Há muitos anos, os dirigentes sindicais, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag/RS) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) defendem a proposta de acrescentar ao currículo das escolas do campo e também da cidade, a realidade vivida pelos agricultores familiares e seus filhos, com o foco voltado na sucessão rural, evitando assim, o êxodo rural.
A solicitação consiste em ensinar ao aluno todo o processo produtivo, que vai desde o preparo do solo, plantio, desenvolvimento das culturas, colheita e, principalmente, a comercialização. Os professores seguem o currículo do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e das secretarias estadual e municipal de Educação. “O conteúdo deste currículo pode ser vinculado com a agricultura, como a matemática, por exemplo. Colocar a serviço o conhecimento científico já produzido, oportunizando ao produtor entender o que é produzido na propriedade”, defende Adair Pozzebon, secretário executivo da Associação Gaúcha de Pró-Escolas de Famílias Agrícolas (Agefa), mantenedora da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc).
Pozzebon salienta que é fundamental ter escolas no meio rural, pois elas têm um papel fundamental para a continuidade e permanência dos produtores rurais no interior. “Este é hoje o debate sendo necessário também qualificar as escolas do campo. Para melhorar o processo de aprendizagem é necessário que ela seja qualificada, que ela seja contextualizada com a agricultura, que trata as questões do campo” destaca.
AGRICULTURA FAMILIAR
Para Elemar Walker, tesoureiro do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Venâncio Aires, nocaso da agricultura familiar dentro do contexto alimentar do Brasil, não é admissível que as crianças do interior sejam tiradas da sua escola para estudar na cidade porque, a partir do momento em que elas conhecem a cidade – não que não devam conhecer, perdem o interesse pela agricultura, pois a escola da cidade faz com que o aluno conheça outras partes da vida que não parecem tão difíceis como praticar a agricultura e aos poucos vão se desacostumando e deixando de gostar da agricultura e partem para a cidade para conseguir um emprego e ganhar a vida mais facilmente. Porém, observa Walker, na grande maioria dos casos, isto é pura ilusão, pois as crianças ainda não estão preparadas para saberem o que vai acontecer logo adiante no país. Na visão do dirigente, é um caso muito difícil de se ver resultados positivos porque há a perda da juventude na lavoura. “Com o tempo, se continuar a desistência dos jovens da agricultura, vamos ter que importar alimentos e quando se importa, eles se tornam bem mais caros e não se tem a mesma segurança sobre a qualidade dos mesmos.”
“Para algumas regiões, a questão é não fechar as escolas, tanto as municipais quanto as estaduais de ensino fundamental e médio”.
ADAIR POZZEBONSecretário executivo da Agefa.
Achamos que no currículo escolar das escolas do meio urbano, as crianças deveriam aprender sobre a agricultura, pois é a partir dela que a nossa vida é mantida e sustentada por meio da produção de alimentos”.
ELEMAR WALKERTesoureiro do STR de Venâncio Aires.
Implantação
O tesoureiro do STR de Venâncio Aires, Elemar Walker, salienta que a inserção da agricultura familiar no currículo escolar já deveria ter ocorrido, no mínimo, há 30, 40 anos. “Defendemo um currículo onde todas as crianças da cidade também aprendessem sobre a agricultura como um todo, que elas pudessem conhecer uma horta, lavouras com as mais diversas culturas, as criações de frangos, gado de leite e de corte. Isto traria uma valorização maior em todo o país da agricultura familiar e produção de alimentos”, acredita.