Foto: Taís Fortes / Folha do Mate“Eu acho muito rica a utilização da internet e desses meios. Mas, a base de tudo é o equilíbrio que se tem que ter sobre o uso.”  Karine Pezzini, psicóloga
“Eu acho muito rica a utilização da internet e desses meios. Mas, a base de tudo é o equilíbrio que se tem que ter sobre o uso.” Karine Pezzini, psicóloga

Preocupação intensa com o número de curtidas, comentários e compartilhamentos nas postagens e a busca incessante por validação online através das mídias. Esses e outros fatores podem ser alertas de que é necessário ficar atento ao seu comportamento em relação ao uso da internet. É importante avaliar, também, o quanto a ‘vida virtual’ está interferindo nas suas relações interpessoais.

A psicóloga Karine Pezzini explica que, em geral, estamos numa geração na qual está se mudando as relações interpessoais. Ela acrescenta que é necessário haver um cuidado sobre isso, analisando, em especial, a intensidade e a frequência com que se utiliza da internet. “Ver o quanto a pessoa dá importância e fica, apenas, focando nisso, não dando atenção para as outras relações pessoais e sociais, mas só à relação virtual”, frisa. 

De acordo com a psicóloga, quando a pessoa passa a viver muito focada no mundo virtual podem ocorrer conflitos nas relações. “A comunicação entre as pessoas está mudando. Ao invés de conversar pessoalmente, no olho no olho, começa a se conversar através dos aplicativos. Isso altera as relações e a comunicação tradicional do falar pessoalmente. O conversar apenas no virtual pode causar muitas distorções na comunicação”, pondera. 

Um exemplo disso, é uma relação de amizade, na qual um amigo tira uma foto com determinado grupo e o outro não. O que não foi convidado pode se sentir excluído por não ter sido incluído na foto. “A utilização da internet não faz mal. É o equilíbrio e o que as pessoas interpretam da utilização disso que está gerando uma distorção na comunicação”, comenta. 

Karine ainda lembra que antigamente acontecia dessa maneira, mas não havia tanta exposição. “As pessoas saiam, mas as outras não sabiam. Hoje está muito exposto. Facebook é algo muito rico e importante, que as pessoas usam para a comunicação e para o emprego, por exemplo. Às vezes se discrimina muito a internet. Mas não é assim, só é necessário haver um equilíbrio”, afirma.

VALORIZAÇÃO 

De acordo com Karine, a era digital tem muito do quanto a pessoa se sente valorizada. “Existem pesquisas que dizem que a serotonina – hormônio do humor – aumenta muito a cada curtida, porque a pessoa se sente melhor. Às vezes, uma curtida a mais ou a menos já faz com que a pessoa modifique seu estado.”

A profissional ainda acrescenta que está havendo duas nuances: a vida da internet e a real, e que a pessoa precisa se preocupar quando acaba só vivendo a vida da internet, porque assim surge o isolamento.

FRUSTRAÇÃO 

A psicóloga também comenta que a internet pode proporcionar algumas ilusões. “A pessoa vai idealizando a vida que tem na internet e, por vezes, o real não é assim, então isso vai causar muita frustração quando ela se deparar com o real e ver que não é aquilo que ela imaginou. É aí que precisa se preocupar. Porque ela vai viver só essa vida.”

No entanto, Karine lembra que, por outro lado, existem pessoas com dificuldade de interação social que utilizam a internet como um instrumento para estimular e facilitar as conversas, tornando-a um benefício. “Aí está o equilíbrio. Não ficar só no virtual, mas utilizar isso como ferramenta para potencializar”, acrescenta.

CRIANÇAS E ADOLESCENTES

No caso de crianças e adolescentes a profissional destaca que os pais, além de ficarem atentos a intensidade e frequência com o que os filhos utilizam a internet, precisam ter um cuidado especial a respeito do conteúdo que o filho está acessando. “É necessário dar privacidade aos filhos, mas também, os pais precisam conversar com eles sobre o que estão usando.” Além disso, complementa dizendo que “as relações paternais são de exemplos.”

DICAS

– De acordo com a psicóloga Karine Pezzini uma dica importante para se avaliar como é o seu comportamento frente a internet e poder mudá-lo, também, é a autorreflexão, pois através dela as pessoas conseguem se dar conta de como está usando a internet. “Quanto eu estou dando importância para isso na minha vida? Acho que essa é uma boa pergunta”, compartilha.

– Além disso, ela ressalta que é importante que as pessoas discutam sobre o assunto, para que se conscientizem ainda mais sobre o uso. “A autorreflexão é importante para que eu perceba as minhas atitudes durante o uso da internet”, comenta.

– Referente aos pais, ela ressalta a busca por uma relação mais aberta, baseada no diálogo. “Assim, o adolescente vai se sentir mais a vontade para dizer como está utilizando a internet.”Além disso, ela lembra que é importante eles perceberem se essa utilização está interferindo nas outras áreas da vida. “Observar se ele está deixando de sair para ficar em casa apenas utilizando a internet, por exemplo.”

TRATAMENTO

Karine explica que o tratamento deve ser procurado quando o uso da internet está se tornando uma conflitiva para o sujeito, quando ele passa a sofrer e ter dificuldades nas outras áreas da vida e que ele varia de acordo com cada caso.

A terapia cognitiva comportamental – tipo de abordagem da psicologia – pode se tornar uma ferramenta importante para o tratamento desses casos. No entanto, a psicóloga frisa que usar esse tipo de terapia não significa descartar as outras. “Tudo se complementa”, afirma.

A profissional explica que esse tipo de terapia usa como principal técnica a autoanálise. “Ela vai fazer com que o sujeito se dê conta das suas ações e sentimentos perante certas situações, utilizando muito da autorreflexão.”