Faltando menos duas semanas para o dia das eleições que definirão o novo prefeito e 15 vereadores para a próxima legislatura, na Câmara Municipal de Venâncio Aires há pouco espaço para o debate de temas que de fato interessam à comunidade. Além da votação dos projetos que obrigatoriamente os parlamentares têm de cumprir, um que outro vereador destina tempo na tribuna para questões que envolvem ‘o todo’.

A análise – não com estas palavras, mas neste sentido – é do presidente do Legislativo, José Ademar Melchior, o Zecão (PMDB), que ao final da sessão de segunda-feira, 19, pediu desculpas às pessoas que acompanhavam o encontro semanal pelo rádio, bem como aos poucos cidadãos que foram até o Plenário Vicente Schuch para ouvir os pronunciamentos dos parlamentares. “Embora entenda que a manutenção das transmissões da sessões no período de campanha foi acertada, pois desta forma se vê quem é quem aqui dentro, lamento a conduta de alguns colegas e este palco de acusações”, disse o presidente da Casa.

Durante a sessão, Zecão interferiu várias vezes nos pronunciamentos dos colegas alertando que eles deveriam medir as palavras e optar por comentários de interesse comunitário, todavia nem sempre foi atendido. “Só quero deixar bem claro que estou fazendo o que me compete, enquanto presidente desta Casa, e que não vou responder por atos de palavras de outros vereadores”, argumentou. Mais tarde, Telmo Kist (PSD) foi na mesma linha, lembrando que não vai tentar a reeleição e sugerindo que os políticos deixem os ataques de lado e façam “a boa política, discutindo ideias e sem agredir uns aos outros”.

OS EMBATES DA SESSãO

Unidades do Minha Casa, Minha Vida

A primeira ‘bomba’ da noite foi lançada pelo petebista Arnildo Camara, que declarou na tribuna, durante o período de comunicações, que “a coordenadora de campanha do 12 (número do PDT, de Jarbas da Rosa), Mara Kappaun, bem como o filho dela, teriam sido contemplados com apartamentos no condomínio Pôr do Sol e, posteriormente, vendido os imóveis e comprado uma área perto da propriedade de um familiar. “Pessoas mais humildes, que realmente precisam ser beneficiadas, perdem a oportunidade por conta de beneficiamento político”, disparou, acrescentando que “a gente até quer fazer uma campanha limpa, mas quando somos atacados, não podemos ficar quietos e temos de dar uma resposta”.

Em aparte, Eduardo Kappel (PP) afirmou que Mara e o filho teriam sido beneficiados a pedido de Jarbas da Rosa e foi ainda mais longe, denunciando, sem citar nomes, que “a irmã do chefe de gabinete do prefeito também ganhou casa”. Também em aparte, José Cândido Faleiro Neto (PT) disse que enviou mais de 40 representações ao Ministério Público dando conta de irregularidades na distribuição de unidades do Minha Casa, Minha Vida na Capital Nacional do Chimarrão. “A gente não está dormindo aqui. São mais de 600 casos investigados e em 160 já há confirmação de que burlaram o processo”, falou.

Quando teve a palavra, Jarbas da Rosa (PDT) afirmou que sequer tinha mandato na Câmara quando as duas pessoas citadas pelos colegas foram beneficiadas com apartamentos. Disse também que Mara Kapaun, na época, era filiada a outro partido. “Esse negócio de apartamento eu nem era vereador. Mas tudo o que vocês estão falando aqui vão ter que provar na Justiça. Nada a ver, nada a ver”, repetiu o vereador, para em seguida mandar um recado a Arnildo Camara: “Vereador Arnildo, eu tenho dúvidas sobre a sua pessoa. O senhor vem, me abraça, me chama de querido e, no comício fala tão mal de mim. Vejo todos os dias esta falta de confiança, de transparência e as duas caras nesta campanha eleitoral”.

Possíveis irregularidades no Bolsa Família

Eduardo Kappel (PP) utilizou seu tempo de tribuna para dizer que “a advogada da Prefeitura (se referindo à procuradora Gisele Spies Chitolina), a mando do Jarbas, tentou manchar a imagem de um vereador sério, mas o tiro saiu pela culatra”. A manifestação está relacionada com a determinação do Ministério Público Federal (MPF) para que a Prefeitura de Venâncio Aires proceda investigações acerca do programa Bolsa Família, cujo desdobramento acabou envolvendo Celso Krämer (PTB) em relatório de assistente social que visitou uma beneficiária suspeita de ter feito doação de campanha.

