A recuperação de um portador da doença de alcoolismo é uma fase de constante cuidados, como é o caso de ‘G.Â’, que afirma estar em uma contínua recuperação. “Como se trata da doença com a bebida alcoólica, vive-se a recuperação de 24 em 24 horas para o resto da vida. Hoje vivo de uma forma menos dolorosa e mais tranquila, com muita paz e serenidade”, conta.
Após 33 dias de internação clínica ele ingressou no Grupo Sempre Unidos de Alcoólicos Anônimos (AA) de Venâncio Aires.Quando G. foi surpreendido pela doença, automaticamente, seus sentimentos desapareceram e entrou na depressão.
“Estava sem vontade de continuar vivendo, sem objetivos e com muitos problemas”, compartilha. “Eu não tinha mais outra opção, ou ia para uma clínica ou esperava a morte”, lamenta ao lembrar que estava em um estágio avançado, consumindo diariamente a bebida.
Na época não estava convencido que deveria procurar uma sala de AA, pois achava que estava curado até ter uma recaída. “Quando vi estava novamente bebendo e, pior, querendo beber tudo aquilo que eu considerava ter deixado de beber nos dois anos de sobriedade”, relata. Com a insistência do seu consultor ele procurou o grupo, pois entendeu a necessidade de continuar buscando ajuda. “AA para mim é a continuidade da recuperação, pois ali floresce a boa vontade, compartilhamento com os companheiros, enfim, é ali que eu busco o alimento da minha recuperação”, afirma. Ainda ressalta que no grupo aprendeu que apenas estaciona e controla a doença.
Segundo G., antes de ir para a clínica sua vida era um tormento, “na minha cabeça eu era uma pessoa normal e poderia parar de beber quando eu quisesse. Achava que era possível beber socialmente, ilusão de todo doente alcoólatra”, define. Depois que foi internado e ingressou na irmandade, as coisas começaram a mudar e seu relacionamento com a família está cada vez melhor. “Agora consigo conviver novamente em sociedade, retomei minha faculdade que havia trocado pela bebida”, comemora e completa: “jamais esperava ter esta nova oportunidade, porque tudo estava acima do almejado”.
No grupo ele conheceu 36 princípios que todo alcoólatra deve seguir. No início ele encontrou muita dificuldade, pois não sabia como executá-los. “Eu achava que deveria fazer tudo em um dia, então aprendi que deveria ir com calma”, conta. Para G, o primeiro passo, que é a aceitação, foi muito complicado, pois sem este dificilmente haverá recuperação. Também conta que encontrou dificuldade com o oitavo e o nono passo, estes referem-se à elaboração de uma relação de todas as pessoas prejudicadas e o devido reparo. “Eu achava que deveria fazer tudo isso já na primeira semana, porém, estes dois passos só devem ser colocados em prática quando a pessoa se julgar preparada para isso”, explica.
A maior dor que G. carrega até hoje é o de ter se afastado da sua família, “deixei ao encargo da minha esposa o de ser mãe e pai e ainda tinha tinha que se preocupar com um doente alcoólatra”, lamenta. Não conseguiu acompanhar o crescimento dos seus filhos. “Sempre achava que eles não gostavam do pai que tinham, infelizmente e para o bem da verdade, me adoravam mas tinham vergonha de conviver com um pai bêbado”, conta.
“é muito difícil o doente alcoólico procurar por ajuda e por isso é importantíssimo a ajuda da família, parentes ou mesmo amigos. Estas pessoas podem encontrar todas as informações no grupo Al-Anon ou mesmo com os companheiros de AA. O mais importante é dar ao alcoólico doente uma vida digna através da busca de informações. Não é vergonha pedir ajuda ou pensar no que os outros acham, mas sim, buscar o bem estar e tirar as pessoas do sofrimento, humilhação e desrespeito em que se encontram”, finaliza G.
FAMíLIA
Esposa de G. contou que sua família passou momentos difíceis até o dia de sua recuperação. Ela chegou ao ponto de ameaçar sair de casa com seus filhos, para ver se ele aceitava ajuda. “Eu não aguentava mais viver aquela vida, estava quase sem esperança de que aquilo tudo terminaria”, desabafa. Para ela a época mais complicada foi quando seus filhos eram pequenos e adolescentes. “Muitas brigas, constrangimentos, humilhações, medo e pavor”, descreve. “Meus filhos não tinham pai, mesmo que nunca deixasse-nos faltar nada materialmente e sempre nos sustentou. Não tínhamos sua companhia e seu carinho”, lembra. Ainda conta que ele era um profissional exemplar e que não faltava ao trabalho, só bebia após o serviço e aos finais de semana, momento que poderia ficar com os familiares.
Cansada, pediu para que ele procurasse o Alcoólicos Anônimos, grupo que conheceu através do rádio. Após grande relutância, G. resolveu se internar e avisou sua mulher. “Foi num sábado”, lembra aliviada. “Pensei que este período de internação iria ser doloroso para mim, mas não foi”, conta. Ela acompanhou todo o tratamento da clínica e começou a participar de programas familiares uma vez por semana na companhia dos seus filhos, além das visitas realizadas. “Logo pude perceber a mudança e a melhora, vi que ele havia aceitado que era doente e teria que se tratar”, compartilha.
Logo que G. recebeu alta, sua família tinha medo de que em alguma situação a vontade de beber voltasse e que ele não aguentasse. No início era evitado lugares e situações que pudesse haver bebida alcoólica. “Mas com o tempo, o medo foi dando lugar à esperança, à segurança que tudo ia dar certo”, conta.
Seguindo os conselhos dos responsáveis pela clinica, eles procuraram o AA e o Al-Anon. Segundo a esposa de G., nas primeiras reuniões ela não viu muito sentido e não acreditava que eles poderiam lhes ajudar, mas com o passar do tempo percebeu que foram acolhidos em uma grande família que está em constante busca pelo mesmo propósito e apoio. “Foi através da literatura, executando e lendo depoimentos de alcoólatras e familiares, entendendo que vivendo os Doze Passos e as Doze Tradições que encontramos o remédio para nossa doença e é fazendo parte dessas irmandades, AA. e Al-Anon, que eu e meu marido podemos ajudar outras pessoas que ainda sofrem com a doença”, finaliza.