Famílias relatam como está sendo o processo de alfabetização longe da sala de aula

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A alfabetização é uma das fases mais importantes no processo de formação do estudante e envolve muita criatividade, dedicação e descobertas. Realizado normalmente em sala de aula, esse foi um dos processos de aprendizagem que também precisou passar por mudanças durante a pandemia do novo coronavírus. Com a suspensão das aulas presenciais, estudantes, professores e famílias precisaram se desafiar para, de alguma forma, garantir que a construção do conhecimento aconteça.

Se para os professores o desafio é transmitir os ensinamentos de forma virtual, para os estudantes, é necessário aprender sem a presença do docente. Já para os familiares um dos pontos mais significativos é a adequação da rotina para que seja possível auxiliar as crianças na realização das atividades das aulas programadas, que são enviadas pelos professores.

Um exemplo disso é o casal Kelly Konzen Frantz, 28 anos, e Cristian Gustavo Frantz, 34 anos. Pais do Caetano, 6 anos, e do Ramiro, 1 ano, os fotógrafos adequaram os hábitos do dia a dia para conseguir auxiliar o filho mais velho, que é estudante do 1º ano do Colégio Gaspar Silveira Martins e está em fase de alfabetização. Segundo Kelly, a família demorou para se acostumar quando as aulas a distância começaram, principalmente porque a rotina com os filhos e o trabalho precisou mudar. “Aos poucos fomos ajustando para que ficasse bom para todos aqui de casa. Não estipulamos um horário para fazer as atividades, pois como a rotina mudou completamente, as realizamos durante o dia”, relata.

A mãe também acrescenta que no início Caetano não tinha muita disposição na hora das atividades. “Achávamos que seria por pouco tempo e acredito que ele pensou que seria como uma ‘miniférias’, que logo voltaria a estudar na escola, pois até hoje ele fala que sente falta de ir para escola, pois está com saudade da professora Alexandra Scheibler.”
A fotógrafa ainda compartilha que no início ela e o marido ficaram preocupados por este ser o ano em que o filho está na fase de alfabetização. “Não sabemos explicar como a professora, mas vamos nos adaptando para que ele consigo aprender. Agora, depois de três meses ele evoluiu muito, está conseguindo escrever bem e ler algumas coisas. Quando ele consegue fica muito feliz e quando erra ele sabe que não tem problema, pois está aprendendo”, conta.

Como recursos para realizar as atividades, a família utiliza notebook e tablet para que o menino possa acompanhar as atividades e vídeos. “Eu estou sempre com ele, auxiliando”, acrescenta a mãe. Para a família de Caetano, o maior desafio com as aulas a distância é saber se eles estão ensinando de forma correta. “Mas sempre que tenho dúvidas falo com a professora e ela nos auxilia”, salienta.

Alfabetização família Caetano
Caetano acompanhado dos pais Kelly e Cristian e do irmão Ramiro durante a realização das tarefas escolares (Foto: Arquivo pessoal)

Rotina

Na casa da assistente administrativo Maquerli Dornelles, 35 anos, a rotina também foi adaptada para que ela conseguisse auxiliar a filha nas atividades escolares. Aluna do 1º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Dois Irmãos, Manuela Dornelles da Silva, 6 anos, também está em processo de alfabetização. Segundo a mãe, as atividades são enviadas pela professora, via WhatsApp, na sexta-feira e são realizadas ao longo da semana.

Entretanto, Maquerli comenta que nem todos os dias a filha está disposta a fazer os exercícios. “Na escola eles têm outra rotina. Eu não forço muito. Sempre incentivo ela, mas quando percebo que ela está cansada não insisto”, observa. A moradora do bairro Aviação está em home office e divide o tempo em casa entre os afazeres do trabalho, as tarefas da casa e o cuidado da filha. “Normalmente, fizemos as atividades da escola no fim da tarde ou nos fins de semana”, acrescenta.

Para a assistente administrativo, a distância dos colegas e a diferença entre a rotina da escola e a de casa são desafios durante esse período de aulas a distância. Nesse sentido, ela lembra que nas residências há muitas distrações. Maquerli ainda comenta que Manuela tem facilidade de aprender e gosta muito de matemática, o que colabora com esse processo. Além disso, a mãe salienta que a menina mantém uma rotina de brincadeiras. “Ela está aprendendo, talvez em um ritmo mais lento”, avalia.

Segundo ela, a professora Eliane Kroth sempre envia as tarefas e faz vídeos explicando tudo que precisa ser realizado pela família, o que ela considera excelente. “Estudei na Dois Irmãos também e vejo essa escola como de primeira linha, que cativa e enriquece muito todos alunos que passam por ela”, complementa.

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Olhar especial para turmas em alfabetização

  • Segundo a secretária municipal de Educação, Alice Theis, quando as aulas presenciais retornarem, as escolas do Município terão um olhar especial com as crianças que estão em processo de alfabetização. Para ela, apesar de as crianças estarem fazendo atividades relacionadas a essa fase da aprendizagem, o processo de alfabetização precisará ser construído presencialmente.
  • “Não temos a ilusão de que de forma remota a gente consiga alfabetizar as crianças. Isso não existe. Nós não temos a pretensão de que as atividades programadas propostas para as crianças da alfabetização façam esse processo”, relata.
  • A secretária avalia que as atividades programadas favorecem diversas habilidades que facilitarão o processo de aprendizagem quando as aulas presenciais recomeçarem. Para ela, com exceção de algumas crianças, a maioria precisará de atenção especial no retorno para a sala de aula.
  • Alice ainda ressalta que as atividades programadas que estão sendo realizadas são importantes, porque as crianças estão tendo a parceria da família para realizá-las. “Essa participação efetiva da família na vida escolar da criança traz resultados extremamente positivos.”
  • Por isso, a secretária de Educação reforça o pedido para que os familiares ajudem as crianças e que caso elas não consigam realizar alguma atividade, para que não se desesperem ou pensem que isso é algo anormal. De acordo com Alice, a pasta ainda não tem um plano, mas já elencou diversas ideias a respeito dessa recuperação. “Ainda precisamos amarrá-lo, porque depende de quando acontecerá o retorno”, observa.

Retorno

  • No Colégio Gaspar Silveira Martins, conforme o diretor da instituição, Tiago Becker, os alunos que estão em processo de alfabetização serão prioridades em algum momento em relação ao retorno das aulas presenciais. Contudo, ele explica que a retomada vai depender do posicionamento dos órgãos públicos e será feito quando oferecer segurança. Além disso, Tiago salienta que essas crianças terão prioridade em relação a aulas extras quando o retorno das aulas presenciais acontecer, no sentido de garantir o mínimo de prejuízos à aprendizagem delas. “Serão turmas que vamos ter maior dedicação, visto que a alfabetização é um ponto chave dentro da escola.”


Taís Fortes

Taís Fortes

Repórter da Folha do Mate responsável pela microrregião (Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde) e integrante da bancada do programa jornalístico Terra em Uma Hora, da Terra FM

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