Amizade que vai além das quadras

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Elas possuem profissões diferentes (exceto duas delas, que são professoras), estão na faixa etária dos 53 aos 60 anos, têm personalidades distintas (algumas estão sempre fazendo graça, já outras, são mais discretas). Mas, afinal, o que este grupo de seis mulheres têm em comum? A paixão pelo voleibol. Por meio do esporte, elas se encontraram e decidiram formar um time e uma amizade para a vida. A história delas é contada para marcar o Dia do Amigo, comemorado nesta segunda-feira, 20.

As jogadoras já praticavam vôlei há aproximadamente três décadas, só que em times diferentes. Todas eram ‘conhecidas’ de um lugar e outro, mas nunca tiveram a oportunidade de conviver e fazer parte do mesmo grupo. Elas se conheceram em momentos diferentes: umas eram vizinhas, outras colegas de trabalho ou conhecidas da época de escola.

Porém, desde 2013, quando a professora Marcia Schilling Lima, 60 anos, se mudou de Rio Pardo para morar em Venâncio Aires, elas passaram a conviver mais umas com as outras. “Fazíamos parte de um grupo maior e, aos poucos, fomos formando laços mais concretos de amizade”, comenta Márcia, hoje aposentada.

Ela recorda que as atletas jogavam vôlei na mesma equipe quando tinham que substituir alguma jogadora, já que, em Venâncio Aires, vários grupos praticam esta modalidade. “Nós já jogávamos vôlei, só que, nem todas pertenciam ao mesmo grupo”, lembra a psicóloga Daniela Graef, 54 anos.

As primeiras jogadoras que formaram o time ‘oficial’ – que mais tarde iria aproximar todas elas – foram a comerciária Fátima Nagel, 60 anos e a secretária Marilena Schulz, 58 anos, conhecida como Nekinha. “Há 36 anos, jogo vôlei. Comecei a praticar o esporte no ginásio 7 de Setembro. Antes, eu e minhas amigas jogávamos em uma propriedade particular”, relembra a comerciária.

Entre uma substituição e outra, nos jogos de quarta-feira, no ginásio do 7 de Setembro, as seis mulheres foram criando afinidades. A agente penitenciária aposentada, Nara Rúbia Leites Rauber, 56 anos, e a professora Inês Lagasse Mayer, 53 anos, também integraram o grupo.

Enfim, o time estava formado: Fátima, Marilena, Daniela, Nara, Inês e Marcia (a última a fazer parte do grupo) estavam juntas para formar uma ‘grande’ equipe.

Antes de entrar em campo, elas se abraçam e conversam. Uma delas sempre lembra de levar o chimarrão para quem ficar na reserva. O time das seis mulheres se reúne todas as quartas-feiras com o restante da equipe – já que, nos jogos de vôlei, são 12 jogadoras no total. Nem sempre elas permanecem juntas na divisão dos times, mas, mesmo que estejam competindo uma com a outra, o carinho é sempre o mesmo. Algumas vezes, elas até esquecem e invadem a quadra do adversário para se abraçar.

Márcia, Fátima e Nara são as levantadoras, já as demais, atuam em qualquer posição. Quando uma erra, todas correm para o abraço, com o objetivo de desejar força, já quando fazem ponto, elas vibram e fazem o mesmo. O suporte dentro da quadra também ocorre no dia a dia, porque todas elas sabem que podem contar sempre uma com a outra. “Além do vôlei, nosso vínculo se mantém o ano inteiro. A amizade se tornou uma relação de cuidado, carinho e proteção”, explica Dani. Nara acrescenta que todas se conhecem bem e já sabem os gostos uma da outra. “Nos nossos jogos tem muita diversão, a gente se ajuda, torce uma pela outra e se completa”, avalia Inês.

A amizade se tornou cada vez mais intensa e, em 2016, elas criaram o grupo no WhatsApp ‘As Saradas’, com o propósito de levar esta amizade para além das quadras.

Happy Hour

O time entra em quadra todas as quartas-feiras, no ginásio do Colégio Bom Jesus. Só que, antes do vôlei, elas cumprem um ritual. Todas se encontram para tomar chimarrão e colocar as conversas em dia. Enquanto isso, os maridos das cinco jogadoras já assumem a cozinha, para o jantar depois do jogo. “Fizemos um happy hour todas as quartas-feiras. Neste dia, o cardápio é de responsabilidade dos homens”, afirma Marcia, salientando que o jantar ocorre cada dia na casa de uma jogadora e que, os filhos e netos também participam dos encontros.

