“A gente quer respeito. Muito que se fala é comentário e as pessoas aumentam muito. Tem gente boa aqui”, desabafou Andressa Cabral da Silva, 18 anos, que nasceu e cresceu no Battisti. Visto como um bairro violento, com altos índices de criminalidade e tido como um ‘dormitórioÂ’ de ladrões e de consumo de drogas, para os moradores o desafio é mudar esse rótulo.

Em um cenário em que prevalece a vulnerabilidade social, é possível encontrar dezenas de crianças brincando ‘soltasÂ’ pelas ruas, muitas vezes precisando de atenção, e adultos necessitando de uma ‘doseÂ’ de autoestima, aguardando medidas que possam mudar essa realidade. “O que estão fazendo ajuda a nossa geração, mas os mais velhos já estão desanimados”, comentou a jovem.

A ‘Vila’ ou a ‘Sete’, como ainda chamam, vem dando novos passos nos últimos anos, rumo a essa mudança que começa com a inclusão social e a garantia de direitos básicos. Além dos projetos habitacionais que possibilitam o acesso à casa própria, a pavimentação e a inauguração do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), que foram os projetos mais recentes, uma nova obra começa a ser aguardada. A Prefeitura anunciou, na semana passada, que construirá um complexo esportivo no bairro, que, além de contemplar os maratonistas, incentivar crianças e jovens na prática do esporte e abrigar diversas modalidades do atletismo, tem como objetivo promover a inclusão social.

Uma emenda parlamentar do deputado federal Sérgio Moraes, no valor de R$ 341.250, será utilizada no projeto que prevê a construção de uma pista atlética em tamanho oficial, quadras esportivas, vestiários, banheiros e salas de convenções.Ontem a Folha do Mate visitou o bairro e constatou que parte dos moradores não sabe do investimento, mas comemorou a notícia. “Tudo que vem para melhorar as coisas aqui é bom. Vai ser uma boa e quanto antes melhor”, disse José Salvador Pereira dos Santos, que mora há cinco anos no local e foi um dos contemplados com o projeto habitacional. “Assim nosso bairro vai melhorando”, completou.

Andressa, que também não sabia da obra, acredita que o complexo vai ser muito bom para as crianças que costumam ocupar as ruas para brincar e jogar bola. “Tenho orgulho do meu bairro e não sairia daqui.”

LUGAR ADEQUADO

Para avaliar a proposta, o prefeito Airton Artus chegou a visitar o local acompanhado por maratonistas do município, na semana passada. Para tanto, na segunda-feira, 18, a pedido de alguns atletas, o bombeiro Claudiomiro da Conceição, que já correu pela Ulbra e pela Sogipa, esteve na tribuna da Câmara de Vereadores para solicitar que a obra seja feita em outro local. Argumentou que entre os atletas que estiveram com o prefeito, a maioria não teria aceito que o complexo fosse construído lá. “Em menos de um ano tudo estará depredado.”

Conceição citou também as enchentes, o consumo de drogas, a criminalidade, entre outros fatores que teriam, segundo ele, gerado “insatisfação da população”, e pediu apoio dos vereadores e a sensibilização da Administração, para que seja construído em um local mais centralizado, como o Parque do Chimarrão ou nos bairros Cidade Nova e Aviação, que seriam mais apropriados, opinou. “Por que não fazem uma pesquisa para consultar melhor o lugar? Foi apresentado o projeto apenas para cinco, seis corredores e eles que pediram para eu vir aqui para os vereadores serem contra.” Por fim, disse que, com esse investimento, seria possível sediar competições estaduais e abrir espaço para descoberta de novos atletas e competidores. “Mas como uma pai vai ter segurança de levar um filho lá? Peço desculpas aos moradores da Battisti, mas lá dentro tem gente ruim, que usa droga. Não adianta esconder isso. Os bons pagam pelos ruins”, lamentou.

Contrariando a manifestação de Conceição, a reportagem encontrou no Facebook manifestação de um dos corredores ao chefe do Executivo. “Toda obra, prefeito, gera manifestações contrárias e também favoráveis. Estou aqui para garantir ao senhor que 80% dos atletas locais aprovam a construção da pista proposta pela administração”, escreveu Dieferson Umbelina. Disse no seu depoimento que irão (os atletas) continuar, no futuro, reivindicando outro local, mas que, por ora, “a obra vai ser muito importante para aquela localidade, proporcionando qualidade de vida e ajudando inclusive a resgatar sua autoestima. Eu aprovo esse projeto de visão  social”.

O projeto foi enviado a Brasília. Conforme a assessoria de imprensa da Prefeitura, o prazo se encerrou no dia 15 da semana passada e até o dia 30 deste mês o empenho das emendas cadastradas deve sair, devido às questões da legislação eleitoral. “Se isso acontecer, deve ser apresentado o projeto para a liberação do recurso. O prefeito quer abrir licitação até o fim do ano”, informaram. Ainda, segundo a assessoria, como havia um prazo para o cadastro do projeto da pista e o terreno, além de pertencer ao Município, tem as medidas, o local já está pronto para receber os recursos. No entanto, observa que nada impede que outra área seja escolhida, caso a comunidade entenda que não é local apropriado para a obra.