Cinco e meia da manhã. Dona Rosa Riedel da Silva está acordada preparando-se para a lida do dia. Capinar, plantar, colher e trabalhar são os verbos rotineiros aplicados pela aposentada até as 19h30min, quando é o horário que termina seu dia, e é hora de dormir.

Aos 98 anos de idade está à espera da comemoração dos seus 99, no dia 7 de setembro, na comunidade São Caetano, em Linha Cerro dos Bois. “Todo ano eu faço a minha festa aqui na comunidade e vem quem quer, tem comida pra todo mundo”.

Também pudera, pois dona Rosa tem 14 filhos, 33 netos, quase isso de bisnetos e está feliz pois, finalmente, segundo ela, chegou o tão esperado casal de tataranetos. Senhora forte, orgulha-se em dizer que foi com 94 anos de idade que fez cirurgia da visão e, por isso, não precisa de óculos. Seus medicamentos contínuos são para pressão alta e circulação, no mais tem a saúde de uma moça, como ela mesmo diz. “ O que eu não posso é parar de trabalhar. Quando eu sinto alguma dor, pego a minha enxada e me vou, e logo passa”, conta dona Rosa, viúva de Amândio Soares da Silva, que faleceu em 1991, aos 83 anos de idade.

Com uma memória de dar inveja, conta em ordem de nascimento o nome dos seus 14 filhos, seis meninas e oito rapazes: Maria Leni, Milton, Maria Helena, Wilson, Petronilia,Nelson, Ivone, Nestor, Nilson, Nerci, Maria, Ernesto André, Paulo Roberto e Sônia. “Todos eles são Riedel da Silva”, complementa a tataravó que lamenta que dois já faleceram. “ Perdi dois, uma depois de três dias que tinha nascido e o Nestor , que foi encontrado morto ali no Mariante”.

Foto: Cintia Faleiro / Folha do MateGaita de boca é passatempo de dona Rosa desde os tempos de moça. Aos 98 anos, na cozinha da casa, mostra que sabe tocar e dançar ao mesmo tempo
Gaita de boca é passatempo de dona Rosa desde os tempos de moça. Aos 98 anos, na cozinha da casa, mostra que sabe tocar e dançar ao mesmo tempo

De cada um dos seus, dona Rosa conta parte de histórias. Alguns de nascimento e outros de vivências. Do filho Wilson, hoje com 72 anos, e que mora com ela em Cerro dos Bois, a mãe recorda que o nome era pra ser com a letra V, mas no registro veio com W então, não ficou como ela queria, pois ficou com a pronúncia de ‘uilson’. Dona Rosa diz que recorda de cada um dos 14 partos. No parto de Wilson, recorda-se que foi com uma carroça que a levaram as pressas para o hospital. “Fiquei durante dois meses direto no hospital com o filho junto. A Irmã Gonçala me tratava na boca e me dava banho. Foi o Dr Corsa quem me tratou. Eu tomava o remédio Uroformina, a farmácia Leuckert que me vendia, era assim, eu pagava um e pegava outro. Naquela época era comum as mulheres depois do parto morrerem por causa desta doença albumina”. (doença infecciosa de rins, bexiga, assim denominada na época, segundo dona Rosa). “Eu já estava tão cansada de hospital e remédio que decidi vir pra casa, fiquei quase um ano comendo só mingau, não podia comer nada de outra coisa, até que recebi uns folhetos onde vendiam umas ervas naturais pelo Correio. Eu preenchi os cupons e mandei. Vieram uns quantos vidros, comecei a tomar aquelas ervas e me curei e tô aqui, com 98 anos”, diz sorrindo.

Dona Rosa também conta com a emoção de como se fosse recente, o parto de Maria, uma das filhas que ficou apenas dois dias com a família. Seria a décima primeira. “Eles (filhos) dizem que nem devo contar essas histórias que são tristes, mas eu tenho que contar”. Segundo dona Rosa, a Maria nasceu no dia 1º de janeiro depois de um parto difícil em que a parteira precisou chamar o médico, dr Ruschel (Dr Armando Ruchel) para auxiliar; e faleceu no dia 3 de janeiro. “Tenho até hoje guardado o atestado de óbito. Nós batizamos ela em casa. O nome é Maria. Eu penso que foi por que eu fui derrubada por um boi, quando eu estava com três meses de gravidez. Mas, eu já sabia que aquele parto não ía dar certo, alguma coisa dentro de mim parecia que me avisava”, emociona-se dona Rosa.