Ao lado das princesas Amanda Kothe e Fernanda Goebel, Daniela Azeredo representou a Festa Nacional do Chimarrão no ano de 2006. A jovem negra, simpática e
comunicativa que já havia sido eleita Mulata Café e a Mais Bela Negra do RS, aos 22 anos, representando a Drogafarma/For Beauty, quebrou um paradigma.
“Lembro, eu não era unanimidade. Não, para ser rainha. Quando venci, vi muitas lágrimas no ginásio Poliesportivo. Lágrimas de várias razões. Quebra de tabu, esforço recompensado, família orgulhosa, amigos que vibravam e diziam “você está fazendo história hoje”.” E foi naquele momento que o trio deu as mãos pela primeira vez e desde então, são protagonistas de uma amizade que coleciona histórias e são um belo capítulo da Festa com o Sabor do Rio Grande.
Daniela relembra da repercussão na época. “Teve quem gostou e teve quem não gostou. Normal. Eu sabia que seria assim. Medo disso? Não. Porque na Fenachim não existe só o desafio de se tornar uma soberana. Existe o desafio de ‘ser uma soberana’. E o meu desafio a partir desse momento, era conquistar a confiança de todos, com o cargo que me foi concedido.” A partir de então, iniciava não só uma maratona de divulgação da Festa pela rainha, acompanhada das princesas, mas de ao mesmo tempo quebrar um tabu e acabar ou minimizar o impacto das pessoas. “Tinha uma coisa que me incomodava e muito. Diziam: “que lindo esse trio, muito diferente. Uma moreníssima (Daniela), uma morena (Amanda) e uma loira (Fernanda).” Eu sentia que as pessoas tinham medo, receio, de dizer a palavra negra. Então eu sempre corrigia, e dizia o porque da correção, para quebrar essa barreira do “falar negro é ofensa”. é o nome da etnia, da minha etnia. Jamais mudaria isso para ser encaixada num padrão de rainha. Eu me fiz entender, mostrei o meu jeito, fui soberana do meu jeito. E as pessoas me ajudaram a construir essa história linda.”
As incansáveis viagens de divulgação duraram cerca de quatro meses iniciavam pela madrugada e encerravam, geralmente, depois da meia-noite. Entre as visitas esteve a feita à Brasília, onde convidaram o então Presidente da República, Lula. “Tínhamos uma caminhonete personalizada e um motorista particular, o Renildo, que fazia todas as nossas vontades, éramos uma família.”
Saudosa mas com a sensação de dever cumprido, a rainha enfatiza que o seu reinado foi também a oportunidade das pessoas a conhecerem como ela é. “Eu e as meninas fomos incansáveis, porta-vozes dessa história. Antes e durante a Fenachim, dançamos, rimos e choramos. E o bonito dessa história é que todos puderam me conhecer de verdade, porque eu me sentia a Dani sendo a Dani. A cada abraço, a cada palavra trocada, a cada dança, a cada risada, você vai percebendo que o mais importante é ser querida e respeitada. Porque não adianta você estar ‘montada’ num traje social ou típico (pausa para dizer o quanto amava os trajes, lindos e bem confeccionados), se você não tiver o principal: o carinho das pessoas.”
Daniela aproveita para agradecer o carinho que recebeu de todos, que lhe proporcionaram essa experiência. “Eu tive ajuda de tantas pessoas nessa trajetória. Jamais esquecerei de tudo que muita gente fez por mim. A Sandra Coutinho, minha patrocinadora, que depositou uma confiança extraordinária em mim. A Amanda e a Fernanda, parceiras de vida. O Wirk e o Silvinho que nos aturaram todas as madrugadas. A presidência e comissão social, exemplo de dedicação e parceria e a cada venâncio-airense, que fez dessa experiência, algo inesquecível na minha vida.”
Como diz o ditado ‘uma vez rainha, sempre rainha’, Daniela conta que até hoje é chamada de rainha. “Juro, ainda fico sem graça diante disso. Nunca me considerei rainha de alguma coisa. No máximo, rainha da minha mãe. Apesar que eu sou princesa para ela. Mas quando me veio esse título, entendi a dimensão que isso representava, e representa até hoje para as pessoas. Confesso, no início foi tudo estranho e novo.”
A vida pós-reinadoApós a Festa, Daniela ainda participou e ficou em quarto lugar do Miss RS e no Miss Brasil, ficou com a faixa de Miss Brasil Personalidade Mundo. Dani conta que
a Fenachim lhe proporcionou conhecer muitas pessoas. Além disso, várias oportunidades surgiram e sua vida tomou novos rumos. “Eu já trabalhava na minha área, mas após essa experiência comecei minha trajetória no jornalismo televisivo.” Ela se formou em Jornalismo pela Unisc e começou a trabalhar na RBS TV em Santa Cruz. Depois se mudou para Porto Alegre, onde fez seu MBA na Unisinos e trabalhou em várias emissoras: SBT, Bandeirantes, TV Pampa, Canal Rural, RBS TV de Porto Alegre, TV COM e Sportv. “Cresci muito profissionalmente e emergi num novo tipo de jornalismo: o esportivo. Descobri uma versatilidade que nem eu imaginava ter no jornalismo.” E foi assim que pode viver uma grande experiência profissional. “A Copa do Mundo no Brasil me fez perceber que eu precisava mais. Trabalhei incansavelmente todos os dias da Copa com transmissões ao vivo durante três horas seguidas e percebi que eu precisava me especializar ainda mais para continuar fazendo grandes coberturas, como essa.”
10 anos depoisFoi a partir da experiência na Copa do Mundo que Daniela decidiu morar nos Estados Unidos, na Califórnia, há quase meio ano. A jornalista está estudando na Southern States University, onde está se especializando em jornalismo televisivo e cinema. Nesse tempo que está nos EUA, ela já atuou em um short movie como atriz e também vem trabalhando com fotografia. “Os Estados Unidos vêm me proporcionando experiências incríveis. Conheci meu namorado aqui e estou cada dia mais feliz e certa que tomei a melhor decisão da minha vida.” No início do ano que vem ela inicia mais uma especialização em comunicação e jornalismo.
Ao longo dos anos, ela destaca, que sempre procurou ir na Fenachim ao menos um dia. “Sinto não conseguir participar mais do que eu gostaria. Agora em novembro está sendo preparada uma grande festa pelos 30 anos. Não vou estar presente por estar morando aqui nos USA, mas estou acompanhando cada detalhe que está sendo preparado com muito carinho pela organização da festa. Vai ser um sucesso, novamente”, finaliza.
“A Fenachim transforma. A Fenachim constrói novos laços. Foi assim comigo. Fica a saudade e as conquistas no álbum da minha vida.”
Daniela Azeredo
Rainha da 9ª Fenachim