A onda de crimes que toma conta do Rio Grande do Sul e já é motivo de comparações com outros estados, está tomando proporções cada vez maiores. Na terça-feira, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, sugeriu ao governador José Ivo Sartori, a possibilidade de um pedido de ajuda à Força Nacional de Segurança.Mesmo diante da onda de assaltos e assassinatos, Sartori diz confiar no trabalho da Brigada Militar, mesmo que os salários sigam sendo parcelados. Por força de Lei, os brigadianos são impedidos de fazer greves, o que não acontece com a Polícia Civil, Instituto Geral de Perícias (IGP) e agentes da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e demais servidores públicos.Levado pelos problemas verificados nos últimos dias no Estado, no fim de semana passado, em uma rede social, o governador Flávio Dino (PC do B) do Maranhão, zoou com a atual situação do RS. Em uma das colocações, disse que vai zelar para que o Maranhão não se transforme no Rio Grande do Sul.Em síntese, se referia a situação econômica do Estado. Mas a falta de segurança, ocasionada pelos parcelamentos dos salários dos servidores públicos, também é notícia frequente nos noticiários nacionais. Hoje, o contingente da BM é menor do que há 35 anos, quando a população do Estado era cerca de 40% menor. Na Polícia Civil, o número de servidores também vem diminuindo.Estudo apresentado em agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a BM tem 20.405 servidores, média de um brigadiano para cada 547 pessoas. O efetivo previsto é de 37 mil servidores. No início dos anos de 1980, a média era de 21.800 brigadianos no RS. No Distrito Federal, por exemplo, a média atual é de um PM para cada 194 cidadãos.Na Polícia Civil são 5.540 servidores, média de um para cada 2.015 habitantes. Para se ter um exemplo do déficit, na Delegacia de Polícia de Venâncio Aires o efetivo não atinge nem a metade do previsto. E esta situação se arrasta há anos.
DESNECESSáRIOOntem, em entrevista à rádio Gaúcha, o professor Rodrigo de Azevedo, integrante do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da PUC-RS, disse que em primeiro lugar, é necessário solucionar os problemas financeiros do Estado. Ele referiu que não sabe como isso deve ser feito, mas observou que é preciso estruturar melhor a segurança pública, valorizando seus servidores.Sobre a intervenção da Força Nacional, foi enfático: “Isso é como colocar um Ban-aid para curar uma doença bem mais grave”. O professor grifou que o Estado vive um colapso na segurança pública.O ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, considera desnecessária o auxílio da Força Nacional, diante do atual cenário no RS. “A Força mandaria cerca de 200 homens, o que não significa absolutamente nada diante do contingente que já está aí.”Ele cita que a intervenção só é necessária em casos como o verificado no ano passado, em Santa Catarina, onde se registrou uma onda de saques, crimes e vandalismo em massa. Silva Filho refere que, nesta situação, a Força Nacional teria ação limitada, já que ela é acionada para dar apoio ao policiamento ostensivo.
NEM PALEATIVAPara o delegado Vinícius Lourenço de Assunção, convocar a Força Nacional é uma medida que nem se pode considerar ser paleativa. “Eles não teriam condições de cobrir nem parte do Estado”, observou o titular da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento.O capitão Rafael Tiarajú de Oliveira entende que não é preciso e Força Nacional. “O que precisamos é a valorização dos policiais e os meios suficientes para eles trabalharem”, mencionou.