Professor de Educação Física desde 1985, quando concluiu o Ensino Superior na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Paulo Ricardo Heinen, 58 anos, é um dos oito homens que atuam como professores nas quatro escolas de Mato Leitão: seis no Colégio Estadual Poncho Verde, de um quadro formado por 34 professores, e dois na rede municipal de ensino, que tem 40 professores.
Natural de Venâncio Aires, o marido de Deonise Beatris Bienert Heinen, 55 anos, e pai do Daniel Ricardo Heinen, 28 anos, e da Taís Regina Heinen, 23 anos, também é pós-graduado em Gestão Escolar.
Folha de Mato Leitão – Como e quando iniciou sua trajetória com a educação? O que te motivou a ser professor?
Paulo Ricardo Heinen – Me formei professor de Educação Física em 1985, pela Unisc. A minha motivação, com certeza, foi o amor pelo esporte. Sempre gostei de todos os esportes, principalmente do futebol. Ver crianças e jovens praticando esporte é muito gratificante. Hoje em dia as pessoas estão dando mais valor à prática esportiva e ao exercício físico. Virou uma questão de saúde. Fiz concurso público em 1991 e me candidatei a uma vaga em Boqueirão do Leão, já que era a única vaga aberta para professor de Educação Física na região. Consegui a vaga e comecei a dar aula naquele município, mas sempre de olho no Poncho Verde. A escola ficava no interior, na comunidade de São Roque, o que tornava o deslocamento uma aventura, pois eu desembarcava do ônibus e caminhava mais cinco quilômetros.
E a sua trajetória com o Poncho Verde começou quando?
Fiquei em torno de seis meses em Boqueirão de Leão, quando consegui transferência para Mato Leitão. Na verdade, a minha trajetória no Poncho Verde começou antes, em 1989, como secretário de escola. Me lembro que, mesmo na condição de secretário, eu auxiliava os alunos nos jogos escolares que a escola participava.
Mas a minha vida começou a mudar mesmo quando assumi o cargo de professor de Educação Física do Colégio Poncho Verde. A escola tinha a tradição de participar dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs) e eu, além de dar as aulas, ficava depois do horário com os alunos para treinar as equipes para os jogos. Foi muito gratificante isso, pois tivemos muitas conquistas no futsal, futebol, handebol, voleibol e atletismo. Os treinos de atletismo eram feitos no campo do Fluminense, pois não tínhamos outro espaço, além de uma quadra de cimento.
A escola teve uma conquista muito significativa em 2001, quando a equipe infantil de futsal conquistou a vaga para representar o Rio Grande do Sul nesta modalidade na fase nacional dos jogos escolares na cidade de Poços de Caldas, em Minas Gerais. Me lembro que a delegação era formada por dez atletas, além de mim e um representante da 6ª Coordenadoria Regional de Educação (6ª CRE). Acredito que eles nunca esquecerão esta viagem, pois fomos de avião e ficamos hospedados em hotel quatro estrelas.
Como é ser diretor de uma escola que é referência na região, em especial pelos bons índices relacionados ao Enem e ao Ideb?
A responsabilidade é cada vez maior. Não podemos nos acomodar, pois estes números são fruto de muitos anos de trabalho árduo de todos. Não se conquista bons números de uma hora para outra e com uma só ação. Temos que manter o foco no estudante, com participação de toda comunidade escolar, principalmente dos pais. Todos são muitos importantes na construção da aprendizagem, mas sem o envolvimento dos pais não se constrói uma educação plena.
O que significa para você ser professor?
Ser professor é muito mais que dar aula. O envolvimento vai além dos períodos letivos. Ser professor é, em primeiro lugar, transmitir conhecimento, mas deve ser também, um auxílio aos pais para a educação plena dos alunos.
Sabemos que a APM do Poncho Verde é muito atuante. Como você avalia essa relação?
Este é um diferencial do Poncho Verde. A participação da Associação de Pais e Mestres (APM) e do Conselho Escolar na vida da escola. Na nossa escola, podemos dizer que as entidades que representam todos os segmentos da comunidade escolar, são o alicerce para uma trajetória altamente positiva.
Para você, quais são os principais desafios para formar professores atualmente?
A profissão do professor está em plena decadência. Não por culpa do educador e sim por ações e, principalmente, pela falta delas por parte das autoridades. Vez ou outra se escuta falar em valorização da educação, mas, ao contrário disso, o abismo é cada vez maior, sem perspectiva e sem interesse das pessoas mais qualificadas em seguir a profissão.
De que forma a sociedade pode contribuir para que o número de pessoas interessadas em seguir a carreira de docente aumente?
Esta é uma pergunta bem difícil de responder. O papel da sociedade nesta questão, a meu ver, se restringe numa boa escolha dos governantes, pois não acredito em aumento da procura pela profissão sem a devida valorização dos profissionais.
Como você avalia que será o ensino no pós-pandemia?
O ano de 2020 certamente vai ficar na história. Acredito que o ensino não vai ser mais o mesmo daqui para frente, pois a tecnologia digital fará parte da vida do professor e da escola. Os professores tiveram que mudar a forma de passar o conteúdo e a maneira de se apresentar aos seus alunos. No primeiro momento, isso parecia um tanto complicado, mas a competência e principalmente a sensibilidade do professor falaram mais alto. Claro que a aula de forma presencial é muito mais efetiva, mas certamente o professor está cumprindo o seu papel de educador. Gostaria de aproveitar a oportunidade para parabenizar todos os professores neste 15 de outubro.