
Apesar da importância cultural da erva-mate para Venâncio Aires, economicamente a atividade perdeu enorme representatividade. Estudo divulgado pelo Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate) indica que em 1990 o município – que sustenta o título de Capital Nacional do Chimarrão – era líder em produtividade e em área cultivada no Rio Grande do Sul. Na virada do século a situação ganhou novos contornos e atualmente Venâncio nem figura mais entre os dez mais produtivos. Agora, o posto é ocupado por Ilópolis que corresponde por 22% da erva-mate colhida no estado.
O secretário-executivo do Ibramate, Roberto Ferron, um dos responsáveis pelo estudo, indica que vários fatores influenciaram para a queda de Venâncio Aires nesse cenário. Diferentemente de outras regiões, a erva-mate do polo dos vales é cultivada principalmente a céu aberto, enquanto que outras áreas o predomínio é da planta nativa, que cresce naturalmente sob a sombra das araucárias e recebe apenas o manejo dos produtores.
Essas áreas são planas e pela facilidade na mobilidade do produtor local, elas passaram a disputar espaço, além do tabaco, também com as recentes investidas na soja, milho e trigo. “Por parecerem num primeiro momento mais rentáveis o produtor migra para essas culturas”, destaca, Ferron. “A região alta do Vale do Taquari é líder atualmente na produção de erva-mate por ser um terreno muito acidentado. Assim o produtor virou especialista no cultivo, coisa que não aconteceu em Venâncio Aires”.
Ferron cita ainda a mão de obra escassa para o segmento também contribui para isso. “Precisamos pensar em parcerias com indústrias e universidades para estudarmos efetivamente a mecanização em grande porte”, informa.
SABOR MAIS INTENSO
O Sindicato da Indústria do Mate no Estado do Rio Grande do Sul (Sindimate) acompanha com atenção o mercado no cone sul americano. Para o vice-presidente e empresário Gilberto Heck, de Venâncio Aires, a erva-mate local é altamente propicia para exportação e estados brasileiros habituados a consumirem o tererê.
“O fato da erva-mate ser mais forte em nada influência no preço. Mercado existe. O que é preciso é a profissionalização da atividade. A erva local é facilmente vendida na Argentina, Uruguai e Mato Grosso do Sul e Mato Grosso” cita Heck.
Mas o empresário argumenta que o empreendedor rural precisa se conscientizar da necessidade de melhorar o manejo, aliado às boas práticas. Com isso, pode ter uma escalada maior no preço pago ao produtor, mas acima de tudo a volta do reconhecimento de Venâncio Aires no segmento gaúcho.
Foi justamente para fortalecer a base que surgiu em maio de 2013 a Associação dos Produtores de Erva-Mate dos Vales (Aspemva). Em recente prestação de contas o presidente Cleomar Konzen disse que é crescente a mobilização para agregar novas técnicas e ferramentas. Fomento de mudas e replantio de ervais, além da troca de contato com outros polos já é realizado. Os mais frequentes são com os polos ervateiros de Machadinho e da região alta do Vale do Taquari. Aspemva é também uma das entidades representativas dentro do Ibramate.
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
Se depender da Secretaria Municipal de Agricultura e do escritório da Emater/Ascar-RS de Venâncio Aires essa realidade pode mudar. O secretário André Kauffmann chegou a dizer que teria se chegado ao fundo do poço. Mas, agora, afirma que é preciso inverter a lógica. Junto com a assistência técnica da Emater acredita que seja possível qualificar o homem do campo a partir das novas regras de mercado para o setor.
O secretário também quer incentivar áreas específicas para o plantio e não mais o consorciado como é característica local. Ele acredita que com isso o manejo possa ser melhorado já em pouco tempo. “Precisamos profissionalizar a produção em todos os sentidos. Precisamos selecionar melhor as mudas, aumentar a mecanização e aumentar as visitas técnicas a outros polos produtores”, informa.

NOVO MOMENTO
Apesar da Emater ainda contabilizar cerca de 500 produtores em Venâncio Aires, a meta é evitar novas perdas no setor. Um dos produtores que deixou de apostar na cultura é Alvino Sausen, 62, que junto com o filho Eduardo, 20, cultivam até 40 hectares de soja e milho.
Apesar de ainda comercializar de tempos em tempo algumas arrobas, a mecanização e o preço pago pelo plantio dos cereais se mostra atualmente mais vantajoso, informa Sausen. Ele cita ainda a falta de mão de obra e perda da rentabilidade como fatores primordiais para abandonar a erva-mate.
O técnico do escritório local Alex Davi Gregory informa que em breve serão lançadas inicitivas, junto com a Aspemva, para fortalecer o polo.
VENÂNCIO AIRES E O CHIMARRÃO
A popularidade da bebida levou o estado a definir em lei Venâncio Aires como a Capital Nacional do Chimarrão. Os próprios símbolos oficiais do município, como o hino e o brasão, fazem referência à tradição dos gaúchos.
No hino, com letra e música de Selita Dalmás, logo na primeira estrofe está a frase “Salve a capital do ouro verde” e ao longo da música aparece outra frase com referência à economia local: “Onde cresce o fumo, o erval”.
O brasão de Venâncio Aires é composto por dois ramos de tabaco e no interior há duas mãos unidas e uma cuia de chimarrão. Além disso, desde 2013 o chimarrão é também a “bebida símbolo” do município.
O maior jornal impresso de Venâncio Aires – Folha do Mate – e a principal empresa de transporte coletivo urbano, a ChimaTur, também fazem referência. Pórtico, Fenachim, Festival do Churrasco e Chimarrão, Rotary Club Chimarrão, chimarródromo, Largo do Chimarrão, CTG Erva-Mate, Biblioteca Pública Municipal Caá Yari, Organização Não Governamental Instituto Escola do Chimarrão, Esporte Clube Guarani e mesmo paradas de ônibus contribuem e enfatizam a importância cultural da bebida simbolo em Venâncio Aires.
COMÉRCIO EXTERIOR
Nas exportações, Venâncio Aires permanece, contudo, em destaque. Dados catalogados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços indicam que em 2016 o município esteve entre as principais cidades gaúchas exportadores da planta cancheada. Venâncio Aires figurou em sexto e exportou US$ 1.116.791. A medida representou 1,7% do total do segmento.
Com relação ao volume total (em kg) de erva-mate cancheada, o estado do Rio Grande do Sul foi responsável por 80,6% das exportações brasileiras, no ano de 2016. O maior montante de recursos obtido com as exportações, ocorreu no ano de 2014, sendo de US$ 114,1 e 88,9 milhões de dólares, respectivamente para o nível nacional e estadual.