De acordo com Inês, os jantares se tornaram uma extensão dos momentos vividos em quadra e deixam o grupo ainda mais fortalecido. “Durante o jantar sempre fizemos um brinde entre as mulheres e jogamos canastra em grupo”, complementa Marcia. Atualmente, os jogos e os jantares estão suspensos devido à pandemia.

“Quando chegamos em uma certa idade, nós escolhemos com quem queremos envelhecer.”

DANIELA GRAEF – Psicóloga

Mais que um time, uma família

Com a convivência, elas formaram vínculos de amizade ainda mais fortes, que ultrapassaram o vôlei. Atualmente, elas compartilham vários momentos especiais em família, assim como, casamentos dos filhos, formaturas, chás de fralda dos netos, viagens e outras aventuras.

A ligação entre elas é tão positiva que, entre 2018 e 2019, quatro das amigas ficaram avós: Dani, Marcia, Nara e Fátima, e puderam compartilhar juntas esta experiência.

Duas das amigas já viajaram juntas para o exterior mas, quando estão reunidas, o lugar é o que menos importa, até as pescarias no rio são especiais. “Tudo que a gente faz junto é bom”, complementa Dani.

Das viagens que fizeram, uma das mais marcantes foi a comemoração do aniversário de Marcia e Inês, na praia de Capão da Canoa, em 2017. Quatro delas já estavam reunidas, menos Nara e Nekinha. “Meu marido era caminhoneiro e fez uma mudança para lá, então, pegamos carona com ele de caminhão”, conta Nara.

Nekinha, estava tão empolgada com a viagem que não conseguiu manter a surpresa que fariam às amigas. “A viagem foi muito divertida. Se não encontrássemos lugar para dormir, íamos passar a noite ali mesmo [na cabine]”, afirma Nekinha.

Uma vez ao ano, as seis amigas viajam juntas (só as mulheres) para Piratuba. “Teve uma vez que achamos uma cancha de areia nos fundos do hotel e pedimos para a recreacionista para jogar vôlei. Até ela entrou na brincadeira conosco”, recorda Fátima.

Dyamantina, ao centro, acompanha a equipe desde o início, por isso, é considerada a 'técnica' do time. (Foto: Arquivo pessoal)
Dyamantina, ao centro, acompanha a equipe desde o início, por isso, é considerada a ‘técnica’ do time. (Foto: Arquivo pessoal)

Os campeonatos

  • Além dos jogos das quartas-feiras, o time das ‘saradas’ também participa de campeonatos municipais e regionais. “Já jogamos em Santo Antônio, Palanque Pequeno, Mato Leitão, entre outros lugares”, destaca Nara. Entre 2012 e 2013, as jogadoras conquistaram o primeiro lugar no Campeonato dos Veteranos, em Mato Leitão.
  • Naquela época, a professora aposentada Dyamantina Odilia Leites (mãe de Nara), hoje com 84 anos, levava a equipe de Kombi para os torneios. Além de motorista, ela também assumia o papel do técnica do time. “Ela sempre chamava a atenção da equipe e dizia: tem que se mexer mais. Por que você não vai na bola?”, recorda Nara.
  • Antes da pandemia, quando os jogos de quarta-feira ocorriam no Colégio Bom Jesus, ela sempre ia assistir à equipe, no inverno e verão. “Nos dias mais frios, Dyamantina levava o cobertor para se aquecer durante as duas horas de jogo”, afirma Nekinha.
  • Segundo Dani, os jogos de vôlei fortalecem o grupo e a amizade. “É no convívio que a gente delimita as diferenças e conserva a identidade de cada uma. No grupo, nossa amizade é fortalecida e temos a liberdade de agir como realmente somos. Todo mundo se aceita e se respeita”, observa.
  • É dentro da quadra que elas esquecem do mundo, descontraem e se divertem. “Posso estar cansada em casa mas, quando vou para o vôlei, muda tudo. O jogo é um remédio”, afirma Fátima.
  • “Enquanto tivermos saúde, disposição e capacidade física, estaremos sempre prontas para entrar em quadra”, finaliza Dani. Mas, de uma coisa todas elas têm certeza, de que a amizade do time será para toda a vida.

Impressão do repórter

Conheci este time há aproximadamente três anos, quando fui indicada a substituir uma integrante do grupo. Mesmo sem saber jogar tão bem quanto elas, me senti ‘adotada’ por toda a equipe de atletas. Com elas, aprendi que o vôlei não é apenas uma competição, em que apenas os ‘bons’ jogadores estão em destaque. Pelo contrário, dentro da quadra, tive um suporte, uma motivação e senti uma troca de energias positivas. Com todo o grupo de jogadoras, percebi que as habilidades surgem com a prática e que dividir a quadra com uma equipe do bem, vale mais do que qualquer medalha.

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