Em Linha Olavo Bilac, no fim de uma longa descida estreita e cheia de curvas, mora dona Erna, que é casada há 47 anos com seu Ornélio Endler. Lá, eles criaram os quatro filhos e recebem, sempre quando dá, os 11 netos. Uma casa construída em 1968, com cinco quartos, duas salas amplas, uma cozinha e uma varanda espaçosa e aberta para acolher a família, os dois cachorros e nove gatos. Além da ‘suíte’ do casal, cada filho tem o seu quarto, que hoje também acomodam os netos.

Uma casa antiga, onde o branco não é mais branco. As paredes, que agora são bejes, têm o charme do reboco cinza do cimento. Dentro, a casa é verde, igual ao imenso campo emoldurado pelas janelas que iluminam a sala escura como o assoalho. Ao caminhar pelo seu interior, os passos ecoam pelos rugidos da madeira velha, como a casa. Do lado de fora, o campo se soma aos 15 hectares de terra. O espaço precisa ser amplo, afinal, são 14 gados leiteiros, dois terneiros, algumas galinhas e três porcos.

Haja espaço para tanto animal que não fica preso. Assim como os donos, que têm o direito de ir e vir, os ‘bichos’ também têm. Exceto uma vaca que tem labirintite. Ela não consegue se equilibrar direito. “Não te preocupa que ela não dá coice”, diz seu Ornélio. Questionado, ele brinca: “ela não consegue dar coice porque não consegue ficar em três patas só”. A coitada, que caminha batendo nas coisas, já caiu em barrancos algumas vezes, tendo que ser resgatada por trator. Agora, por segurança, fica presa.

Todos os dias, dona Erna acorda com as galinhas. Levanta às 5h, toma café e vai ordenhar. Dois são os momentos que ela ‘tira’ o leite da vaca: ao amanhecer e no calado da noite. Devido a um problema de saúde que seu marido tem, ela faz o trabalho sozinha. Diariamente, duas vezes por dia, ordenha os 14 gados leiteiros. Depois, recolhe o leite e guarda no resfriador. Também, faz comida, cuida da casa e do marido, que ajuda dentro dos seus limites, pois não pode fazer força. “é uma vida de quem mora no campo”, diz dona Erna.