O inverno chegou, o mês de junho está quase se despedindo. Enquanto um vem e outro vai, a tradição é mantida nas escolas, no comércio e nos diversos segmentos culturais – são as Festas Juninas – assim denominada ao chegar ao Brasil trazida pelos portugueses.
De origem religiosa, como a maioria dos folguedos, as Festas Juninas, que vêm de uma cultura milenar e através da oralidade e da literatura foram passadas às gerações, sofreram alterações com o passar dos anos e incorporaram mudanças culturais. Segundo os historiadores, os folguedos fazem parte da cultura popular e do folclore brasileiro. E, por isso, continuam nas mais diversas manifestações, com as comidas típicas, brincadeiras, músicas e as fogueiras.
E quando se fala em comemorações de São João, a Folha do Mate foi em busca da origem da festa, as suas influências e também o que dizem os gaúchos a respeito de uma cultura que faz parte do folclore brasileiro. E, que, para os estudiosos do assunto há uma mistura de costumes: caipiras e gaúchos.
Conforme consta no livro ‘Folk Festa e Tradições GaúchasÂ’, publicada pelo Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore (IGTF), “não devemos ser contra a festa caipira, dentro dos princípios tradicionais e corretos. Devemos ser, sim, contrários à mistura de costumes de caipiras e gaúchos em festas juninas. E mais, contra a pretensa substituição pura e simples da festa caipira por festas gauchescas. Se nós gaúchos, temos uma tradição e cultuamos, também os caipiras possuem a sua, e a mesma deve ser respeitada, pela sobrevivência do folclore nacional, em suas puras manifestações.”
ORIGEM E INFLUêNCIAS
As festas que acontecem no mês de junho são chamadas de ‘Festas JoaninasÂ’, em homenagem aos três Santos: Santo Antônio (o santo casamenteiro), São João (o santo festeiro) e São Pedro (o santo protetor das viúvas e dos pescadores). O nome joanina teve origem, segundo alguns historiadores, nos países europeus católicos no século 4.
A influência brasileira, na tradição da festa, se deu especialmente na alimentação, quando foram introduzidos o aipim (mandioca) e o milho. A quadrilha fora acrescentada pelos franceses, que trouxeram os passos e marcações inspirados na dança da nobreza europeia. Assim como os fogos de artifício foram trazidos pelos chineses. A dança de fitas, muito cultuada no sul do Brasil, teria sua origem em Portugal e Espanha.
Para os católicos, a fogueira, que é maior símbolo dos festejos, tem suas raízes em um trato feito pelas primas Isabel e Maria. Para avisar Maria sobre o nascimento de São João Batista e assim ter seu auxílio após o parto, conta-se que Isabel acendeu uma fogueira.
Para cada Santo junino existe um tipo de fogueira. Para homenagear São João acende-se a fogueira em forma de um cone, já na fogueira de Santo Antônio, as madeiras são empilhadas formando um quadrado. E para encerrar o mês junino se acende a fogueira para São Pedro em forma de um triângulo. O horário para o acendimento do símbolo dos festejos deve acontecer, pontualmente, às 18h, que é o horário da Ave Maria. Ainda se encontram registros de que as fogueiras eram também usadas para comemorar as colheitas na Europa antiga.
RESPEITO
Entre os tradicionalistas existem diferentes opiniões referentes aos usos e costumes durante os festejos. Para a professora Marília Dornelles, pós-graduada em docência e integrante do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), por diversas gestões, fazer diferente implica numa série de riscos e aceitações – que torna o mais fácil melhor. Ela diz que, enquanto professora da rede estadual de ensino sempre defendeu a preservação e a divulgação das festas juninas no mais autêntico estilo gaúcho, com as meninas vestidas de prendas e os peões de bombacha. “Enquanto criança, sempre nas noites frias dos Santos fazíamos o ‘pisar na brasaÂ’ e uma fogueira muito grande, onde todos os vizinhos e amigos se reuniam para comer pipoca e tomar quentão. Na minha cidade Lagoa Vermelha na localidade de Barretos (pequeno lugarejo na entrada da cidade vindo de Vacaria) ainda se pode ver do asfalto, a capela que serviu de pesquisa para Paixão Cortes sobre as Festas Juninas. Marília acredita que hoje em dia, o que ajuda muito, é ter se criado uma consciência para a realização dos festejos. Salienta, que apesar de não serem realizados de acordo com a nossa tradição, pode-se e deve-se fazê-la na mais pura tradição do Norte e Nordeste do Pais.
“Muito já se cresceu neste sentido. Já vemos crianças com trajes caipiras de acordo com as tradições por eles pregadas, com seu uso correto. A cultura por eles defendida tem o mesmo valor que a nossa – e o respeito à todas deve ser o primeiro passo para a confraternização universal.” .
às lideranças educacionais e tradicionalistas, responsáveis pelo fazer – Marília faz um pedido: “se não pudermos, não conhecermos, não soubermos e não tivermos condições de fazer algo de acordo com a nossa cultura, que possamos respeitar as tradições dos outros – então nada de roupas rasgadas, aberrações e situações que possam desmerecer nosso povo brasileiro. Existe uma saudade – pois não vemos mais fogueiras nas cidades e a festa ficou restrita às escolas e CTGs e somente para as crianças. Será que não podemos fazer a diferença? Falar, saber e expandir nosso conhecimento, nossa vivência para que todos possam sentir o frio e o calor, das noites do mês de junho, enrolados no pala das nossas tradições.”