Era sábado, dia 18 de abril, passava das 14h30min quando o silêncio dos corredores do Hospital São Sebastião Mártir fora cortado pelos passos de dois palhaços. Eram: Doutora Lucy Dez e Doutor Chove Chuva. Eles estavam lá para diagnosticar tristezas e curá-las. 

Ela usava um longo vestido – nem tão longo assim, porque era ‘pega pinto’ – azul com bolinhas coloridas, um sapato branco com bolas – nada discretas – vermelhas, meias azuis e um chapéu de vinil com flor amarela. “Ah!”, diz Dra Lucy Dez, com um tom um tanto alto. Olho surpresa e mesmo sem perguntar, ela responde “é o último grito da moda.” 

Ele veste um paletó vermelho, calças brancas, também pega pinto, com suspensórios bordôs, meias listradas – em preto e branco – e sapatos vermelhos com cadarços amarelos. Hm, falta alguma coisa. Ah, claro, os jalecos. Doutores não podem entrar no hospital sem jalecos.

Por onde passavam, era instantâneo o sorriso. Por mais que fosse tímido, dava lugar a rígida expressão de sofrimento, nem que fosse por alguns segundos. As brincadeiras da dupla eram tão sérias quanto o diagnóstico das doenças.

Cada caso, um tratamento

Em um dos casos, foi diagnosticado a falta de fala. O tratamento seria falar. A paciente, que estava triste, precisava contar o que lhe afligia. Ao invés deles (doutores) serem o centro das atenções, eles se sentaram para escutar. Era o que aquela mulher, que estava deitada na cama e sozinha, precisava. Contou toda a sua vida e sofrimento. No fim do tratamento, com lágrimas no olhar, ela agradeceu. “Tudo o que nos disse, vamos levar daqui. Assim, estará curada”, disse o Dr Chove Chuva.

Num outro quarto, na Ala de Adultos, havia uma celebridade perdida. Era Matheus Daniel. Não tinha somente o nome de artista, ele também cantava. Estava feito a quermesse, com Dr Chove Chuva e seu pinto de borracha e Dra Lucy Dez com sua gaita. Assim como a música, as risadas ecoavam pela janela e porta do quarto. Todo mundo queria participar da festa. “Combinamos um baile para a noite, só que ainda estamos procurando o quarto”, disse um dos doutores.

Outro paciente pediu um desfile de moda. Tudo haver com os doutores, afinal, só usam tendências. Lá estavam, os dois, sem jalecos, desfilando entre as quatro paredes de um quarto. Enquanto um desfilava, o outro ‘tocava’ música. O repertório é vasto, variava do “tumti tumti tumti” ao “tumti tumti tumti”. Ao fim de cada desfile, os aplausos. Para encerrar a apresentação, tocaram “Aquela”, “A outra” e “A mesma”. Elas eram semelhante, mas com final diferente. Pareciam até ser o instrumental da música ‘Dó-Ré-Mi-Fá-Sol-Lá-Si’.

 

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