Foto: Kethlin Meurer / Folha do Mate.

Andar de ônibus, para algumas pessoas, é algo que já faz parte da rotina e, também, às vezes, é a única opção para que possam ir de um lugar até outro. Entre essas idas e vindas, não dá para deixar de lado que essas pessoas são desafiadas todos os dias em diferentes situações, seja por meio da paciência que precisam ter para esperarem o ônibus, assim como, por terem que ficar muitas vezes em pé quando não há lugar para sentar.

A reportagem foi além, e se aventurou a percorrer os bairros de Venâncio Aires de ônibus, com o objetivo de conhecer a realidade das pessoas que dependem com frequência do transporte coletivo para irem até o centro. Para isso, fomos até o bairro Cidade Nova, onde pegamos o ônibus às 13h27min. O atraso do transporte foi em torno de sete minutos, segundo uma das passageiras. Pagamos as passagens no valor de R$ 3,20 por pessoa e fomos rumo a mais um dia destinado a ‘reportear.’

O ônibus tinha muitos lugares vazios, talvez em função do horário, que não era de pico. à medida que os passageiros entravam, notava-se que a maioria aparentava ter mais de 50 anos. Na hora de embarcar, muitas pessoas apresentavam ao motorista a carteirinha de Passe Livre, ou seja, eram isentas do pagamento.

Difícil mesmo era escrever, já que o ônibus balançava muito, parava e arrancava com frequência. Cada passageiro que tinha que descer, necessitava puxar uma cordinha localizada no alto, ao lado da janela. Contudo, a tarefa não era tão simples assim, ao menos para as pessoas idosas. Para elas, era difícil ficar em pé e puxar a corda que emitia um som e sinalizava que a próxima parada era o destino.

Quando chove,o desafio é grandeA reportagem conversou com a dona Regina Fagundes, 50 anos, que trabalha em Venâncio como cuidadora de idosos. Regina embarcou conosco e conta que depende sempre do transporte coletivo para ir trabalhar. Ela, que não tem carro e não sabe dirigir, comenta que o ônibus é uma alternativa para se deslocar de um lugar até outro. Em média, por dia, fica cerca de 50 minutos dentro do transporte. “Para mim é melhor ir de ônibus, porque ir a pé até o centro é muito longe”, comenta.

Embora seja grata pelo transporte que a leva até onde deseja, Regina se queixa do número de voltas que os ônibus faz. Na opinião dela, são muitos trajetos para um único ônibus: “Deveria ter mais horários de ônibus, porque eu fico andando muito tempo para ir em um lugar que não é longe”, explica. Em dia de chuva, a rotina de quem depende do transporte também não é a mais fácil. O ônibus costuma estar lotado e, como há paradas que não têm proteção, sorte de quem consegue se proteger com o próprio guarda-chuva e não se molhar.

Regina conta que também sente falta da pontualidade nos horários de ônibus. Além do mais, para ela, o preço do transporte poderia ser um pouco inferior aos R$ 3,20.

ôNIBUS LOTADOA opinião da aposentada Celina da Silva, 72 anos, não é diferente. Moradora do bairro Xangrilá, ela faz uso do transporte coletivo três vezes por semana. “Ando de ônibus para ir até o médico, fazer as minhas coisas, buscar exames”, explica ela. Logo quando questionamos se é um desafio andar com frequência de ônibus, ela não demorou muito e respondeu: “é sim, um desafio grande, porque, às vezes, tem gente demais e o ônibus faz muitas voltas.”

Mesmo com 72 anos, Dona Celina não tem moleza no transporte. Ela conta que já chegou a ficar em pé por não haver sequer um banco disponível.

Na opinião dela, o valor do transporte está em um preço acessível: “Mas não pode ficar mais caro. Tem que continuar assim.” Celina, quando anda de ônibus, costuma percorrer o trajeto da rua Silveira Martins até a Júlio de Castilhos, quando desce na rodoviária velha. Tem dias que, de acordo com a lotação do ônibus e agilidade do motorista, a aposentada chega a ficar uma hora dentro do transporte.

úNICA ALTERNATIVAPassageiros entravam, outros saíam. A reportagem ficou atenta a tudo e percebeu que, para muitas pessoas, andar de ônibus, de fato, era a única alternativa. Contudo, em meio a todos esses desafios, notamos que algumas pessoas, por dependerem quase que todos os dias do transporte, acabam por construírem amizades e conhecerem, também, um pouco da história de outras pessoas que têm uma rotina de vida semelhante.

Depois de ‘reportear’, ouvir e conversar, a reportagem chegou até o destino, perto da Folha do Mate. Antes de descermos do ônibus, verificamos com o motorista a quilometragem percorrida desde o local do embarque. Saímos do veículo e algo chamou a atenção: havia acessibilidade para cadeirantes.

Olhamos o relógio e vimos que eram 13h50min. Fizemos as contas e concluímos que levamos cerca de 23 minutos para percorrermos nove quilômetros. O tempo era curto, mas o suficiente para percebermos que, em poucos minutos, é possível conhecer histórias e ver que, neste período, muita coisa ocorre dentro de um transporte coletivo. Voltamos à redação para colocar na tela de um computador tudo o que vimos, presenciamos e vivemos.

Confira a matéria completa na edição desta sexta-feira, 1º.