Na sequência, Ana Cláudia do Amaral Teixeira (PDT) argumentou: “Em relação a este infeliz episódio do Bolsa Família, quero que a verdade apareça e vou cobrar isso”. A vereadora reforçou que foi o MPF que determinou a atuação da Prefeitura e lembrou que está licenciada de sua função como assistente social em razão da busca pela reeleição à Câmara, já que estaria sendo acusada de participação em suposta armação contra Celso Krämer.

Líder do governo, João Stahl (PDT) disse havia a determinação de que o Município tornasse públicos os documentos relativos às supostas irregularidades no Bolsa Família, “deixando-os em em locais bem visíveis”. “Quem não quer a divulgação da transparência, não pode ser pessoa pública”, afirmou o pedetista, que foi além: “Desafio o vereador a trazer nesta tribuna o documento que comprova que suas contas de campanha de 2014 foram aprovadas. é bom que fique claro que, em relação a este caso, há agravo de instrumento em curso no TSE, porque as contas do Celso foram reprovadas”, sustentou.

Krämer explora suposta omissão de socorro

Em um dos momentos mais tensos da sessão, Celso Krämer (PTB) levou para a tribuna o discurso de que está sendo perseguido por conta de sua candidatura a vice-prefeito. “Estão levantando assuntos contra mim do Bolsa Família, outro dia a vereadora Ana Cláudia disse que tinha trabalho escravo em Taquari Mirim e era em outra localidade, é uma incrível perseguição”, falou, antes de entrar no assunto mais polêmico.

“Trago aqui um caso de omissão de socorro do doutor Jarbas”, declarou, passando a ler mensagens de WhatsApp supostamente trocadas entre Jarbas e a filha de um senhor que teria morrido vítima de infarto. “Tenho aqui o B.O. (boletim de ocorrência) que diz que o paciente estava infartando e o Jarbas estava tratando como problema na vesícula. E isso não é pessoal, é público, pois o hospital sofrerá uma ação com indenização milionária”, justificou.

Em aparte, Cândido Faleiro (PT) pediu que os vereadores deixassem as denúncias de lado e ficassem no campo das propostas. “Falam muito em corrupção, mas será que a gasolina em troca de placas de campanha também não é corrupção?”, questionou ele, que em seguida foi respondido por Eduardo Kappel (PP): “O vereador Celso foi atacado covardemente e todos ficaram sabendo. As pessoas também têm que saber que o Jarbas está respondendo por isso”.

Sobre o episódio, Jarbas da Rosa disse que “apesar de concordar com o que disseram os colegas Telmo e Cândido, de que devemos fazer a boa política, não me surpreendo com o Celso Krämer”. Também afirmou que, se é um mau médico, como sugeriu o petebista, não entende porque a esposa, o filho e a nora de Krämer “consultaram e ainda consultam comigo”.

OUTROS ASSUNTOS

EVANGéLICA – Helena da Rosa (PMDB) reclamou da demora para a conclusão das obras da Praça Evangélica. Aproveitou para engatar que os vereadores de situação seguidamente agradecem ao prefeito por pedidos que foram atendidos, “já os de oposição não são ouvidos”. De acordo com ela, “um administrador deve trabalhar para toda a comunidade”. A peemedebista também elogiou o Daer pela operação tapa-buracos realizada entre Grão-Pará e Vila Palanque.

MAIS MéDICOS – Vilson Gauer (PT) afirmou na tribuna que o programa Mais Médicos, do Governo Federal, só não foi “exterminado” porque os prefeitos por todo o Brasil não concordaram como suposta intenção do nove presidente, Michel Temer (PMDB). “é muito importante termos profissionais como estes à disposição, já que eles acabam conhecendo a comunidade na qual estão inseridos, bem como o histórico dos pacientes”, justificou o petista.

BADESUL – Telmo Kist (PSD) lamentou a notícia de que o Badesul foi descredenciado pelo BNDES. Conforme o vereador, o projeto do Corredor dos Gauer, por exemplo, seria tocado adiante com recursos do banco, “e agora o Município terá de buscar outra alternativa”. A impressão de Kist é que Badesul estará em situação falimentar brevemente, tudo porque investiu errado. “Temos casos de R$ 100 milhões para um único cliente”, complementou.