Dados do Escritório de Drogas e Crimes da Organização das Nações Unidas, publicados na revista Veja, mostram que o Brasil é um dos maiores mercados para a cocaína, superando os Estados Unidos em quatro vezes a média mundial. Um dos fatores que contribuem para estes números é a posição geográfica do país.

Guardadas as proporções, Venâncio Aires, que se situa entre as duas cidades pólos da região, é rota do tráfico de entorpecentes. Conforme a polícia, a droga mais consumida no município é a maconha. No entanto, a disseminação do crack toma conta de alguns pontos do bairro Battisti.

A ONU afirma que nos últimos anos houve uma contração nos mercados dos Estados Unidos e da Europa e revela que, na última década, o Brasil passou a ser o maior centro de distribuição da droga no mundo. Como causas para este alto índice, cita a posição geográfica do Brasil. A droga entra no país por avião, por terra (carros, caminhões e ônibus) ou por rio (barcos que cruzam o Amazonas) antes de ser enviada para o exterior.

Os dados da pesquisa revelam que em 2010, 0,7% da população da América do Sul – com 1,8 milhões de usuários – subiu para 1,2% em 2012, com 3,3 milhões de pessoas. As taxas sul-americanas são três vezes maiores que a média mundial e parte do aumento teria ocorrido por causa dos mercados do Chile e da Costa Rica.

Ainda segundo a ONU, o aumento do uso de cocaína na região é liderado pelo crescimento do consumo no Brasil, o maior mercado de cocaína na América do Sul. “Apesar de não haver uma pesquisa recente no Brasil, estima-se que a prevalência do uso da cocaína seja de 1,75% da população adulta do país”, alertou a organização.

Somando todas as drogas ilícitas, a ONU estima que existam 246 milhões de usuários no mundo (cerca de 5% da população entre 15 e 64 anos), das quais 27 milhões de pessoas seriam dependentes.

Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do MateDroga mais consumida pela elite custa entre R$ 25 e R$ 50 o grama
Droga mais consumida pela elite custa entre R$ 25 e R$ 50 o grama

DROGA DA ELITE

Venâncio Aires é rota do tráfico de entorpecentes. Segundo o inspetor Cassiano Dal Ongaro, que atua no Setor de Investigações (SI) da Polícia Civil, o fato de se localizar entre as duas cidades pólo (Santa Cruz do Sul e Lajeado), a credencia para esta situação. “Aqui há grandes traficantes, mas o fato de ser uma droga consumida na sua maioria pela elite, dificulta o trabalho de investigação.”

De acordo com o inspetor, a droga mais consumida no município é a maconha. “Mas há uma epidemia de crack na cidade e hoje 90% desta droga é comercializada no bairro Battisti”, afirma, destacando que a cocaína, por ser bem mais cara, tem um público seleto. “O grama da cocaína, dependendo da qualidade, varia de R$ 25 a R$ 50”, revela.

Sobre quem vende a droga, o inspetor menciona que o traficante de cocaína, geralmente, não vende outros entorpecentes. “Isso evita o corre-corre na vizinhança, para não chamar a atenção da polícia”, explica.

Mas o que leva o Brasil a ocupar esta posição? Para o policial, a lei é branda e encoraja os traficantes a atuarem aqui. “Há países, como na Indonésia, que o tráfico é punido com pena de morte. Aqui, o traficante fica um tempo preso e volta às ruas ainda mais forte”, observa. 

Ele cita dois casos que aconteceram recentemente. Um deles, de uma prisão feita no ano passado, de um traficante conhecido e que era investigado há tempo. “Foi preso, ficou meio ano na cadeia e hoje está solto, monitorado por uma tornozeleira eletrônica.

O outro caso é de um homem que fazia o transporte de cocaína que era distribuída em toda a região. Foi preso dia 6 de junho de 2012, condenado a mais de 11 anos, mas em 27 de janeiro deste ano teve direito à progressão do regime e passou ao semiaberto. “E em março já recebeu direito de usar tornozeleira eletrônica e está em casa”, revela Dal Ongaro, observando que isso é um dos fatores que encorajam as pessoas a entrarem para o ramo.