Foto: Kethlin Meurer / Folha do MateLeuckert ao lado da filha Carla, 48 anos, que hoje dá continuidade ao empreendimento familiar
Leuckert ao lado da filha Carla, 48 anos, que hoje dá continuidade ao empreendimento familiar

Na rua Osvaldo Aranha, perto da Prefeitura de Venâncio, há uma farmácia que fez história no município. Com 85 anos, aqueles que trabalharam no local carregam na memória o início do desenvolvimento da Capital Nacional do Chimarrão, quando tudo era diferente e, cada nova obra, era uma grande novidade.

Erno Leuckert, 91 anos, formado em contabilidade, começou a trabalhar na farmácia fundada pelo pai em 1929. Hoje, quem dá continuidade à empresa, é a filha de Erno, Carla Maria Leuckert, 48 anos.

Leuckert relembra o tempo em que no lugar dos roncos de ônibus, motos e carros, havia o silêncio de uma cidade que, aos poucos, se desenvolvia. Não muito longe da rua Osvaldo Aranha, as árvores ocupavam espaço e o verde da natureza predominava. Automóveis que transitavam pelo local eram poucos. “Eu sou do tempo que eu conhecia as pessoas que desciam na rua pelo carro que elas tinham”, comenta.

O aposentado conta que o ônibus, apesar de ter sido uma grande novidade na época, apenas passava por cerca de duas ruas de Venâncio. Como quase não havia automóvel, não é de se admirar que ‘Seu’ Leuckert não tinha concorrência. A outra farmácia que havia era do sogro José Pochmann, com o qual mantinha uma parceria. Pochmann era um especialista em fazer medicamentos, e esse foi um dos motivos que fez o pai de Leuckert optar por também implantar uma farmácia em Venâncio. DIFICULDADESNa época em que o aposentado começou a trabalhar, nada era tão fácil como hoje em dia. Entre as principais dificuldades, estava comprar alguns medicamentos. Para isso, Leuckert precisava ir até Porto Alegre. Hoje, isto não é um empecilho, mas na época em que os ônibus eram muito diferentes, chegar até outra cidade demorava muito e era um desafio. O aposentado comenta que havia poucos ‘viajantes’, pessoas estas, chamadas hoje em dia, de fornecedoras. Devido a isso, eram necessárias as viagens de uma cidade até outra.

Uma das maiores descobertas na área da saúde, segundo ele, foi a penicilina. O antibiótico, disponível como fármaco desde 1941, demorou cerca de um ano até chegar na farmácia Leuckert. Contudo, para fazer efeito, era aplicado de três em três horas até a ampola esvaziar. Diferente do que ocorre hoje, quando tudo é aplicado de uma vez só. A penicilina fez tanto sucesso, que Leuckert chegou a vender, em um período, mil ampolas, para uma cidade que, na época, tinha apenas cerca de dez mil habitantes. Como não havia concorrência, o aposentado conta que o movimento era considerado muito bom.

DESENVOLVIMENTOLeuckert viu Venâncio crescer e se desenvolver. Na opinião dele, a cidade melhorou muito se comparada à época em que havia poucos carros e um número muito menor de habitantes. Segundo ele, a Capital Nacional do Chimarrão apenas começou a se desenvolver de fato após a instalação do Banco do Brasil, por volta de 1969. Foi a instituição bancária que fez mais pessoas migrarem para o centro e implantarem os empreendimentos.

A farmácia é uma das poucas empresas que se mantêm tanto tempo em funcionamento. Qual é o segredo para manter um empreendimento durante tantos anos? Na opinião dele, o diferencial está no fato de ser uma empresa que passou de geração para geração. Por se tratar de um comércio familiar, o compromisso e responsabilidade de dar continuidade tornaram-se ainda maiores. Além disso, Leuckert explica que o segredo também está em ter um cuidado especial com as contas, de modo que não se compre mais do que de fato é possível. O atendimento e a credibilidade conquistada durante todos esses anos também contribuem para um fortalecimento ainda maior do empreendimento.

Seu’ Leuckert fez questão de explicar à reportagem como muitas coisas eram antes. Ele contou, com carinho, um pouco do que viveu na época em que o município dava ‘os primeiros passos’ para se tornar a nossa cidade Venâncio Aires que é hoje.