Fischer: “Os africanos são um povo fantástico”

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Inúmeros são os venâncio-airenses que vão para a áfrica trabalhar em indústrias tabaqueiras, como Cláudio Fischer, que trabalhou efetivamente dez anos no continente africano. O convite para trabalhar em Tabora, cidade da Tanzania, foi feito através de Alfeu Bohn e Pedro Juchan.

Cláudio trabalhou os dois primeiros anos na assistência técnica para produção de fumo, após deu inicio ao ‘Oxen ProjectÂ’. O projeto tinha a finalidade de reduzir o trabalho humano, na preparação da terra e facilitar o transporte dos produtos e ferramentas. Para isso ele ensinava os agricultores a usar os animais nas lavouras. Para o projeto ser aprovado, Cláudio teve que treinar os bois e instruir as famílias.

O objetivo do ‘Oxen ProjectÂ’ era aumentar os rendimentos, consecutivamente as áreas de fumo e a produção de alimentos, também buscava eliminar o trabalho infantil que era comum na região. “Um dos princípios básicos, era que os agricultores não podiam maltratar os animais. Também se tínha um veterinário terceirizado, à disposição”, conta. Após três meses de treinamento intenso com os bois, divididos em cinco fases, o trabalho ocasionou uma evolução no campo, beneficiando os trabalhadores. “Tem um rapaz que morava com sua família em uma casa de palha bem pequena e simples, com o tempo sua produção foi aumentando e  construiu uma pequena casa, atualmente mora em uma grande casa de material”, exemplifica orgulhoso do seu esforço.

Sua maior dificuldade era na comunicação, ele somente tinha uma noção básica do inglês. No início, enquanto fazia algumas aulas da língua local, o Sawahili, contava com o auxílio de um tradutor. Demorou cerca de três meses para se adaptar, tanto na fala como na alimentação. “Eles costumam usar muita pimenta na comida, mas tínhamos uma cozinheira que se adequou ao nosso gosto”, conta. A comida básica, como arroz, feijão e trigo, era muito barata. “Eles são um povo fantástico e muito educado. Não mediam esforços para nos ajudar, até pensavam que por sermos brancos, eramos mais inteligente”, lembra.

“Qualidade de vida muito baixa”, enfatiza. Os cuidados com a saúde eram precários, Cláudio conta que os hospitais eram ‘sujosÂ’ e muitas pessoas eram atendidas no corredor. Ressalta que malária, tifo e aids, são doenças comuns no continente. Ele adquiriu várias vezes a malária, inclusive chegou a ficar em coma e para se tratar foi transferido para um hospital da Africa do sul.

Saudade, é a palavra que Cláudio descreve para os  dez anos em que trabalhou, efetivamente na cidade de Tabora, pois a sua família continuou em Venâncio Aires. Entre as viagens para as visitas, suas filhas, Vanessa e Elizabeth, com sua mulher, Mariane, chegaram a conhecer a áfrica, e ele conseguiu voltar algumas vezes para o município, entretanto não lhe eram suficientes. “Mesmo tendo consciência que a gente ‘perdeuÂ’ muitos momentos juntos, sempre soube que ele estava lá por nós, pelo futuro da nossa família”, fala Elizabeth Marta Fischer, filha mais nova.

Elizabeth visitou o pai quando tinha 10 anos. Lembra que quando chegou em Tabora ficou assustada, pois além do avião ser antigo, o aeroporto era de chão batido. Logo estranhou o idioma. Porém, o que mais lhe marcou foi a pobreza e as condições precárias de sobrevivência. “Fomos em muitas cidades pequenas onde meu pai trabalhava, nelas a pobreza era muito grande”, lembra. Ela aproveitou a estadia no país para fazer passeios turísticos. “Visitamos um parque de animais selvagens chamado Mikumi. Vimos elefantes, impalas, hienas, girafas e outros animais, todos soltos e nós ‘corajososÂ’ dentro do carro”, brinca. Durante as viagens, muitas coisas lhe chamaram a atenção. “As vezes nos deparávamos com macacos tanto em estradas de chão quanto em estradas asfaltadas. Lembro de ver as crianças indo pra aula, o material delas era guardado em uma pequena sacola, iguais as que ganhamos em supermercado e quando passávamos na frente das escolas não foram poucas as vezes, que vimos crianças capinando ao arredor da escola”, conta.

A filha que visitou o pai, na época, conta que não gostou de ter viajado para a áfrica. “Haviam muitas coisas do dia a dia que se tornavam difíceis”. Lembra que para dormir precisavam usar ‘mosquiteirosÂ’ na cama, e ter cuidado para não encostar nas laterais, por causa do mosquito da malária. “Para tomar banho eu tinha que usar água mineral, pois tinha alergia à água corrente”, lembra. Ressalta que chocolates, chicletes, sorvete e outras guloseimas eram de difícil acesso. As frutas se tornaram suas comidas favoritas.

Elizabeth conta que os africanos tinham para com elas um tratamento diferente. “Algumas vezes eu e minha mãe estávamos dentro do carro, e os africanos chegavam perto para nos ver.” Também conta que pouco se comunicava por causa do idioma, suas tentativas de comunicação eram através de gestos ou seu pai era o tradutor.

“Hoje, acho que ter ido pra áfrica, mesmo que há quase dez anos, foi uma experiência muito importante. Aprendi a ter mais noção de mundo, pensar que existem outras realidades, e além, de mostrar que a nossa é muito boa, me fez querer conhecer ainda mais outros lugares”, conclui.

Há um ano de volta ao Brasil, Cláudio visita o país a cada três ou cinco meses, pois atualmente trabalha como consultor da Alliance One.

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