Com o objetivo de combater o analfabetismo, o programa ‘Alfabetizar: Um novo mundo que se abre’ foi implantado em Venâncio Aires no ano de 2010, mas deixou de ser realizado desde o ano passado. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, o motivo é a falta de interessados em participar da iniciativa, mas que pode ser retomada assim que houver demanda em determinada comunidade.
Entre 2010 e 2014, o programa alfabetizou 218 pessoas, que se somam a outras 57 que aprenderam a ler e escrever por meio da Educação de Jovens e Adultos (EJA). O trabalho fez com que o índice de analfabetismo entre os que têm mais de 15 anos caísse de 4,6% para 4% em Venâncio Aires, segundo dados repassados pela secretaria e referentes ao período.
Na avaliação da coordenadora do ensino fundamental da rede municipal, Andreia Cassuli, o índice é baixo e há dificuldade de despertar o interesse pela alfabetização junto a essa parcela da população. “O projeto foi se extinguindo de forma natural, por falta de demanda, porque é difícil de encontrar esses 4% de analfabetos”, afirma.
Andreia diz que muitas dessas pessoas “estão escondidas em seu mundo, têm vergonha de participar e acham que não precisam mais estudar, que já estão velhas para isso”. Apesar do ‘Alfabetizar’ ter sido interrompido, destaca que a avaliação do programa é positiva e ele pode ser reativado. “O projeto Alfabetizar não morreu, está em ‘stand-by’, mas se nós sentirmos que há demanda, nós vamos retomar.” Ressalta que as comunidades interessadas em contar com a iniciativa podem procurar a secretaria.
ALTA DESISTêNCIA
De acordo com a responsável pelo ‘Alfabetizar’, Bruna Wollmann, um problema enfrentado no programa foi o alto índice de desistência, sobretudo, em função da dificuldade dos alunos conciliarem os estudos com o trabalho, tanto na cidade quanto no interior.
Responsável pela EJA na rede municipal, Silvania Inês de Carvalho, acrescenta que a melhor forma de combate ao analfabetismo é evitar a evasão escolar na infância. Acredita que os regramentos que foram criados para manter as crianças em sala de aula contribuirão para a queda do índice. Exemplifica que o Bolsa Família tem ampliado a permanência na escola, uma vez que frequentar as aulas regularmente é um dos compromissos que os beneficiados devem cumprir para continuar participando do programa.
RELEMBRE O PROGRAMA
Voltado à alfabetização de jovens, adultos e idosos, o projeto Alfabetizar foi desenvolvido através do programa federal Brasil Alfabetizado. Puderam participar pessoas com mais de 15 anos que não sabiam ler e escrever. As aulas se davam de forma gratuita e, além disso, os alunos recebiam auxílio para alimentação, material escolar e, se necessário, para o transporte.Conduzido por alfabetizadoras, o projeto contava com turmas no meio rural e na cidade. Com duração de oito meses, as aulas ocorriam por meio de dois encontros semanais.
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“Nunca é tarde para voltar a estudar e sonhar”
Atualmente, como alternativa ao Alfabetizar, o Município conta com classe de alfabetização na modalidade de EJA junto à Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Dois Irmãos, do bairro Aviação.
Foi por lá que passou a diarista Rosane Lopes, de 49 anos. Na infância, ela concluiu apenas a segunda série. Abandonou os estudos devido a constantes mudanças de cidade da família. Sua volta às salas de aula deu-se no ano passado, quando passou pela classe de alfabetização da Emef Dois Irmãos. Neste ano, ingressou na EJA Intensivo. Seu sonho é ir até o fim para aprender cada vez mais.
Conta que ainda apresenta dificuldades para ler, escrever e também entender o que as pessoas falam, o que se coloca como um empecilho até para as coisas mais simples do dia a dia, como ir às compras. “Eu me sinto muito mal com isso.” A volta para a sala de aula tem sido desafiadora, mas, afirma, tem valido a pena. “Tudo o que eu aprendo é novo para mim.”
O metalúrgico Marcelo da Silva Ferreira, de 42 anos, também vê como positivo o seu retorno após 28 anos longe da sala de aula. Ele havia completado apenas a quinta série. Também encara essa volta à escola como uma forma de passar para os seus dois filhos a importância dos estudos. “é algo que se pede pelas empresas e pela vida.”
Assim como Rosane, ele inciou pela classe de alfabetização, onde ficou por quase três semanas, e agora segue o processo de aprendizado na EJA Intensivo. “é normal o cansaço após um dia de trabalho, mas precisamos persistir e encarar tudo isso como uma oportunidade.”
Após concluir a EJA Intensivo, já planeja cursar o Ensino Médio junto à Escola Monte das Tabocas e, quem sabe, cursar uma faculdade. Sonha ser professor de Educação Física. “Nunca é tarde para voltar a estudar e sonhar.”