Ainda muito emotiva pela perda do filho, a aposentada Marli Ribeiro, de 70 anos, procurou a reportagem da Folha do Mate e Terra FM para fazer denúncias e cobrar providências das autoridades. Consciente que o filho Cássio Alexandre Ribeiro, que hoje teria 45 anos, estava preso pois tinha condenações a cumprir, ela pretende pedir explicações à Superintendência dos Serviços Penitenciária (Susepe) porque nada foi feito para evitar a morte do filho. “Sei que ele tinha uma pena a cumprir, mas os guardas ouviram ele e outros presos gritando que tinha fogo e não fizeram nada. Deixaram ele morrer e só depois foram lá abrir a porta da cela”, resumiu.
Catimba, como Cássio Alexandre Ribeiro era conhecido em Venâncio Aires, sua cidade natal, era uma das lideranças de uma facção criminosa gaúcha, onde respondia pelo apelido de Vida Loca. Há cerca de quatro anos estava recolhido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), depois de passar três anos na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia. Sua morte foi anunciada no sábado, 18 de janeiro, por volta das 18h. Na certidão de óbito consta que a morte se deu por exposição ao fogo, de forma violenta.
Para dona Marli, seu filho foi morto na pequena cela onde estava recluso. “Ele estava em uma cela de isolamento há três dias, sem água e sem luz. Já havia pedido para os guardas ligarem a água e a luz, mas eles não ligaram. E ele não fumava. Como que ia pegar fogo no colchão?”, questiona.
A aposentada soube através de amigos do filho que outros apenados gritaram para que os guardas fossem até a sua cela, para ver o que estava acontecendo, mas segundo ela, não fizeram nada.

Vaso quebrado
A aposentada recorda que naquele sábado havia retornado para a sua casa, depois de passar um período residindo na praia, e o companheiro pediu que ela fosse fazer compras em um mercado. “Gosto muito de flores e antes de sair, peguei um vaso que estava sobre a geladeira, para ajeitar, e ele caiu no chão e estourou. Quebrou todinho. Eu ainda não sabia, mas foi naquele momento que o meu filho morreu”, recorda. A notícia da morte ela só recebeu ao voltar do mercado, através de familiares.
Marli mantinha contatos com o filho, mas não o via pessoalmente há um ano. “Ele me pediu para não ir visitá-lo com tanta frequência, por causa da minha idade e da minha saúde. Mas minha nora, esposa dele, com quem tem um casal de filhos, ia com frequência e o visitaria no domingo”.
O corpo de Catimba chegou em Venâncio Aires na noite do domingo, 19, e o sepultamento aconteceu no dia seguinte, no cemitério Parque Jardim Bela Vista. Dona Marli confirmou que ele era amigo de infância de Antônio Marco Braga Campos, o Chapolin, que se encontra recolhido na Pasc. Chapolin é uma das lideranças da facção que Catimba fazia parte.
Não criamos para o crime
Questionada se sabia da vida que o filho levava, dona Marli foi enfática em dizer que sabia que ele era um ‘dos grandes’ dentro de uma facção, sem entrar em detalhes. “Mas os pais não criam os filhos para serem criminosos. A vida é cruel e cada um escolhe a vida que tem. Eu só vou cobrar explicações porque não fizeram nada para evitar a morte dele”.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Susepe, questionando sobre qual a versão oficial para a morte, mas até o fechamento desta edição não recebeu resposta.
“Sei que ele estava cumprindo pena e porque. Mas eles terão que me explicar porque ele estava sem água e sem luz na cela de isolamento. E por que ninguém o socorreu?.”
MARLI RIBEIRO
Mãe de Cássio Alexandre Ribeiro