“Nossa comunidade não diz não na hora de ajudar”. A frase da moradora de Marechal Floriano, Eloá Silvia Bartholdy, de 65 anos, escancara a gratidão que sente ao mencionar a comunidade à qual pertence desde que nasceu. Quando fala da comunidade, Eloá não se refere apenas à localidade, mas às pessoas que residem nela e a tornam uma “grande família”.


Essa união existente, principalmente, no interior, talvez seja a principal receita para que as atividades culturais e de integração sejam preservadas ao longo dos anos, como ocorre no 5º distrito de Venâncio Aires. O engajamento dos moradores nos eventos também ajuda a explicar resultado apontado pela pesquisa Barômetro Atitudinal, desenvolvida por alunos do curso de Administração da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) campus Venâncio Aires. No estudo, 63% dos entrevistados disseram acreditar que os eventos promovidos na área rural integram mais do que os realizados na área urbana do município.
Ao lembrar, com carinho, das ações que já desenvolveu ao lado de outros moradores, Eloá não esconde o sorriso de gratidão por todos os momentos cultivados desde que o avô construiu o Salão Marechal e incentivou o engajamento da família nas causas locais. Ela, que reside com o marido Teonilo Bartholdy, de 72 anos, criou os três filhos e recebe os quatro netos em Linha Marechal Floriano, até já se pensou em morar na cidade, no entanto, não hesita em dizer que “é difícil imaginar a nossa vida sem a comunidade”.
A aposentada já foi presidente da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Marechal Floriano e atualmente integra a diretoria como 1ª secretária da gestão de Jairo Bencke. Ainda na infância, auxiliou na confecção de flores de papel crepom que eram utilizadas nas tradicionais festas de Kerb. Hoje, com problema nas costas, o ritmo do trabalho foi reduzido, mas sempre que consegue ajudar, não pensa duas vezes. Além da tradicional Festa da Colheita, Marechal Floriano também é conhecida pelos bailinhos do Carnaval Infantil do Interior com o bloco Os Noventinhas, grupo formado nos anos 1980 com o nome ‘Beija-flor’, por Eloá.
Envolvimento vem desde a infância
Com uma risada encantadora, é impossível não deixar-se contagiar pela alegria de Nilsa Müller Mohr, de 54 anos. Morando na localidade de Linha Marechal Floriano desde a infância, ela não esconde o quanto gosta de viver no local onde cresceu, criou amizades e as duas filhas, Djenifer e Suélen, e onde mantém há 30 anos a carreira de cabeleireira. “Marechal é meu paraíso”, destaca a moradora.

Morando na frente do salão da Comunidade Evangélica é impossível ficar de fora das atividades realizadas regularmente pela diretoria. “Nós ajudamos desde que sou pequena. Lembro que as crianças e o homens ajudam a depenar as galinhas para as mulheres prepararem elas recheadas”, recorda, acompanhada de uma risada.

Entre as diversas atividades que são promovidas, ela lembra com carinho da Festa da Colheita, na qual os produtores levavam seus produtos colhidos cheios de orgulho. Agora, segundo Nilsa, busca-se trazer os jovens cada vez para mais próximo da sociedade. “Sempre que ocorre alguma festa chamamos eles para ajudar em alguns atividades e eles estão participando, inclusive alguns que moram em outras cidades, mas têm vínculos com a localidade”, comenta.
Ações culturais prezam convívio comunitário
Presidente há dois anos da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Marechal Floriano, Jairo Bencke é “filho da terra” e, desde que está à frente da diretoria, luta para movimentar a comunidade cada vez mais a partir de atividades culturais. “Como presidente tenho que zelar pelo patrimônio e dar oportunidade a burocracia necessária para manter a comunidade que é composta por sede, Igreja e cemitério”, explica.
Desde que assumiu, levou à localidade apresentações da Orquestra de Venâncio Aires, do Coral ‘Ser Mais Feliz’ da CTA, além de ser montado um cinema de rua, palestras de orientações sobre o câncer foram apresentadas pela Liga Feminina de Combate ao Câncer às senhoras do grupo da OASE. Realizou curso de danças gauchescas e estimula o grupo local Grüner Jäger Volks Tance Grupe, formado por crianças que representam e disseminam a cultura alemã. “Fico impressionado em ver a satisfação no olhar das pessoas em poder ter perto de si tudo o que a cidade possui. Muitas vezes, a distância, os horários e até mesmo o meio de locomoção não permite que se desloquem até ao centro para ver essas apresentações”, comemora.
O presidente destaca o engajamento dos moradores para a realização dos eventos. “Nada é feito sozinho, elas trabalham voluntariamente e se divertem junto”, diz. Mesmo morando na área urbana, Jairo Bencke acompanhado da família se desloca para a localidade nos fins de semana, no entanto, na área central, também busca desenvolver o trabalho em prol do outro, “faço parte de muitos grupos na cidade também, mas o trabalho em prol do outro acho que precisa ser silencioso, você não precisa registrar a solidariedade, mas, simplesmente, ajudar ao próximo sem esperar nada em troca”, afirma.