Com informações de Agência Brasil.

A defesa do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) divulgou nota em que “não confirma” as informações publicadas em reportagem, publicada ontem, pela revista Istoé. A reportagem diz que o parlamentar firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).“Não conhecemos a origem, tão pouco reconhecemos a autenticidade dos documentos que vão acostados ao texto”, diz a nota. O texto diz ainda que Delcídio não foi procurado pela reportagem para se manifestar sobre os fatos relatados. Sobre se teria firmado um acordo de delação premiada, a defesa e o senador não mencionam. Para ser válido, o acordo precisa da homologação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, responsável pelos inquéritos da Lava Jato na Corte. Depois disso, provas do que disser no âmbito da delação premiada precisam ser apresentadas.

Foto: Divulgação / Agência BrasilDelcídio do Amaral não nega acordo de delação
Delcídio do Amaral não nega acordo de delação

A reportagem da IstoéA reportagem da revista diz que, na delação premiada, Delcídio teria feito denúncias contra a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a revista, o senador teria informado que procurou a família do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró por determinação de Lula para tentar impedir que Cerveró firmasse acordo de delação premiada com o Ministério Público em outubro do ano passado. De acordo com a revista, a Dilma Rousseff teria interferido nas investigações da Operação Lava Jato.

 

Delcídio fazia visitas ao Ministério da Justiça por temer delações, diz Cardozo

O recém-empossado advogado-geral da União (AGU) e ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que recebeu inúmeras visitas do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), quando comandava o Ministério da Justiça. Apesar de, na época, Delcídio fazer as visitas sob as mais diversas justificativas, Cardozo entende, agora, que o motivo real dos encontros era tentar induzi-lo a atuar contrariamente às delações premiadas firmadas por investigados pela Polícia Federal. Para Cardozo, Delcídio tinha medo de acabar sendo citado em alguma delação.

 “Delcídio vinha quase que diariamente ao ministério. Meus assessores testemunharam a presença cotidiana dele por aqui. Eu até brincava que ia colocar uma placa com o nome dele em uma salinha. Vinha, aparentemente, por assuntos diversos, mas o que ele mais falava era: ‘temos de ver essa história de os réus estarem sendo pressionados para fazerem delação premiada’”, lembrou Cardozo, em discurso após transmitir o cargo de ministro da Justiça ao procurador Wellington César Lima e Silva.

Segundo Cardozo, Delcídio dava a impressão “de estar defendendo uma causa”, ao dizer que alguns estavam tentando prejudicar o governo. “Agora eu vejo que ele não estava defendendo nada ali, além do fato de não querer essas delações, para não ser prejudicado”. A situação, segundo o ex-ministro, “beirava o insuportável”.

 Indignação

O ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, disse que a presidenta Dilma Rousseff está preocupada e recebeu com indignação a notícia de que o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) teria firmado um acordo de delação premiada em que teria declarado que a presidenta e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinham conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras.“Ela [presidenta Dilma] está preocupada, porque eu acho que é uma coisa totalmente fora de qualquer padrão, uma delação que eu não sei se foi, pelo que sei não foi homologada, que envolve ministros e principalmente a figura da presidenta da República”, disse Jaques Wagner a jornalistas, após evento no Palácio do Planalto.

Foto: José Cruz / Agência BrasilJaques Wagner citou o caso da escola Base, ocorrido na década de 1990, quando diversas reportagens relataram casos de abuso sexual por parte dos donos da instituição. O caso foi arquivado por falta de provas.
Jaques Wagner citou o caso da escola Base, ocorrido na década de 1990, quando diversas reportagens relataram casos de abuso sexual por parte dos donos da instituição. O caso foi arquivado por falta de provas.

Segundo o ministro, Dilma recebeu a notícia “com a mesma indignação” que ele “ou talvez mais”, já que “envolve diretamente o nome dela”. Para Jaques Wagner, se o senador fechou acordo, as declarações deveriam ser mantidas em sigilo. Cabe à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal investigar se houve vazamento, o que considerou “gravíssimo” e “intolerável”.”Se ela [delação premiada] deveria estar protegida por sigilo, estou entendendo que a delação perdeu o seu valor de fato, do ponto de vista do processo judicial, e virou o que tem virado muitas vezes: a execração pública para depois alguém provar que algo está diferente”, disse o ministro.

Segundo ele, é “intolerável” num Estado democrático de Direito haver o linchamento público de uma pessoa para depois se dizer se realmente foi válido. “Quem fez o vazamento? Alguém vai apurar? Ou fica pelas calendas isso? Isso é um crime gravíssimo, porque está sob sigilo de Justiça, deveria ir às mãos do ministro Teori [Zavascki, relator dos inquéritos da Lava Jato no STF], que é quem preside esse feito, e de repente sai. é mérito talvez da revista, do órgão de imprensa que conseguiu”, afirmou. ” Este ambiente que estamos vivendo destrói democracia e crença nas instituições. Estamos indo para o tudo ou nada, para o vale-tudo. Qualquer um faz o que quer para atingir o seu objetivo. Eu acho, como democrata, gravíssimo isso aí”, disse.

“Muita poeira”

Para Wagner, o suposto relato de Delcídio “não tem consistência” e há “muita poeira”. “Alguém viu alguma prova ali? Não, eu só vi suposição onde ele próprio é o delator, ele é a testemunha, ele é tudo. Acho que não tem nenhuma consistência ali não. Tem muita poeira e pouca materialidade, mas eu não vou entrar nessa discussão”, disse o ministro.

 

Dilma critica vazamentos

A presidente Dilma Rousseff disse, em comunicado, repudiar o vazamento de uma suposta delação premiada. Por meio de uma nota, assinada pessoalmente, considerou ser “justo” que o teor seja de conhecimento da sociedade se a delação existir e tiver autorização da Justiça. “Os vazamentos apócrifos, seletivos e ilegais devem ser repudiados e ter sua origem rigorosamente apurada, já que ferem a lei, a justiça e a verdade”. Ela também disse que, se há delação premiada homologada e devidamente autorizada, é justo e legítimo que seu teor seja do conhecimento da sociedade. “Repudiamos, em nome do Estado Democrático de Direito, o uso abusivo de vazamentos como arma política. Esses expedientes não contribuem para a estabilidade do País”, defendeu.