Tabocas, William Dreissig Bicca, 16 anos, é um dos vários jovens que ainda está indeciso a respeito do que cursar. Ele conta que quando era criança tinha a intenção de fazer Educação Física, mas essa ideia mudou com o tempo. Hoje, o jovem diz demonstrar interesse na área de informática, no entanto, ainda, não tem certeza se é isso o que quer. “Eu não sei se faço algum curso técnico de mecatrônica e automação ou se já faço Engenharia da Computação” , comenta. Para ele, 16 anos é ainda muito cedo para decidir algo tão importante para o futuro. Em casa, ele ressalta que não existe uma pressão sobre a escolha, apenas a mãe sugere que o jovem curse o que de fato gosta, por se tratar de um investimento muito grande.

O caso da Paola Silveira, 17 anos – que também está no terceiro ano do ensino médio -, é diferente. Ela já tem convicção do curso que pretende fazer: Relações Internacionais. De acordo com ela, a decisão foi tomada no ano passado, quando conversou com algumas pessoas da área para verificar as características do curso: “Como tem História, Geografia e Língua Portuguesa no curso, disciplinas que eu gosto muito, eu me identifiquei”.

A jovem conta que pretende conseguir alguma bolsa de estudos e que, embora não exista uma cobrança por parte dos pais, ela mesma se cobra em relação às escolhas. “Tenho que ter certeza do que eu quero e, para isso, é necessário muita pesquisa”, complementa. Na opinião de Paola, 20 anos é a idade ideal para escolher uma graduação: “Nessa idade, nós somos mais maduros e temos uma cabeça melhor”.

 

Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateDesde o ano passado, Paola tem certeza do curso que deseja: Relações Internacionais
Desde o ano passado, Paola tem certeza do curso que deseja: Relações Internacionais

A professora de Língua Portuguesa e Literatura, Luciana Quadros Bohn, comenta que os alunos têm muitas dúvidas sobre as bolsas oferecidas pelas universidades e se preocupam de fato com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Luciana explica que sempre busca sanar os questionamentos dos estudantes e que reforça a importância de todos correrem atrás dos sonhos e pesquisarem sobre as áreas que têm interesse.

Para ela, as dúvidas e incertezas dos alunos aumentaram muito nos últimos anos: “Antes, as pessoas terminavam o ensino médio e esperavam um tempo para começarem uma faculdade. Hoje, parece que precisam começar logo depois que saem da escola. É tudo muito cedo”, observa.

PERFIL ESCOLARA proprietária de uma empresa de recrutamento, seleção e inserção de jovens no mercado de trabalho, Alessandra Ludwig, explica que o jovem precisa fazer uma reflexão sobre o próprio perfil escolar, o que de fato gosta de estudar e tem facilidade. “Se a pessoa foi líder de turma, ela pode se dar conta de que no mercado de trabalho terá um perfil para comandar equipes e trabalhar em uma área mais comunicativa”, comenta.

Para quem, durante a escola, não demonstra interesse por alguma matéria específica, Alessandra sugere que a pessoa busque oportunidades diferentes de trabalho ainda no período de ensino médio, porque é uma forma de tentar descobrir a área que mais se identifica. “O jovem pode optar por estágios, que são uma forma de conhecer uma profissão, se ele gosta e desempenha bem ela”, comenta. Além disso, Alessandra acredita ser válido a pessoa entrar em contato com um profissional que trabalha em uma área que seja do interesse para, assim, descobrir os desafios da profissão e a realidade dela: “Uma coisa é o que se enxerga de fora e outra é o dia a dia da profissão”.

MAIS PROCURADOS

De um leque de 53 cursos de graduação, os mais procurados na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) são Medicina, Direito, Administração, Engenharia Civil, Odontologia, Psicologia e Biomedicina. A grande maioria das pessoas que ingressa na Unisc tem menos de 20 anos.

De acordo com o pró-reitor, Elenor Schneider, nessa idade, e frente às tantas opções, a dúvida se põe de forma muito desafiadora para os jovens que estão por definir o futuro profissional. “A escolha, muitas vezes, é nebulosa e somente se torna mais nítida com o andar do próprio curso”, comenta.

Ainda segundo ele, não são poucos que, depois de um semestre ou mais, veem com clareza que o caminho escolhido não era este: “Nesse caso, é preciso ter a coragem para mudar”.

No caso da Univates, atualmente oferece 46 cursos (45 de graduação e um sequencial). Os mais procurados, ou seja, que mais possuem inscritos no vestibular, são Medicina, Direito, Arquitetura e Urbanismo, Educação Física, Engenharia Civil e Administração.

Incertezas que fazem parte da vida dos jovens

Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateAlessandra: “O fundamental não é quanto a pessoa vai ganhar, mas sim, um equilíbrio entre o que vai ganhar e o que gosta de fazer”
Alessandra: “O fundamental não é quanto a pessoa vai ganhar, mas sim, um equilíbrio entre o que vai ganhar e o que gosta de fazer”

Alessandra Ludwig percebe que muitos jovens, atualmente, têm diversas dúvidas sobre o que cursar e em qual área trabalhar. Para ela, a maioria deles tem esses questionamentos, porque pensa em um retorno financeiro imediato, o que nem sempre ocorre nas profissões. Às vezes, segundo ela, é preciso de tempo para garantir um bom salário. O que também pode gerar essas incertezas e fazer o jovem esperar mais para iniciar uma graduação tem relação com o investimento. Hoje, o ensino superior tem um custo alto para muitas pessoas e hoje se tem o receio de iniciar a graduação e depois perceber que não é a área desejada.

Para quem saiu recentemente do ensino médio e está na dúvida sobre qual caminho seguir, mas não quer parar de estudar, Alessandra aconselha a investir em cursos técnicos que têm um custo muito menor. Decidir qual graduação seguir muito antes dos 20 anos, para a profissional, pode, sim, ser prematuro. “Uma coisa é o que os jovens gostariam de fazer e outra é o que os pais ou responsáveis têm condições de pagar e o que eles querem”, complementa.

Segundo ela, as próprias escolas podem interferir na escolha profissional do jovem, isso porque, de acordo com a forma como o professor transmite o conteúdo, pode ou não fazer alguém construir um interesse sobre uma determinada área.

Embora o salário seja um fator importante, Alessandra destaca que não é isso que mais deve pesar na hora de escolher uma graduação. “O salário deve ser uma consequência daquilo que se gosta de fazer, porque quando uma profissão dá prazer, as pessoas transmitem isso”, comenta.