O caso que chegou ao Judiciário e Promotoria de Venâncio Aires envolvendo uma possível irregularidade no Bolsa Família teve um novo capítulo, na tarde de ontem. A beneficiária que aparece em relatório do Ministério Público Federal (MPF) como doadora da campanha de 2014 procurou a Delegacia de Polícia para registrar boletim de ocorrência e informar como foi orientada pela assistencial social da Prefeitura, após receber duas visitas em sua casa, na localidade de Linha Taquari Mirim.

O nome da agricultora consta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como doadora de R$ 5 mil na campanha do atual vereador e candidato a vice-prefeito Celso Krämer (PTB), que concorreu a deputado estadual em 2014. Com boletim de ocorrência em mãos e acompanhada pelo marido, uma das filhas, do advogado e assessor de Krämer, Ezequiel Stahl e também do candidato a prefeito na chapa de Krämer, Giovane Wickert (PSB), a beneficiária procurou a Folha do Mate que, na edição de ontem, tornou pública a investigação. No documento a mulher de 31 anos disse que recebeu a visita de uma assistente social que teria informado que ela perderia o benefício em virtude da doação. A agricultora também disse à Polícia que foi “orientada a fazer um boletim de ocorrência contra o candidato e ingressar com uma ação judicial, sendo assim poderiam procurar o prefeito que iria resolver o problema relacionado ao Bolsa Família para continuar recebendo o benefício”, diz o documento, no qual a Folha recebeu uma cópia.A beneficiária ainda relatou que nunca efetuou doação financeira para qualquer candidato e que apenas cedeu o carro da família para ser utilizado naquela campanha.

“Não é dinheiro, éa cedência do veículo”

Sobre o veículo, o advogado que também atuou no jurídico da campanha de Krämer, em 2014, apresentou o termo de cedência do veículo com data de 19 de agosto de 2014. Stahl explicou que os R$ 5 mil que constam no site do TSE não é dinheiro em espécie e, sim, trata-se do valor estimado do veículo que é lançado na prestação de contas. Ele explicou que o carro foi adesivado e utilizado para divulgação da campanha e, por isso, teve que ser declarado, como ocorreu com outras pessoas envolvidas na divulgação da campanha. “O Celso está sendo questionado por ser transparente”, disse Stahl.

E os outrosR$ 25 mil?

Outro documento trazido pela beneficiária à Folha do Mate, na tarde de ontem, mostra que ela aparece como doadora de R$ 30 mil, divididos em três parcelas de R$ 10 mil. Esse papel foi entregue, segundo ela, pela própria assistente social para mostrar que trata-se de um apontamento do MPF, situação também trazida pela Folha, na edição de ontem.A defesa alega que essa informação é mentirosa e que o documento é falso. “Basta acessar o site do TSE, que está disponível para todos, e ver que a única doação dela é de R$ 5 mil que refere-se à cedência do veículo, ou seja, não tem em nenhuma prestação de contas algum registro de doação de R$ 30 mil.”Em pesquisa realizada pela própria reportagem, no site do Tribunal, o nome da beneficiária aparece, apenas, como doadora dos R$ 5 mil.Sobre a situação da família, o advogado disse que a beneficiária não foi notificada até o momento, nem mesmo Celso Krämer. O político procurou o Judiciário, ontem,para tratar do assunto e não acompanhou o grupo em visita à Folha. O Judiciário local, por sua vez, apenas foi oficiado sobre a situação e remete a investigação a nível federal, pois trata-se de um benefício federal, portanto não é competência da Justiça local.