Demanda por atendimento para dependentes é grande

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Com as mãos trêmulas e perto do rosto para conter as lágrimas que teimam em cair. é assim que Rafael Gustavo Wanner, de 24 anos, natural de Campo Bom, relata anos de desespero. “Se não tiver alguém querendo te ajudar ela domina”. O jovem refere-se à droga, que experimentou pela primeira vez com 11 anos. “Começou com cigarro, depois foi para bebida, maconha, cocaína e crack”, lembra.

 

Rafael conta que usou cocaína por aproximadamente oito anos: “Mas até aí eu trabalhava e comprava a droga com o próprio dinheiro”. A virada aconteceu quando experimentou o crack. “Em três meses eu não tinha mais nada”, afirma e acrescenta: “Até que eu não achei mais o que tirar de casa e arranquei as portas e janelas para vender”. Ele morava com a mãe, que depois de inúmeras tentativas desistiu e mudou.

 

Endividado, machucado por apanhar de traficantes, magro e procurando comida no lixo. Desse jeito que Rafael resolveu pegar a estrada rumo a Venâncio Aires, atrás da madrinha. Como não tinha dinheiro e ninguém na rodoviária o ajudou, seguiu o destino com as próprias pernas. “Vim caminhando. São cerca de 120 quilometros e cheguei em dois dias”, recorda.

 

A madrinha recebeu o jovem e o encaminhou para o pastor Marino Soares dos Reis, que administra um abrigo para dependentes químicos no bairro Coronel Brito. “No abrigo encontrei o abraço de um pai que nunca tive”, destaca. Ele ainda salienta: “Foi o homem que acreditou em mim e me deu uma chance”.

 

No local, permaneceu cerca de um ano e encontrou apoio, uma estrutura e a palavra de Deus, conforme enfatiza. Atualmente, reestruturou a sua vida. Esta empregado, é casado, possui uma filha de 6 meses. No entanto, nunca esqueceu da ajuda recebida no abrigo e volta sempre. “Para matar a saudade e ajudar um pouco também”, ressalta.

 

Abrigo

O pastor Marino se emociona ao lembrar com Rafael dos momentos de sofrimento e comenta as dificuldades para manter o abrigo: “Falar em solidariedade é fácil, difícil é agir”. Ele diz que além das limitações financeiras e estruturais, enfrenta com os meninos que atende a barreira da reintegração. Â“Trabalhamos em três etapas: a desintoxicação, a disciplina e a reintegração. A reintegração envolve voltar para casa, procurar uma escola, um trabalho. Muitas vezes a própria família não ajuda nessa fase”, desabafa.

 

O lugar atende no momento sete pessoas e recebe ajuda financeira do município, porém precisa completar as contas com doações da igreja. Os jovens são encaminhados para o abrigo principalmente pelo Centro de Atenção Psicosocial álcool e Drogas (Caps AD).

 

Sobre a construção de um centro de reabilitação para dependentes químicos em Venâncio Aires, o pastor não tem dúvidas: “Iria fazer muita diferença”. Ele destaca a importância de um tratamento contínuo e prolongado, com base no diálogo, na espiritualidade e em atividades alternativas, como aulas de música e marcenaria, trabalhos desenvolvidos no local. Rafael compartilha a mesma opinião e cita que esteve internado cinco vezes, no entanto, sempre por mais ou menos 20 dias. Ele acredita que o que fez a diferença no seu processo de desintoxicação foi justamente o período maior no abrigo.

Estrutura no município

Em Venâncio Aires, os dependentes químicos e familiares que procuram a Secretaria de Desenvolvimento Social são encaminhados para o Caps AD, segundo salienta a secretária Claidir Trindade. Contudo, Mara Lawall, coordenadora do centro no município, enfatiza que não é necessário nenhum encaminhamento específico: “Qualquer familiar ou o próprio usuário pode procurar o serviço e será acolhido para tratamento”.  

 

A psicóloga explica que o Caps AD atende também moradores de Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde. Atualmente, o número de pacientes cadastrados é de 1.060. “O Caps AD oferece várias possibilidades de tratamento ao paciente, como atendimento psiquiátrico e psicológico, acompanhamento medicamentoso, grupos terapêuticos para usuários e familiares, visitas domiciliares, oficinas terapêuticas e remoção de pacientes para internação em unidades de referência”, enfatiza.

 

De acordo com Mara, a maior dificuldade é fazer tanto o paciente quanto a família aderir ao tratamento de forma regular. “O tratamento está disponível, sendo que o serviço procura adequá-lo aos pacientes e atendê-los de forma individualizada, respeitando o seu momento e as suas necessidades”, comenta.

 

Ela nota que a busca por suporte aumenta a cada dia, portanto, avalia: “é importante que o município possa oferecer aos seus pacientes dependentes um espaço que dê continuidade ao tratamento de internação. Temos no hospital uma ala psiquiátrica para dependentes químicos, mas ainda falta um local onde o paciente possa ser abrigado por um tempo maior”.

 

Hospital

O Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) destina seis leitos para a desintoxicação de dependentes químicos. Os pacientes podem procurar de forma espontânea o Pronto Atendimento, onde é avaliada a necessidade de internação ou de acompanhamento pelo Caps AD. Casos específicos também podem ser levados do centro para o hospital.

 

A psicóloga Ana Lúcia Oliveira e a assistente social Ana Paula Pereira tabalham com os dependentes e explicam que a permanência é de até 21 dias. Na instituição eles são atendidos pela equipe de saúde mental, que compreende enfermagem, serviço social, psicologia, nutrição e medicina. A rotina no HSSM compreende horários de grupos, como de espiritualidade, familiares e alimentação saudável, além dos atendimentos individuais conforme as necessidades.

 

As profissionais do hospital acreditam que quanto mais ações o município pode oferecer no tratamento de dependentes químicos, mais êxitos podem ser obtidos em relação ao alívio do sofrimento de todos os envolvidos, o próprio paciente, seus familiares, amigos e comunidade em geral.

Comen

O Conselho Municipal de Entorpecentes (Comen) é outra entidade envolvida com a questão dos dependentes químicos em Venâncio Aires. O presidente Moisés Bica de Assunção enfatiza que muitos jovens continuam perdendo para as drogas e que todos gostariam de ter uma oportunidade para sair do vício, mas não conseguem sozinhos. Ele considera: “Se força de vontade fosse suficiente teríamos menos fumantes e alcoólatras, por exemplo”.

 

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