Sessão realizada ontem, no salão do Tribunal do Júri da Comarca de Venâncio Aires recebeu, pela primeira vez, cinco réus simultaneamente. O corpo de jurados foi convocado para analisar um crime que aconteceu na madrugada do dia 25 de novembro de 2007, no centro da cidade. Rafael da Silva do Nascimento, o Fael, 29 anos, foi condenado pela morte de Tcharlei Riedel Quintana, o Tche Tche, na época com 21 anos. Outros quatro indivíduos também foram réus no processo. Um deles, Renato Fausto, o Barrasco, 36 anos, está preso pela prática de outro crime.

Vítima de três tiros de revólver, Tche Tche foi internado e lutou pela vida por longos 134 dias. Ele faleceu no dia 6 de abril de 2008, na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Santa Cruz. Segundo sua mãe, Vera Lúcia Riedel, neste período ele foi submetido a sete cirurgias e, por algumas vezes, permaneceu em coma.
A briga também deixou outras pessoas feridas. Fael foi agredido no rosto e no tórax (com cortes produzidos, principalmente, por vidros de uma garrafa de uísque) e, ao todo – segundo disse em plenário -, sofreu 287 pontos pelo corpo. Mateus Burgel, entre outras coisas, levou um tiro, mas sobreviveu. Os outros dois envolvidos – além de Barrasco – são Ricardo Jamerson Müller da Silva e João Maico Fagundes, que também sofreram ferimentos.
DENúNCIASegundo a denúncia, apresentada pelo promotor Pedro Rui da Fontoura Porto, depois de um primeiro desentendimento, onde Fael ameaçou Tche Tche de morte, ainda na noite do dia 24 de novembro, eles seguiram caminhos opostos, voltando a se encontrar horas depois, na madrugada do dia 25.
A versão do promotor é de que Tche Teche, Burgel e Silva (havia mais uma pessoa junto) andavam de carro pela rua Osvaldo Aranha, quando alguém chamou pelo nome de Tcharlei, que conduzia o veículo. Sem ver quem era, ela parou e logo viu Fael vindo em sua direção. Os amigos desceram do carro e viram o acusado dar três tiros contra Tche Tche, que caiu ajoelhado. Um atingiu seu abdômen, um o tórax e um o braço esquerdo. Neste momento ele desmaiou.
Burgel foi em sua defesa e levou um tiro na altura do olho esquerdo, de raspão. Na sequência, diz a denúncia do Ministério Público, Silva deu uma gravata em Fael e segurou o braço onde estava o revólver, se iniciando uma briga generalizada. A advogada Alexandra Silveira atuou como assistente de acusação.A defesa de Fael, feita pelo advogado Ezequiel Vetoretti – a pedido do juiz João Francisco Goulart Borges -, trabalhou com a tese de legítima defesa. Inclusive, pediu aos jurados que absolvessem Burgel e Silva, “pois eles agiram em legítima defesa.” Silva, Burgel e Barrasco foram assistidos pela defensora pública Aline Lovato Telles. Fagundes foi defendido pelo advogado Marcelo Viana Dutra. A exceção de Fael, os demais foram absolvidos.
Sobre o crime, Vetoretti alegou que os depoimentos comprovam que Tcharlei foi quem provocou a briga e foi ao encontro de Fael, que se defendeu. “Por isso ele pediu desculpas à mãe, pois sabia que tinha feito coisa errada”, observou o advogado, se referindo a um trecho do depoimento de Vera Lúcia Riedel, onde ela fala que, no hospital, o filho lhe pediu desculpas por ter se envolvido naquela confusão.
DEPOIMENTOSA primeira a falar foi a mãe de Tche Tche. Aparentando abatimento – fez diversas pausas durante o seu relato -, Vera declarou que tempos antes do dia do fato, notou que seu filho estava diferente e que se limitava a trabalhar, não falando sobre mais nada com a família.
Depois do fato acontecido e com o filho hospitalizado, começou a descobrir o que havia feito com que ele tivesse aquela mudança brusca em seu comportamento. “Descobri, através de outras pessoas, que ele estava sendo ameaçado pelo Rafael, mas ele nunca falou nada, pois não queria envolver a nossa família”, mencionou.
Ainda no hospital, Vera disse que o filho se limitava a lhe pedir desculpas, pelo que tinha feito, mas nunca falou abertamente sobre como tudo tinha acontecido. “Só sabia que tudo tinha começado por causa de uma mulher, que eles (Fael e seu filho) disputavam.”
Em seu depoimento, Fael confirmou que tudo começou por causa de uma jovem que era a sua namorada na época. Aos jurados, acusadores, defensores e platéia, que lotou o salão do júri – e assim permaneceu até o fim da sessão -, disse que era amigo de Tche Tche. Sobre a motivação do desentendimento entre eles, mencionou que começou a partir do dia em que ele queria ir sozinho em um baile.
Fael contou que ele e outros amigos se reuniam seguidamente no apartamento de Tche Tche. “E daí pedi para ele dizer para a minha namorada que eu tinha saído e que depois falava com ela.”Ao retornar do baile, Fael disse que foi até o apartamento onde Tche Tche estava e viu que a sua namorada também estava lá. Tempos depois, Fael disse que se reconciliou com a namorada, que estava grávida dele e foram morar fora de Venâncio Aires.
Sobre o dia dos fatos, contou que não queria vir a Venâncio, mas a pedido da ex-mulher, veio visitar amigos e parentes. Ele e Fagundes saíram e ingeriram bebida alcoólica. Neste período, se encontrou com Tche Tche, que, segundo disse, o ameaçou. “Disse que não queria nada com ele e avisei que estava armado”, declarou Fael.
Amigos intervieram e cada um seguiu em uma direção. Mais tarde, Fael disse que foi até um estabelecimento comercial comprar mais uma vodka e um refrigerante, quando parou para dar uma dose a dois conhecidos (Barrasco e outro rapaz). Neste momento, disse que um carro parou ao seu lado, de onde desceram Tche Tche e seus amigos.
O depoente garante que seu desafeto o agrediu com um soco no peito, que o jogou contra as grades “Então vi que tinha um monte de gente vindo para cima de mim e atirei. Depois disso não lembro mais nada, pois apaguei.”, Perguntado sobre o revólver usado, Fael disse que era seu e que não sabe o que aconteceu após o fato, pois desmaiou.
Sobre esta versão, o promotor disse que é inverídica, pois o exame de balística comprovou que o tiro que atingiu seu tórax foi dado em linha reta e não de baixo para cima, como alega o réu.
PENAàs 19h07min, o juiz leu a sentença. Fael foi condenado a sete anos e seis meses pela morte de Tcharlei e mais três anos, dez meses e um dia pela tentativa de homicídio contra Burgel, totalizando uma pena de 11 anos, quatro meses e um dia, em regime inicial fechado. Fael recebeu o direito de recorrer da sentença em liberdade, mas, neste período, deverá permanecer em recolhimento domiciliar, das 22h às 6h.