No período em que se fala de crise financeira, demissões em massa e dificuldade de investimentos nas áreas essenciais – como educação e saúde -, o Brasil continua sendo vitrine para os haitianos. Desde que o país ofereceu ajuda humanitária ao Haiti, após terremoto que matou mais de 220 mil pessoas em 2010, pelo menos 21,4 mil imigrantes escolheram os Estados brasileiros para reconstruir suas vidas, segundo Ministério da Justiça.

Muitos chegam ao Brasil devido a promessa de emprego. Deixam suas famílias – para mais tarde buscar -, casas e carros. Deixam uma vida perdida entre as poeiras decorrentes da força da natureza, que nem mesmo as tecnologias humanas foram capazes de prevenir. “Dilma quer que haitianos venham para trabalhar, mas não tem trabalho”, conta Jacques Avril, 43, que chegou em Venâncio Aires há quase dois anos. “Isso machuca o coração”, acrescenta. Diante da crise, setor metalúrgico sofre 317 demissões

Quando chegou ao Brasil, recebeu a proposta de emprego em uma metalúrgica venâncio-airense. Veio para cá em busca de condições para, posteriormente, trazer a família. Trabalhou por um tempo e viu a necessidade de se aperfeiçoar para permanecer no emprego, pois, a cada dia, aparecia mais pessoas interessadas na vaga. Era, praticamente, uma competição. Por isso, procurou o Senai e fez o curso de soldador. Contudo, não foi o suficiente. Perdeu o emprego para alguém mais qualificado.

Antes de perder o emprego, quando ainda pensava que teria condições para dar qualidade de vida à família, voltou ao Haiti e buscou suas mulheres – a esposa e a filha de apenas dois anos. Na volta se deparou com outra realidade: ele estava desempregado, sem dinheiro e com família para sustentar. Diferente das oportunidades que não apareciam, a cada mês as contas batiam a sua porta, entre elas, o aluguel de R$ 400. Se não fosse uma irmã, que mora e trabalha em Miami, EUA, Jacques e a família, talvez, não teriam uma casa para se abrigar e comida para se alimentar. “Aqui no Brasil, se ficar sem trabalhar, passa fome.”

Há três meses, desde a chegada da família, Jacques conta com o dinheiro mensal que sua irmã deposita na sua conta. Como as oportunidades não aparecem em Venâncio Aires, ele e a mulher procuram emprego nas cidades vizinhas. Na quinta-feira, 21, antes de conversar com a Folha do Mate, Jacques estava em Lajeado a procura de trabalho. Ontem, a entrevista que havia sido marcada foi cancelada porque, novamente, teve que pegar a RSC-453 para ir ao município vizinho. Quem sabe, lá, as portas se abrem para Jacques, já que aqui, por enquanto, muitas se fecharam, para ele e sua mulher. “Só queremos trabalhar.”

Dilma quer que haitianos venham para trabalhar, mas não tem trabalho”, Jacques Avril – Haitiano