Na Semana Nacional de Pessoas com Deficiência, o Instituto Federal Sul-rio-grandense campus Venâncio Aires programou uma atividade especial que ocorre desde terça-feira e se encerra hoje. Organizada por Rafael Ramos e Vanilda Macedo, representantes do Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Específicas do IFSul, a iniciativa mobilizou os cerca de 500 alunos do campus e fez com que um estudante de cada turma passasse pela experiência de ser deficiente por um dia.
Durante as aulas, alguns tiveram a oportunidade de ter os olhos vendados, outros, colocaram protetor auricular para tampar os ouvidos e não poder escutar. Teve, até mesmo, quem fez de conta que não tinha braço e precisou, como todos os outros casos, da ajuda de um colega monitor. Os alunos também puderam contar com palestras motivacionais a respeito do dia a dia de pessoas com deficiência.
De acordo com a chefe de gabinete da instituição, Daniele Schweikardt, no momento, não há aluno com nenhum tipo de deficiência, mas o IFSul está preparado para receber essas pessoas. Ela ainda ressalta que o local está dentro das normas de acessibilidade. “Nós temos todos os nossos prédios projetados horizontalmente, principalmente para facilitar as questões de acessibilidade. Também temos as rampas, estacionamentos para deficientes, portas das salas de aula na dimensão correta e cadeira especial para cadeirantes”, complementa. Contudo, como a instituição não tem experiência com alunos deficientes, Daniele acredita que essa atividade também seria uma forma de identificar alguma coisa que precisa ser melhorada para não comprometer pessoas especiais.
APRENDIZADONa opinião da profissional, atividades como esta agregam valores aos alunos, pois fazem com que eles se coloquem no lugar do outro. Embora nem todos tenham passado pela experiência de serem deficientes, ao menos puderam vivenciar as dificuldades que pessoas assim passam. Para Daniele, também foi um momento de todos trabalharem a sensibilidade e união.
Depois que as práticas foram finalizadas, ela ressalta que cada turma terá que relatar a respeito de como foi passar por essa experiência. “Os professores comentaram com os alunos que isso não era para ser uma brincadeira de ‘chacota’, mas sim, uma forma para ver como é conviver com alguém que tem algum tipo de deficiência. Inclusive é um desafio para o próprio professor, para ele saber como irá dar aula”, comenta.
De acordo com o representante do Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Específicas, do IFSul, Rafael Ramos, a iniciativa tem se mostrado muito positiva, tanto por parte dos alunos como também dos próprios professores. “Os alunos estão gostando, inclusive perguntaram se mais pessoas por turma poderiam ter essa experiência”, ressalta.
O tipo de deficiência que cada turma iria vivenciar foi surpresa, mas, segundo Ramos, não houve ressentimento na hora de escolher qual aluno iria se passar por um deficiente, pois todos tiveram o interesse de se colocar no lugar do próximo. O objetivo é realizar a atividade de novo no próximo ano e ainda intensificá-la, de modo que também sejam usadas cadeiras de rodas.
OPORTUNIDADEPablo Winter, 16 anos, passou pela experiência de não ter um braço e conta que de fato tudo é um desafio. “é bem diferente para escrever e me virar. Acho importante a atividade, porque não sabemos como nos comportar em situações como essa até viver elas”, ressalta. No almoço de ontem, por exemplo, o jovem precisou da ajuda de uma colega para que pudesse se servir. Atitudes como esta, segundo ele, mostram o quanto a união e o coleguismo são importantes.
O caso de Lisandra Franco, 16 anos, foi diferente. Ela ficou toda a tarde de ontem sem poder enxergar. Contudo, foi com a ajuda da colega e amiga Maiara Willms que ela conseguiu realizar as atividades. “Percebi que até o comportamento dela está diferente, porque está mais quietinha desde que os olhos foram vendados”, observa Maiara.
Lisandra aprovou a atividade, mas conta que a sensação de insegurança é inevitável. “Dá uma agonia e insegurança muito grande por não termos certeza dos nossos atos”, acrescenta.
A jovem acredita que, a partir de agora, a maneira de encarar a vida e algumas situações será diferente. “Eu percebi o quanto o apoio e ajuda dos colegas são muito necessários”, conclui.