Foto: Arquivo Pessoal / DivulgaçãoMartina é especialista em terapia cognitivo comportamental
Martina é especialista em terapia cognitivo comportamental

O animal é, definitivamente, o melhor amigo do homem. Da mulher. Da criança. Dos idosos. Na quinta-feira, 2 de abril, comemora-se o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, pensando nisso, a Folha do Mate traz, na edição do ‘Cantinho Animal’ desta terça-feira, informações sobre os benefícios dos animais de estimação, independente, se for, gato, cachorro, cavalo ou passarinho, sobre o quanto são necessários e espetaculares na hora de auxiliar no tratamento de doenças. Em entrevista, a psicóloga Martina Sbrissa Bortolin, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental e Especialista em Terapia Assistida por Animais pela Fundacion Bocalan, da Espanha, explicou a forma e a relação que se cria entre uma pessoa com autismo e um animal. Também, traz informações sobre o treinamento do animal. Estudos mostram a eficácia da Terapia Assistida por Animais (TAA) no tratamento de Autismo, de acordo com Martina, em muitos países a prática é realizada há bastante tempo, mas no Brasil, infelizmente, não. “Há estudos mostrando que as crianças estabelecem vínculos mais rápidos, ajuda no desenvolvimento de comportamentos sociais, diminuição da agressividade, da auto estimulação e alguns até demonstram verbalização das crianças que eram não verbais”, explica. Em contato com cães, o estudo mostra que é liberado Oxitocina, chamado ‘hormônio do amor’, responsável pela vinculação nas relações.

A relação que se estabelece é de amor e parceria. Os animais não julgam se a criança ou o adulto está em tratamento ou tem deficiência

-Qual a relação que o animal de estimação, seja ele cachorro, gato ou passarinho, pode ter com uma criança na hora de algum tratamento?A relação que se estabelece é de amor e parceria. Os animais não julgam se a criança ou o adulto está em tratamento ou tem deficiência. O que acontece com o terapeuta é fantástico. é possível estabelecer uma relação de confiança muito mais rápida com a criança quando estamos com o animal. O terapeuta se torna menos ameaçador e o vínculo é facilitado pelo animal. Além disso, o paciente responde as solicitações do terapeuta muito mais quando elas implicam em interagir com o animal, facilitando assim, o processo terapêutico.

-De que forma, os animais são importantes na hora do tratamento, especialmente do autismo?No tratamento das crianças com Autismo especificamente, é muito difícil conectar a criança ao seu entorno, principalmente nos casos mais graves. Os animais fazem com que ela foque mais sua atenção ao que esta acontecendo a sua volta, ela busca a interação com o cão, que utiliza a comunicação não verbal, que é muito mais fácil delas compreenderem. Além disso, o cão é um estímulo multissensor muito atrativo. As crianças com Autismo geralmente buscam a estimulação sensorial e têm dificuldades na integração, então o animal se torna uma ferramenta muito especial para desenvolver essa integração sensorial, através das brincadeiras e da estimulação. As atividades na terapia com os cães se tornam muito mais atrativas e divertidas, e motiva o paciente a interagir mesmo que a atividade implique em fazer um exercícios, que as vezes pode ser doloroso, como é nos exercícios de fisioterapias, por exemplo.

-Quais são as formas de terapias entre animais e humanos que existem no combate ao autismo?A terapia para o autismo é a Terapia Comportamental, ABA, e a Terapia Assistida por Animais facilita a aquisição das aprendizagens juntamente com estes outros métodos e torna mais divertido e motivante.

-Existe algum treinamento para o animal? Qual?Sim, além do treinamento existe também a seleção do animal. O cão, por exemplo, tem que ser um animal dócil, não reativo e disposto a interagir. O treinamento é feito desde filhote, através da socialização, processo onde é apresentado todo tipo de estímulo para o animal de forma positiva, apresenta-se o mundo e tudo que ele pode encontrar, para que ele não se assuste com nada. Depois desta fase vem o treinamento básico, controle de impulsos e de habilidades mais avançadas, onde o cão aprende a fazer truques, buscar objetos, levar objetos ao paciente.

-E como é para vocês desenvolverem um trabalho como esse?é desafiador e muito gratificante. Como é algo muito novo e que ainda não ha muitos estudos, é difícil introduzir e conquistar a confiança, principalmente dos profissionais, mas ao mesmo tempo é nítido a melhora no desenvolvimento das crianças em pouco tempo. Claro que temos muitos altos e baixos, pois o tratamento com crianças com Autismo é difícil. São muitas questões envolvidas e muitas perguntas a serem respondidas, mas percebo que muitas dificuldades que tinha em tratamentos anteriores são superadas com a ajuda dos cães muito mais rápido.

Projeto PioneiroPioneiro no Brasil, o projeto ‘Focinhos pelo Autismo’, ainda em desenvolvimento, pretende treinar cães de assistência as famílias afetadas pelo autismo. De acordo com o Martina, os cães de assistência são diferentes dos cães de terapia. Estes são como os cães guias para cegos. Mas passa por um treinamento diferente dos cães guias, são ensinados para auxiliar na vida diária de uma crianças autista e suas dificuldades. Os cães aprendem comportamentos específicos, como, por exemplo, bloquear comportamentos de fugas, que muitas crianças apresentam na rua, o que faz com que os pais evitem sair com eles. “O primeiro cão do projeto já está sendo treinado e será entregue para a família em novembro. O treinamento deste cão é complexo e tem um custo muito alto”, explica Martina. O projeto tem como objetivo treinar gratuitamente estes cães para entregá-los as famílias que não poderiam pagar por ele.