Durante 18 dias, através do Projeto Rondon, oito estudantes e dois professores da Univates vivenciaram a realidade de Curralinho, no Pará. Eles tiveram a oportunidade de conhecer a cultura local e o modo em que os paraenses da região levam suas vidas. Dois dos rondonistas eram venâncio-airenses, Cristiano Wildner e Joana Beuren, estudantes de Jornalismo e Biologia. Eles chegaram na cidade no dia 5 e retornaram ao Rio Grande do Sul no domingo, 22.

No dia 9, o grupo iniciou suas atividades, que visavam o trabalho voluntário. Eles desenvolveram oficinas voltadas para o meio ambiente, saúde, trabalho e comunicação. O público-alvo era a comunidade no geral, fazendo com que, em algumas situações, os rondonistas improvisassem a explicação dos conteúdos de suas áreas. “Muitas vezes esperávamos um público adulto e chegavam só crianças. Tínhamos que brincar com elas, o que não era nosso foco”, explica Joana.

 

Wildner realizou oficinas de fotografia, oratória e como se apresentar em público. Ele também atendeu às solicitações da Associação de Jovens do município e desenvolveu trabalhos para ensiná-los a produzir um jornal. “A ideia era de eles criarem um jornal comunitário, já que na cidade não tem. Só que no dia da oficina ninguém apareceu”, conta. Contudo, ele marcou um novo dia para a realização da oficina e alguns dos adolescentes apareceram mas não demonstraram interesse em persistir na ideia inicial.

Joana trabalhou basicamente com agroecologia, desenvolvendo hortas nas comunidades visitadas. “As pessoas da comunidade participaram bem mais do que os residentes da sede Curralinho. Chegava a ter 30 pessoas por oficina”,  observa. Para ela, essa falta de interesse era decorrente da pouca divulgação na sede, diferente das comunidades. “Eles tem um líder que fazia a divulgação, no centro talvez tenha sido um pouco defeituosos por não ter um líder ou por causa da prefeitura mesmo”, ressalta. Por falta de público teve oficinas que acabaram não acontecendo, em todas as áreas.

Os estudantes da Engenharia Ambiental trabalharam com oficinas de sustentabilidade, e desenvolveram atividades de como reaproveitar alguns materiais. “Eles mostraram como fazer um sabão com o óleo de cozinha, ensinaram a fazer uma lâmpada com garrafa pet, porque a maioria do pessoal não tinha energia elétrica. Trabalharam com compostagem, para ter um adubo e colocar nas hortas, parte que eu trabalhei”, exemplifica Joana. Também abordaram o tratamento de água, parte de resíduos e saneamento. Ainda teve oficinas de autoestima, onde o pessoal da psicologia era responsável e os alunos de administração desenvolveram trabalhos de planejamento de vida.

Wildner observa que, embora eles sejam um povo muito acolhedor, eles demonstraram ter pouco interesse em buscar por coisas novas e estão acomodados com a realidade que os cercam. “A gente voltou para cá, vendo com outra perspectiva a nossa região”, completa Joana.

Para os dois estudantes venâncio-airenses, essa experiência foi única. “Só o Rondon proporciona  vivenciar o dia a dia daquelas comunidades, vivenciar a perspectiva e sonhos daquelas pessoas, as dificuldades deles. Porque se fosse uma viagem de turismo, iríamos, provavelmente, para outras cidades”, explica o rapaz. Ele ainda frisa que o mais fantástico do projeto foi ter essa convivência e conseguir espalhar esperança para aqueles que já não sonham mais. “Essa parte que fica, muito mais conhecimento adquirido do que conhecimentos levado para eles”, completa Joana.

CIDADE

Curralinho tem cerca de 30 mil habitantes, entretanto é maior que Venâncio Aires, em extensão territorial. A cidade tem quase 150 anos, acarretados em grandes dificuldades de desenvolvimento e os habitantes tem pouca perspectiva de vida. Conforme Cristiano Wildner e Joana Beuren, o município tem baixa infraestrutura, o saneamento quase não existe devido a falta de fossas cépticas e de água tratada, as ruas não tem calçamento e as pessoas sobrevivem graças ao bolsa família. “Eles não têm grandes sonhos”, observa Wildner.

A estrutura precária da cidade reflete na educação. Um dos problemas encontrados se refere a alfabetização, onde um grande percentual de pessoas não sabe ler nem escrever. Também, as escolas, geralmente, não tem porta, só uma grade para ventilação. “40ºC é normal”, explica o rapaz. Em relação aos  trabalhadores, eles são pouco valorizados e largam o emprego para viver do bolsa família. “Tinha um cara que trabalhava e ganhava R$ 120 de salário. Mas ele parou de trabalhar porque com o bolsa família ele passou a ganhar R$ 220”, conta Wildner.

Durante a estadia dos estudantes da Univates em Curralinho, aconteceu uma noite cultural. Momento em que houve uma troca de apresentações tradicionalistas. Os Gaúchos apresentaram uma coreografia de dança gauchesca com trajes a rigor e depois os paraenses dançaram Carimbó,  que é uma dança baseada no movimento de saias. Além das apresentações, os rondonistas provaram as comidas típicas. “Entramos em contato com uma cultura totalmente diferente da nossa”, observa Joana.

“As pessoas nos receberam muito bem, tanto na sede de Curralinho quanto nas comunidades”, ressalta Wildner.