Foto: Volnei Corrêa / DivulgaçãoMuitas estruturas são construídas e acabam prejudicando o arroio causando áreas de assoreamento
Muitas estruturas são construídas e acabam prejudicando o arroio causando áreas de assoreamento

Venâncio Aires é o segundo município do Rio Grande do Sul e o 38º no Brasil a criar um fundo para proteger as margens do seu principal arroio. Uma iniciativa nobre, mas também, necessária, afinal, é o Arroio Castelhano que garante o abastecimento de, praticamente, toda a população urbana. Basta uma visita ‘in loco’ para conferir a realidade e a urgência por medidas de preservação e recuperação.

Senti o esforço do Arroio em continuar sua trajetória, apesar dos obstáculos colocados pelo homem, do assoreamento de suas margens, do lixo jogado em suas águas, das tentativas de retificar seu leito, dos descaso com que o tratam” – Volnei Alves Corrêa – Presidente do Instituto Gaúcho de Sustentabilidade (IGS)

Foi o que fez o presidente do Instituto Gaúcho de Sustentabilidade (IGS), Volnei Alves Corrêa, um entusiasta e líder ambiental que abriu os olhos das lideranças de Venâncio Aires e apontou os caminhos para mudar a ‘história’ do arroio. “Fazer essa caminhada nas margens me resultou em muita dor. Não dor física, mas algo que veio de dentro, como se eu também estivesse sendo prejudicado, agredido, maltratado”. A frase de Corrêa descreve as sensações após percorrer quatro quilômetros pelas margens do arroio, poucos dias antes ter sido aprovado na Câmara de Vereadores o projeto que autoriza a criação de um fundo municipal para indenizar proprietários de terras e produtores próximos ao arroio. Com o fundo, o proprietário será remunerado e, em troca, serão construídas proteções para que a mata ciliar possa se recompor, sem afetar as margens e o leito do arroio.

O projeto criado pelo Executivo deve ser regulamentado em decreto, em breve, pelo prefeito Giovane Wickert, mas sua aprovação já possibilita que o município possa fazer o mesmo que Vera Cruz – a primeira cidade gaúcha – que cadastrou um projeto no Programa Produtor de Água, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas (ANA) e conquistou recursos públicos para salvar o Arroio Andréas. Segundo Corrêa, o projeto a ser cadastrado busca, em uma primeira etapa, captar R$ 350 mil para ações que beneficiarão um trajeto de 6,5 quilômetros do Castelhano, ou seja, 13 quilômetros de margens. “Será encaminhado o projeto para eles dentro de um edital e vamos concorrer com cinco mil Prefeituras do país”, comenta. Segundo Volnei, a elaboração do projeto foi coordenada pela Secretaria do Meio Ambiente de Venâncio Aires e o Instituto de Sustentabilidade atuou na assessoria, tanto na identificação do provável órgão financiador, neste caso, a Agência Nacional de Águas (ANA), como na elaboração do projeto baseado na experiência de Vera Cruz. “O município de Vera Cruz tem essa lei há cinco anos e a qualidade da água da cidade em cinco anos melhorou 50%”, observa.

IN LOCOA visita técnica foi realizada por Corrêa e profissionais da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) em uma região próxima à área urbana e a seis quilômetros do local que é feita a captação de água pela estatal. Segundo o presidente do IGS, durante a visita, foram encontrados itens descartados incorretamente na natureza, como recipientes de agrotóxicos. “Em síntese, somos responsáveis pelos resíduos que geramos até seu encaminhamento para o destino final, que pode ser por reúso, reciclagem ou disposição em local adequado”, esclarece, ao citar a lei que determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Além disso, também destaca que grande parte dos problemas está associada à retirada da mata ciliar nas margens do arroio. “A recuperação da mata é uma aliada para o arroio voltar ao seu formato original, pois hoje o arroio tem grandes áreas de assoreamento e isso é preocupante”, frisa. “As pessoas parecem não ter a menor consciência do mal e do que suas ações estão ocasionando ao ambiente como um todo”, complementa.Corrêa explica que se caso não for feito um cercamento para proteger o arroio, a tendência é de que piore cada vez mais a qualidade da água que se recebe. Por outro lado, as ações de proteção terão resultados diretos na saúde e bem-estar da população. O presidente do IGS avalia como “um absurdo” as pessoas tomarem uma água que, para ser potável, seja necessário colocar uma grande quantidade de produtos químicos. “Isso é errado, porque a água na sua nascente é limpa. Quem polui somos nós mesmos”, destaca.

FALA, PREFEITURA

Para o prefeito em exercício, Celso Krämer, a criação do fundo de forma emergencial é de extrema importância, pois irá refletir no tratamento e na qualidade da água consumida diariamente pelos venâncio-airenses. “Quando envolvemos a comunidade, as coisas começam a funcionar”, afirma. Ele conta que está acompanhando o trabalho que é feito pelo Instituto Gaúcho de Sustentabilidade (IGS) de forma voluntária e, acredita que, mesmo que se tenha começado tarde, ainda é possível recuperar o Castelhano.A intenção, de acordo com ele, é de também realizar um trabalho com a própria comunidade que possui terras próximas as margens do Arroio Castelhano. “Precisamos conscientizar esses moradores, porque eles são fundamentais nesse avanço”, destaca.