Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do Mate30,7% é a queda no total de fumantes no Brasil nos últimos nove anos, segundo o Ministério da Saúde, que também aponta que 11% dos brasileiros fumam
30,7% é a queda no total de fumantes no Brasil nos últimos nove anos, segundo o Ministério da Saúde, que também aponta que 11% dos brasileiros fumam

Após dez anos da ratificação da Convenção Quadro de Controle do Tabaco (CQCT), que impuseram uma série de medidas restritivas ao consumo e pressão popular antitabagista, o setor tem conseguido lidar com as dificuldades geradas, sobretudo das políticas de combate ao tabagismo. Além disso, a cadeia ainda visualiza um cenário positivo, com o aumento do consumo de cigarros a nível mundial nos próximos anos nos países em desenvolvimento.

A afirmação parte dos estudos realizados pelos mestrandos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Carla Weiss, natural do distrito Monte Alverne – Santa Cruz, e do mineiro Marco Aurélio Santos. O trabalho analisou a cadeia agroindustrial do tabaco na região sul do Brasil e as instituições formais envolvidas. 

Controle do tabagismo

O estudo ainda salienta que o Brasil vem se destacando com ações de controle e combate ao tabagismo na adoção de advertências, na proibição do ato de fumar em locais de uso coletivo, na proibição da publicidade, na política de preços e impostos. Em decorrência disso, houve uma redução no consumo de cigarros no Brasil. Assim como nos países desenvolvidos, onde o consumo também diminuiu. Mas em contrapartida, um aumento do contrabando de cigarros, principalmente advindos do Paraguai.

Mas, de acordo com a mestranda, constata-se que há um aumento no consumo nos demais países em desenvolvimento, o crescimento da população mundial, os esforços das corporações que se concentram nos mercados de baixa e média rendas, a adesão cada vez maior do público feminino nesses países, além da crescente simpatia pelo cigarro eletrônico. “No mundo existem um bilhão de consumidores e, à medida que a população e o poder aquisitivo aumentam, os cigarros ganham maior popularidade em países emergentes e instigam maior interesse pelo público feminino. Logo, as corporações do tabaco mesmo em um ambiente impeditivo, buscam através das articuladas estratégias intensificar seus domínios, manutenção e criação de novos espaços”, salienta Carla.

Produção De acordo com a dissertação dos mestrandos, a cultura do tabaco engloba 162 mil famílias na região Sul e responde por 97,4% da produção nacional. Ela tem uma importância socioeconômica tanto para os produtores quanto para as atividades satélites ligadas ao setor. Mas Carla salienta que “o momento deve ser de buscar alternativas, não somente para os agricultores, mas também atentar as lideranças políticas no sentido de planejarem a diversificação da economia dos municípios, como é o caso da nossa região, que é bastante dependente das receitas geradas da atividade tabaqueira.” A mestranda ainda enfatiza os avanços das políticas públicas para a agricultura familiar, subsidiando o processo de diversificação da produção e renda relevantes para a permanência e melhoria na qualidade de vida dos pequenos produtores de tabaco em situação de vulnerabilidade.Levando em consideração o período entre 2005 (da ratificação à CQCT) até 2014, não houve mudanças significativas na produção nos últimos anos na região sul do Brasil. De acordo com o estudo em que foram apresentados dados fornecidos pela Afubra, no ano de 2005 a produção alcançou o maior patamar (843 mil toneladas), mas essa superprodução se deu devido ao alarde de extinção do cultivo na época. Em 2014 produzimos 731 mil toneladas. A variação ficou entre 700 e 800 mil toneladas nesse período (2005 a 2014), com exceção do ano de 2010 em que houveram uma série de intempéries climáticas.

Os mestrandos

Carla Weiss é natural de Monte Alverne – distrito de Santa Cruz. Cresceu em meio a produção de tabaco. “Acompanhei a realidade que se resumia em trabalhar, aguardar e torcer para que não houvesse chuvas excessivas, temporais ou secas durante o período de manejo do fumo, objetivando sempre realizar uma boa

Foto: Arquivo Pessoal / Folha do MateCarla Weiss e Marco Aurélio Santos fizeram a dissertação a partir de estudos realizados durante dois anos junto ao Centro de Pesquisas em Agronegócios (CEPAN) da UFRGS
Carla Weiss e Marco Aurélio Santos fizeram a dissertação a partir de estudos realizados durante dois anos junto ao Centro de Pesquisas em Agronegócios (CEPAN) da UFRGS

produção. E por fim vendas satisfatórias”, conta. Marco Aurélio Santos é natural de Viçosa, Minas Gerais.

Os mestrandos desenvolveram vários trabalhos em conjunto sobre a cadeia do café, desperdício de alimentos, demanda por alimentos, biocombustíveis, logística de distribuição de frutas, entre outros.

Marco Aurélio também desenvolve estudos avançados sobre a cadeia do café em Minas Gerais e que tem algumas características semelhantes a cadeia do tabaco, pois é produzido em pequenas propriedades, com mão de obra familiar.

A motivação da dupla por abordar o tema veio à tona com a ratificação da CQCT em 2005 e os rumores do fim da produção de tabaco e, consequentemente a preocupação com os pequenos produtores e toda a região dependente da monocultura.