Jéssica revela que a grande maioria das clientes, hoje, pede pelo serviço no qual se especializou como manicure (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)
Jéssica revela que a grande maioria das clientes, hoje, pede pelo serviço no qual se especializou como manicure (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Quanto conseguimos carregar nos braços e nas mãos? Depende da necessidade, da força ou do próprio equilíbrio. No caso de Jéssica Lisandra Santos, de 26 anos, moradora de Vila Palanque, interior de Venâncio Aires, vão os esmaltes, as sacolas de roupas, os catálogos de produtos, a maleta de semijoias e até capachos. Todos os itens são produtos e serviços com os quais a jovem manicure trabalha e ela é mais uma, entre milhares, que precisaram se reinventar, se especializar ou apostar para não virar estatística negativa na economia devido à pandemia.

Depois de meses mais complicados, Jéssica, aos poucos, percebe uma melhora na situação do seu ramo de atividade e sua história vai ao encontro de uma Pesquisa de Monitoramento dos Pequenos Negócios na Crise, realizada pelo Sebrae RS. O resultado pode ser considerado um alento, já que vem dos próprios empresários: a percepção de melhora subiu de 9% em abril, para 20% em maio. Além disso, houve uma redução proporcional de 73% para 54% na percepção dos que expressaram uma perspectiva de piora em suas condições.

No caso de Jéssica, o trabalho de manicure e dos salões de beleza como um todo, foi um entre tantos considerados não-essenciais na pandemia e que conviveram com o fechamento das atividades por algum período e a ameaça constante a cada piora no cenário epidemiológico da Covid. Além dela, o marido, Willian Walker Bergamaschi, 28 anos, também viveu momentos de angústia e incertezas, já que trabalha no comércio.

Não bastasse a impossibilidade do trabalho no primeiro momento e um filho de 7 anos para sustentar, o casal precisou encarar um problema de saúde. Jéssica descobriu, em abril do ano passado, tumores nas mamas, causados por uma disfunção hormonal. O tratamento só é possível com remédios manipulados, na rede privada, e custa cerca de R$ 700 por mês.

Sem poder trabalhar como manicure, apostou nos catálogos de produtos de beleza e semijoias e passou a revender roupas e capachos. “O pessoal brinca comigo, que sempre estou carregada de coisas. Mas a gente precisou de alternativas, nesse momento tão difícil”, destaca.

Especialização

Jéssica trabalha desde a adolescência e foi vendo a tia, Gislaine Santos, no salão de beleza dela, que se encantou pela profissão. “Até hoje ela é meu maior incentivo e me orientou a abrir uma MEI [Microempreendedor individual].”

Em outubro, a jovem manicure decidiu arriscar e fazer um curso on-line que lhe desse uma alternativa de melhora na profissão. Fez uma especialização em alongamento de unhas e esmaltação em gel, comprou um kit pela internet e ainda usou o maquinário de uma amiga que desistiu do ramo por causa da pandemia. “Continuo trabalhando a domicílio, mas a ideia é, daqui uns meses, ter um espaço na minha casa para receber as clientes. E espero que até lá tudo continue melhorando para todos. Importante é não desistir e acreditar que tudo vai dar certo.”

Movimento

Jéssica Santos é uma microempreendedora individual. Assim como ela, a opção de trabalhar como autônomo vem crescendo nos últimos meses. O movimento é percebido na Central do Empreendedor de Venâncio Aires e, segundo o coordenador, Darlan Rieger, só em junho já foram 37 aberturas, entre inscrições diretas ou pela internet. “Com a pandemia, muita gente encontrou uma alternativa de negócio na MEI. E quando uma encerra, não é por não ter dado certo, mas muitas vezes a pessoa tem a possibilidade de voltar a ter a carteira assinada”, explicou Rieger.

Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Nelsoir Battisti, a melhora também se confirma entre empresas maiores. “As coisas estão andando e com a vacina, os ânimos melhoram ainda mais. Os empresários têm arriscado, têm investido, e para isso o Município também precisa oferecer meios, agilizando serviços e mantendo contato direto.”

Sebrae

Conforme a pesquisa do Sebrae, a flexibilização de funcionamento das atividades e a reabertura da maior parte dos negócios proporcionou uma alta de 5 pontos percentuais no número de empresas em funcionamento (86%), sendo que em maio eram 81%. Tal situação trouxe também uma elevação do otimismo em relação à economia do Estado, que saltou de 2% para 13% em maio.

“O mês de abril já havia sido marcado pela retomada das atividades no Estado, sinalizando uma perspectiva de recuperação mais consistente. Em maio, 86% das empresas pesquisadas já estavam funcionando, o que é fundamental para a sua sobrevivência. Com o avanço da vacinação, a tendência é que o ritmo da recuperação se mantenha”, destacou o diretor-superintendente do Sebrae RS, André Vanoni de Godoy.

No mês de maio, 60% dos empreendedores mostraram-se mais confiantes na melhora da situação do seu ramo de atividade, 32% acreditam que deve permanecer igual e apenas 16% acham que pode piorar. Isso, de acordo com o Sebrae, é resultado da melhora no comportamento do faturamento, mostrando que a reabertura das empresas está impactando positivamente no caixa das empresas.