A paternidade na certidão de nascimento não é só para preencher um espaço em branco no documento. A criança tem o direito de saber quem é o seu pai, além de receber a educação e atenção devida. Mas, apesar da indicação da paternidade nas certidões de nascimento ser determinada por lei há mais de 20 anos no Brasil,

Foto: Divulgação / Defensoria PúblicaIndicação da paternidade nas certidões de nascimento está determinada por lei há mais de 20 anos no Brasil
Indicação da paternidade nas certidões de nascimento está determinada por lei há mais de 20 anos no Brasil

somente em Venâncio Aires de janeiro a julho, das 530 crianças registradas, 32 foram registradas apenas com o nome da mãe.

De acordo com a escrevente do cartório de registro civil de Venâncio Aires, Franciéli Lopes, no ato do registro da criança a presença do pai é indispensável. “Se o nome do pai for para a certidão ele precisa estar junto. Caso, seja uma mãe solteira, esta só vai poder registrar a criança no seu nome, sem filiação paterna. Agora, se os pais são casados perante o Civil e apresentem a certidão de casamento, poderá vir só a mãe fazer o registro de nascimento.”

Ainda de acordo com a escrevente, não é feito nenhum questionamento do motivo da ausência do pai. “Apenas orientamos a mãe dos procedimentos legais cabíveis. Caso a mãe tenha interesse, existe a possibilidade de procedermos uma averiguação oficiosa de paternidade, onde informamos os dados do suposto pai ao Juízo da Direção do Foro. Caso a mãe não tenha interesse em proceder de acordo com o que consta na Consolidação Normativa Notarial e Registral, da Corregedoria Geral da Justiça, apenas colhemos a assinatura da mesma como forma de comprovação de que ela foi informada.”

Exames de DNA gratuitos

Atualmente, existem no estado projetos que tentam garantir a confirmação da paternidade por meio da realização de testes gratuitos de DNA.

O projeto ‘Pai presente’ é oferecido pela Defensoria Pública do Estado, com parceria do Tribunal de Justiça e da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (FEPPS), vinculada à Secretaria Estadual da Saúde, e que oferece, por mês, cerca de 260 exames gratuitos no estado.

De acordo com a defensora pública de Venâncio Aires, Aline Lovatto Telles, o projeto “partiu de estudos que indicavam que crianças sem o pai costumavam ter problemas até de envolvimento criminal. é alta a taxa de crianças e adolescentes internados e envolvidos em atos infracionais que não tem pai registral.”

O trabalho consiste no encaminhamento, por parte do cartório, à Defensoria Pública, todas as certidões de nascimento que não constam o nome do pai, além de informações da mãe, como endereço. A partir de então, serventuários da Justiça buscam contatar com a mãe para saber motivos, orientar sobre a possibilidade de mudar o registro e de que a Defensoria pode entrar com ação de investigação de paternidade. “Claro que as vezes são motivos fortes e que não cabe a nós interferir, mas muitas vezes é por falta de orientação mesmo.”

Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do Mate“Quando o exame é marcado judicialmente e o pai não vai, ele automaticamente é presumido pai, então não adianta ele não comparecer, ele não tem como fugir no momento em que a mãe entra com a investigação de paternidade.”   Aline Lovatto Telles | Defensora pública de Venâncio Aires
“Quando o exame é marcado judicialmente e o pai não vai, ele automaticamente é presumido pai, então não adianta ele não comparecer, ele não tem como fugir no momento em que a mãe entra com a investigação de paternidade.”     Aline Lovatto Telles | Defensora pública de Venâncio Aires

Aline ainda explica que outra possibilidade é os pais procurarem pelo serviço. “As vezes o pai não registra porque tem dúvidas da paternidade, mas nestes casos a Defensoria pode pedir o exame de DNA e isso não precisa de ação na Justiça, aí tem que vir a mãe ou o pai aqui com a certidão de nascimento, documentos pessoais e aí fazemos o encaminhamento e a pessoa já sai daqui com o exame agendado.” Segundo ela, a demora gira em torno de 30 dias para fazer o exame, que é feito pela Unisc. Depois, o resultado é enviado para a Defensoria, onde são chamados os pais para receberem o resultado e são encaminhados para fazer o registro. “E aí a gente mesmo pode encaminhar um acordo entre eles, como pensão alimentícia, visitas”, diz Aline.

A defensora ainda salienta que existem casos, mas com menos frequência, de filhos procurarem a Defensoria para sanar a dúvida. “Tem filhos mais velhos que tem a dúvida ou que a mãe nunca quis investigar e quando podem ir atrás sozinhos nos procuram para sanar essa curiosidade.”