Na rua Osvaldo Aranha, perto da Prefeitura de Venâncio, há uma farmácia que fez história no município. Com 85 anos, aqueles que trabalharam no local carregam na memória o início do desenvolvimento da Capital Nacional do Chimarrão, quando tudo era diferente e, cada nova obra, era uma grande novidade.
Erno Leuckert, 91 anos, formado em contabilidade, começou a trabalhar na farmácia fundada pelo pai em 1929. Hoje, quem dá continuidade à empresa, é a filha de Erno, Carla Maria Leuckert, 48 anos.
Leuckert relembra o tempo em que no lugar dos roncos de ônibus, motos e carros, havia o silêncio de uma cidade que, aos poucos, se desenvolvia. Não muito longe da rua Osvaldo Aranha, as árvores ocupavam espaço e o verde da natureza predominava. Automóveis que transitavam pelo local eram poucos. “Eu sou do tempo que eu conhecia as pessoas que desciam na rua pelo carro que elas tinham”, comenta.
O aposentado conta que o ônibus, apesar de ter sido uma grande novidade na época, apenas passava por cerca de duas ruas de Venâncio. Como quase não havia automóvel, não é de se admirar que ‘Seu’ Leuckert não tinha concorrência. A outra farmácia que havia era do sogro José Pochmann, com o qual mantinha uma parceria. Pochmann era um especialista em fazer medicamentos, e esse foi um dos motivos que fez o pai de Leuckert optar por também implantar uma farmácia em Venâncio. DIFICULDADESNa época em que o aposentado começou a trabalhar, nada era tão fácil como hoje em dia. Entre as principais dificuldades, estava comprar alguns medicamentos. Para isso, Leuckert precisava ir até Porto Alegre. Hoje, isto não é um empecilho, mas na época em que os ônibus eram muito diferentes, chegar até outra cidade demorava muito e era um desafio. O aposentado comenta que havia poucos ‘viajantes’, pessoas estas, chamadas hoje em dia, de fornecedoras. Devido a isso, eram necessárias as viagens de uma cidade até outra.
Uma das maiores descobertas na área da saúde, segundo ele, foi a penicilina. O antibiótico, disponível como fármaco desde 1941, demorou cerca de um ano até chegar na farmácia Leuckert. Contudo, para fazer efeito, era aplicado de três em três horas até a ampola esvaziar. Diferente do que ocorre hoje, quando tudo é aplicado de uma vez só. A penicilina fez tanto sucesso, que Leuckert chegou a vender, em um período, mil ampolas, para uma cidade que, na época, tinha apenas cerca de dez mil habitantes. Como não havia concorrência, o aposentado conta que o movimento era considerado muito bom.
DESENVOLVIMENTOLeuckert viu Venâncio crescer e se desenvolver. Na opinião dele, a cidade melhorou muito se comparada à época em que havia poucos carros e um número muito menor de habitantes. Segundo ele, a Capital Nacional do Chimarrão apenas começou a se desenvolver de fato após a instalação do Banco do Brasil, por volta de 1969. Foi a instituição bancária que fez mais pessoas migrarem para o centro e implantarem os empreendimentos.
A farmácia é uma das poucas empresas que se mantêm tanto tempo em funcionamento. Qual é o segredo para manter um empreendimento durante tantos anos? Na opinião dele, o diferencial está no fato de ser uma empresa que passou de geração para geração. Por se tratar de um comércio familiar, o compromisso e responsabilidade de dar continuidade tornaram-se ainda maiores. Além disso, Leuckert explica que o segredo também está em ter um cuidado especial com as contas, de modo que não se compre mais do que de fato é possível. O atendimento e a credibilidade conquistada durante todos esses anos também contribuem para um fortalecimento ainda maior do empreendimento.
Seu’ Leuckert fez questão de explicar à reportagem como muitas coisas eram antes. Ele contou, com carinho, um pouco do que viveu na época em que o município dava ‘os primeiros passos’ para se tornar a nossa cidade Venâncio Aires que é hoje.