O casal de comerciantes aposentados, Maria de Lourdes, 84 anos, e Wunibaldo Kroth, 85, ainda está dormindo quando o jornal chega cedinho pelas mãos do entregador. Moradores de Vila Santa Emília, interior de Venâncio Aires, ler as notícias é uma das primeiras tarefas diárias do casal. “Gosto muito de ler, assim que o jornal chega vou direto conferir a previsão do tempo, a coluna do Sérgio Klafke e as páginas do esporte”, afirma Wunibaldo. Ele acrescenta que, para concluir a leitura de todas as notícias é necessário ler o impresso três vezes ao dia. “Geralmente dou uma olhada no início da manhã, faço meus afazeres em casa para depois dar continuidade à leitura e conferir os detalhes da edição.”
Já Maria de Lourdes gosta de conferir as fotos e a programação dos eventos na página social. A aposentada, aliás, começou a se interessar pelos impressos ainda na infância, quando os avós dela assinavam periódicos escritos em alemão e português.
Em 1972, assim que a Folha do Mate começou a circular no município, Wunibaldo e Maria de Lourdes assinaram o jornal. Durante muitos anos, o casal administrou um armazém de secos e molhados, a Casa Comercial Wunibaldo Kroth, que foi um dos pontos de venda da Folha.
Assinantes e leitores há 46 anos, o casal Kroth não abre mão do hábito da leitura, ao perceber que muitas coisas evoluíram nos últimos anos. “Antigamente o jornal era entregue pela escola da comunidade, depois de ônibus e agora tudo ficou mais rápido e o jornal é distribuído logo cedo, de moto pelos entregadores”, conta Wunibaldo.
“É nos finais de semana que o jornal circula de um lado para outro, de mão em mão. Aos domingos, já é tradição reunir os filhos, netos e bisnetos para confraternizar e conferir as notícias da Folha do Mate”, revela Maria de Lourdes.
UM POUCO MAIS DE HISTÓRIAO casal de moradores sempre viveu no interior de Venâncio Aires, em Santa Emília. Casados há 60 anos, Wunibaldo e Maria de Lourdes têm sete filhos. Quando casaram, assumiram a casa comercial que pertencia aos familiares de Maria, Leonardo Schmidt e Emílio Selbach. “Na época vendíamos de tudo, erva-mate, fumo e outros produtos que chegavam até o Porto de Mariante de carroça para então serem enviados a Porto Alegre, de barco.”
Assim como a Folha do Mate, a família Kroth percebe que Santa Emília também evoluiu em vários aspectos. Porém, as casas comerciais que existiam na época, foram perdendo espaço após o surgimento dos supermercados. “Hoje em dia, as pessoas se deslocam para a cidade quando querem comprar algo. Nos últimos anos, o comércio na localidade foi perdendo força,” afirma Maria de Lourdes.
A família já passou por momentos bons e ruins em Santa Emília. “Sempre moramos no interior e aqui criamos nossos filhos, mas um momento marcante em nossas vidas foi quando perdemos parte de nossas coisas depois de uma grande enchente do Arroio São João. Mesmo assim, demos a volta por cima”, relembra Maria de Lourdes. Apesar da evolução na estrutura em Vila Santa Emília, Wunibaldo percebe que muitas pessoas migraram do interior para a cidade. “A colônia está muito fraca hoje em dia”, conclui.